A FAZENDA DO BOI SOLTO

Crônicas

José de Melo Carvalho

O nome: nunca procurei saber a origem. Dá a idéia, a meu ver, de um solitário a vagar sem compromisso, com toda a liberdade e pujança. Livre das correntes, dos grilhões, das peias, dos cercados, das masmorras. Forte e poderoso, tem a sua vida livre a vagar pelos campos entre as serras, baixios, campinas e matas, a contemplar a imensidão terrena, as nuvens azuis do céu infinito. Olhar firme no horizonte, acompanhando o sol se por ou o nascer de um novo dia.

Nas noites enluaradas contempla a beleza das estrelas e o coração pulsa na lembrança da querida e preciosa eterna namorada. A lua parece, com o seu brilho, querer ter ciúmes do eterno apaixonado e algumas vezes se esconde entre as nuvens escuras tentado, assim, disfarçar o seu ciúme. O vento batendo forte no seu rosto, procura roubar a cena, pensando ele, ser momento de tristeza, querendo, somente, por fim a solidão.

Estava enganado, era de alegria o momento fantasioso. Vento forte, sopra do nordeste ou vem do sul. Tem também o terral que sopra para o mar. Os galhos do juazeiro e da craibeira reclamam e as folhas se alegram com o balançar. A chuva começa a cair suavemente, com se estivesse chorando de alegria naquele momento maravilhoso.

O galo de campina açoita maravilhosamente saudando o grande guerreiro livre. Contemplando dia, corre o borrego e a galinha, vem o cachorro olhar se algo está errado. O pinto pia Tudo isso é fruto da nossa imaginação. Será mesmo?

A fazenda do Boi Solto, palco de muitas festas que alegravam a todos os amigos mais íntimos, ainda existe literalmente no município de Santana do Ipanema, não mais pertencendo ao nobre amigo e irmão maçom José Pereira Monteiro, ou simplesmente Zé Monteiro.

A máquina do tempo muita apressada, não consegue apagar da mente dele, nem da nossa as lembranças do passado. Como li todos os livros até agora lançados pelo nobre poeta amigo, estou tentando aprender a fazer versos e assim relatar alguns fatos ocorridos naquela bela fazenda.


A fazenda era uma beleza
Tinha de tudo o que pensar
Cada lembrança uma tristeza
Caju e cana pra topar
Tinha pinga boa de litro
De garrafa e de tonel
Zé Monteiro o Ministro
Chamava pra beber o mel


Dema pegou um mandim
Magna preparou logo o pirão
Convidado Monteiro assim
Para a nobre refeição.
Na residência do Carvalho
É noite de animação
A bebida e o baralho
Fazia da festa um festão

No sábado as onze do dia
Vimnha a turma da cachaça
O caldinho já escorria
D. Laura um guiné traça

O gato João bala esperando
Que caia no chão comida
O boi taboleiro mugia
No curral ao meio dia

Amaro com Agapito chegava
No fusca cheio de brilho
Trazia Zé Malta que mastigava
E o amigo velho Abílio

Zé Carça Preta só chegava
Depois das duas da tarde
Tinha que fechar a casa
Seu negócio do mercado

Ria somente de uma lado
Quando estava prestes a bater
Zé Malta puto intrigado
Zé Monteiro a descrever

Dr. Clodolfo cochilava
Na hora de sua vez
Enquanto um outro falava
Mané do Bode talvez

Se falava em Nezinho Cachorro
Da Bastiana e do Sapo Conrado
Medeirinho na rede ouvia o touro
Urrando no curral do lado

O Cachorro buscapé
Latia perto do buraco
O tiro certeiro de Pepé
Matava a cobra no caco

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