“Muié”! Acorda! O galo não canta mais...Morreu! Caiu do “pulêro”!
Cadê minha “zapragatas”
Coloca em meu pé
Meu pé está doente, está inchado e quente!...
Inocente estava Maria...
Não sabia o que estava para acontecer!
Pega as cangaias, as “traias”, e o chapéu de “páia”. Junta tudo isso! Pra já
“Muié” cadê o jumento os meninos?
Severino, Severina vem cá!
Já vou pai! Respondeu Severina...
Severino! Severino! Cadê você “fio”?
“Adonde” tu ta?
Coitadinho deitado, se esticando
Contorcendo-se de fome
A dor no seu abdome era demais
Jamais poderia matar tal fome
Cadê meus cachorros?
Rompe-Ferro e Rompe-Fome
Coitadinho de Rompe-Ferro morreu!...
Morreu feliz, morreu rindo!
Como era lindo o coitadinho!...
Vamos embora
O sol está em pino
De rabo, nem o galo, se fosse vivo
De saia, só você, porque é “muié”
Tem fé meus amores
O bicho papão da fome, também morre...Maria!
Apaga pela última vez a luz do candeeiro
Dinheiro, não preciso mais
Pra comprar “gáiz” e acendê-lo...
Vamo “simbora”
Está selado nosso destino
Maria!
Pegue os pungas
E puxe o cachorro Rompe-Fome
Não há quem dome o danado
A travessia da vida é muito longa
Longa que só a estrada a estrada da vida
Vida, vida!
Vida de Severino
Vida de Severina
Vida de José ou...
Vida de Maria
Todos juntos choravam
Todos juntos sofriam
Nem um pingo d’água caía
Para matar minha sede e minha agonia
Quanta seca
Quanto lamento
Quanto sofrimento
Para um sertão sofredor
Quantas veredas
Todas secas para eu andar
Tudo era destruído pela mesma
Secou o leite, secou o rio
Secou o peito da vaca
Nem a vara tina para sustentá-la, morreu em pé... Morreu de fome!...
Meu açude também secou
Fiz o que pude
Só não pude salvar os peixinhos
E os peixinhos não queriam morrer
Para entrar na cama, o urubu,
Preferiu não comer
O urubu está zangado com o boi
Pois se o boi não morre
Ficará sem alimentação
E seu corpo caíra pelo chão
Por inanição
Meu cão Rompe-Fome
Se consome pela própria fome
Vai paixão
Vai salvação, não sabia como chamá-lo
Corre, corre, pega aquele “animá”, é um preá
Salva nossa vida
Livra nossa alimentação
Rápido feito um raio
Mas sem ação pra correr
Sem nada notar, toda retalhada
Sua pata não podia levantar/Dizia pra si mesmo...
Ta na hora de parar
Minha lida terminou
Não tenho mais show para dar
Devo parar,
Devo morrer,
Com os olhos arregalados
Todo encarnado
Dentes travados
Cai desprovidos de vida
Isto não foi vida pra cachorro
Adeus sofrimento...
Aos prantos, aos choros
Sem socorro para salvar Severino
Severino, partia deste sertão infernal, queimado pelo sol, parecia um animal
Senhor, prostrado pelo chão
Faz de tuas lágrimas
Água pra matar a sede do sertão
Pois a alegria da chuva...
É cair no chão, escorrer
Apagar toda a poeira
Todo sofrimento
Trazendo na ponta da ponteira,
No pião que roda
Na mini prosa do meu pai
A lembrança de Severino
Meu cachorro Rompe-Fome
Toda essa história se consome
No grande sertão
GRANDE SERTÃO
Poesias
Comentários