- “Você tornou-se uma consumista compulsória, tudo que você vê você quer. Hoje, um carro japonês, semana passada, aqueles brincos de esmeralda, maior vaidade, você só pensa em luxo e riqueza.”
Reclamava Sérgio à esposa em tom ameno, paternal, como se estivesse ensinando alguma lição caseira. Estavam casados há pouco tempo. Serjão sentiu um carinho especial por Maria das Graças desde o dia em que ela bateu à porta do escritório recomendada pelo deputado amigo. Não era excelente funcionária, entretanto, sua beleza, sensualidade e doçura encantaram o chefe. Com três meses de emprego eles já se uniam corpo a corpo. Sérgio, 68 anos, comanda a construtora, fiel à mercadologia do Planalto, sabe percorrer os tapetes de Brasília em busca de obras. Rico, bem de vida, sócio laranja do deputado.
Contudo, as coisas no início não foram fáceis. Ao se formar abriu a construtora, trabalhar para si, sem patrão, era o sonho. Emília, primeira esposa, deu-lhe ajuda na organização da empresa, deu-lhe apoio, carinho, e dois filhos. Cozinhava, lavava e de manhã cedo lhe acordava na hora de ir trabalhar. Foi o sustentáculo da família por muitos anos. Nada valeu quando o marido se engraçou e trocou Emília por uma menina, 28 anos, Maria das Graças.
Estavam conversando na varanda do edifício em frente à praia. Graça cheia de vida, alegria e astúcia, sabia levar o marido.
- “Meu querido sou mulher gostosa e bonita. Você mesmo pede que me arrume nas festas, faço sucesso nos salões. Detesto cozinha, entretanto, na cama você é a melhor testemunha, sabe perfeitamente que jamais arranjará outra igual, mereço seus presentes. Se está com saudade daquela mulher sem vaidade, que preparava seu café na hora de trabalhar, volte para ela.”
Sérgio tinha um encantamento pela menina, não contrariava a esposa, achava-a infantil, porém, dava tudo que ela pedia, inconsciente compensação da idade, da libido minguando.
- “Não quero voltar ao passado. É que você faz tanta exigência, não sabe o que é consciência, nem vê que não sou mais rapaz. Ainda trabalho duro para manter o conforto de nosso apartamento de nossa casa de praia. Para mim, mulher só existe uma, sem você eu não vivo em paz.” Abriu-se num sorriso.
Graça levantou-se, dirigiu-se à cadeira onde Sérgio estava sentado, abaixou-se, deu-lhe um beijo no pescoço, o decote generoso mostrou a beleza do corpo. O marido se excitou. Ela sentou-se no colo, respondeu cochichando ao seu ouvido
- “Posso ser gastadeira, entretanto, sempre lhe honrei, oportunidade de trair já tive nesses dois anos de casados, muitas cantadas recebi. Nunca reclamei de nossa diferença de idade. Quando você tenta e às vezes não consegue comer, lhe vejo contrariado, eu consolo, o que há de fazer? Depois com carícias e prazer faço tudo acontecer, com toda vaidade, eu sou mulher de verdade.”
Sérgio segurou-a firme, procurou seus lábios, num beijo prolongado se abraçaram se enlaçaram na cadeira. A Lua refletindo no mar e os carinhos da amada deram-lhe sensação de poder, confiança e segurança. Levantou-a pelos braços até a cama. Amaram-se com toda competência, graça e maestria da menina, sábia, nascida para amar.
Ao terminarem, deitados contemplando o teto do quarto, Graça, às gargalhadas, comunicou ao marido.
-“Tenho uma surpresa, comprei meu presente do Dia Internacional das Mulheres, duas passagens para Nova York, lua de mel na semana santa. Preciso fazer umas comprinhas, renovar meu guarda-roupa.”
Sérgio sorriu, recebeu um cheiro, dormiu.
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