DE MÃOS DADAS

Crônicas

por Carlito Lima

Maria Lúcia acordou-se, amargo na boca, leve dor de cabeça, havia bebido na noite anterior. Procurou o controle remoto, desligou o ar condicionado. Veio-lhe a imagem de Marcelo, a tarde de amor terno, carinhoso, ao mesmo tempo selvagem. Jamais pensou ficar apaixonada por um homem bem mais velho, podia ser seu pai, além de tudo, casado. Ela não tinha algum sentimento de culpa, não importava aquela situação camuflada, pouquíssimos amigos sabiam do caso. Não tinha preconceito em amar um homem mais velho. Melhor na cama que o ex-marido. Marcelo usava a experiência, sabia mexer nos pontos sensíveis, devagar, sem pressa, ficava a explorar sua anatomia, enquanto o ex, cocaineiro, um desastre na cama, mesmo com o belo corpo jovem. Aguentou apenas dois anos de casados, sem saudade daquela época. Hoje era uma mulher livre, havia a paixão proibida, entretanto, tinha liberdade, fazia o que queria. Na véspera, depois da tarde de amor, Maria Lúcia descansou em casa, saiu à noite com um grupo de amigos, na balada dançou até quase amanhecer o dia.
Olhou para o relógio, 11 da manhã, levantou-se, abriu a cortina, dia ensolarado, luminosa manhã. O mar de um verde esmeralda misturava um azul turquesa em suas águas, pequenas marolas. Contemplando do alto da janela deu-lhe uma sensação de bem estar, amava sua cidade, sua praia, a vida é bela.
Na sala encontrou os pais, a irmã mais nova.
- “Lucinha querida, a noitada foi boa, sua cara de ressaca não nega.” Entregou a irmã.
- “Foi ótima, saí com as amigas, eu posso, sou adulta dona do meu nariz”.
Ficaram conversando. Quando Lucinha preparava um lanche, o celular tocou. Era Dudu. Toda mulher gostosa, solteira, gosta de um amigo homossexual, Dudu não parecia, não dava para notar, à primeira vista, sua opção no sexo.
- “Diga Duduzinho! Como está vossa excelência?”
- “Estou à toa na vida, quero saber da programação nesse belo sábado, que tal nos encontramos no Acarajé do Alagoinha?”
- “Fechado, ao meio-dia estarei no Acarajé.”
A mãe ouvindo a conversa, não perdeu oportunidade para um conselho e um puxão de orelha.
- “Lucinha, você já vai sair? Daqui a pouco fica falada, não arranja mais marido. Esse Dudu parece, não é homem, cuidado com a vida. Quero que você se divirta, mas tenha juízo.”
- “Minha mãe essa vida é curta, ou me divirto ou tenho juízo, os dois não combinam”. Deu uma gargalhada.
Faltavam 10 minutos para o meio-dia, Maria Lúcia deu partida no carro rumo ao encontro, tomou a avenida beira mar. De repente, sinal vermelho, ela freou, ficou na espera, ao olhar de lado teve um susto, seu amado Marcelo entrava num restaurante de mãos dadas com a esposa. Deu-lhe uma sensação de mal estar, acabou-se a alegria, o espírito jovem, uma depressão veio-lhe no fundo da alma. Precisou uma buzinada para acordá-la, sinal verde, acelerou o carro, mais adiante estacionou, colocou a cabeça entre as mãos encostou por cima do volante, chorou de raiva e pena de si mesma. Custou a se recuperar. Retornou à avenida.
Dudu estava sentado, camisa vermelha, bem penteado, moço bonito, elegante, copo de cerveja numa mão, acarajé na outra, ao vê-la fez sinal. Lucinha sentou-se, chorou discretamente, sua estima lá embaixo, ia tomar um porre, contou ao amigo como encontrou Marcelo.
- “Você diz não ter preconceito, aceita esse amor proibido. Faz análise, tem cabeça boa, não entendo esse choque, esse chilique ao ver Marcelo e a esposa.”
- “De mãozinhas dadas! De mãozinhas dadas não dá para aguentar!”

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