Uma professora substituta chega à sala de aula pela primeira vez e se depara com uma turma de 1ª série excluindo um coleguinha de cor negra, sujo, mal vestido, cabelos compridos e despenteados. O próprio menino sentindo-se rejeitado excluía-se ainda mais. Não saía na hora do intervalo, ficava o tempo inteiro sentado em sua carteira, calado, isolado.
A professorinha percebendo a situação convidou o menino para conversar, após ficar sozinha na sala com ele. Perguntou-lhe com quem morava. Ele falou que morava com sua avó, que era cega. Então, a professora combinou que todos os dias ia trazer-lhe um lanche e depois iria levá-lo para brincar na hora do recreio.
No dia seguinte, trouxe-lhe o lanche, uma roupa e um tênis do seu filho, que era quase da mesma idade; deu-lhe dinheiro para cortar os cabelos, pediu-lhe que cortasse as unhas e tomasse um banho. No outro dia, chega o menino na sala bem arrumado, cabelos bem cortados, limpo e elegante. A turma percebendo a diferença foi logo alertando a professora: - tia, parece que o negro roubou! Ele até que está bonito! A docente conversou com as crianças explicando que o menino não roubou nada e que, julgar pelas aparências é errado.
Em silêncio, a nova educadora cuidou daquele menino o resto do ano letivo. No ano seguinte, preocupou-se então, pois sabia que a criança iria estudar a 2ª série com outra professora; então pediu a diretora para acompanhar sua turma até a 4ª série. Como justificativa falou da necessidade de dar continuidade ao trabalho que fez, acompanhando todo o processo de alfabetização de seus alunos. A diretora aceitou e assim, ela pode cuidar daquele menino carente de afeto e de atenção.
Após a 4ª série, não teve mais notícia daquele menino. Certo dia, muitos anos depois, bate a sua porta um jovem policial, alto forte, fardado, muito elegante e bonito. Perguntou: - é aqui que mora a professora Hilda? E ela respondeu: - sim, sou eu. O jovem deu-lhe um grande abraço e disse: - sou eu, aquele menino a quem a senhora tanto ajudou. Hoje, agradeço o que sou a sua valiosa colaboração no tempo em que eu mais precisava.
Não podia ser a salvadora do mundo; não podia cuidar de todas as crianças da escola ou de sua turma; mas soube fazer a diferença. Educou e ensinou a todas as crianças da sala por igual, mas soube socorrer aquele que apresentou maior deficiência, maior carência, dando um pouquinho do seu amor e da sua proteção.
Mais do que ensinar a ler e a escrever, é preciso sentir o outro, percebê-lo como gente; ouvir os seus gritos silenciosos que ecoam apenas em sua alma. Mais que avaliar o conhecimento do aluno, os saberes adquiridos; é preciso avaliar suas carências, ensinar o amor e fazer a diferença.
*Uma história real de uma professora de Santana do Ipanema
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