QUANDO EU NÃO SENTIR MAIS SAUDADE

Poemas

Remi Bastos

Dedico este poema ao meu Amigo Manoel Félix, o nosso Barata.

Depois que passar a tempestade e a bonança cair sobre mim como um orvalho de ternura; depois que eu perceber que a luz no horizonte perdeu parte do seu brilho e o amanhã tonar-se um acontecimento lento e duvidoso, aí eu procurarei no lago do meu interior uma saída que me faça conduzir ao clarão da vida. Quando eu não puder mais distinguir o espinho da rosa e não pressentir que o abismo está a minha frente; quando eu não ouvir mais os cantos dos pássaros enaltecendo o dia em sua plenitude de primavera e não poder contemplar o desabrochar da flor trazendo em suas pétalas a fragrância da felicidade. Depois que tudo isso passar, mesmo em minha solidão, distante dos amigos e das ruas por onde andei, lembrarei das pegadas que deixei ao longo do meu caminho e que foram apagadas pelo vento da tarde. Quando eu não conseguir mais ir à pracinha, vê os bancos em que tanto me sentei e bati papo com os amigos; não ver o carrinho do vendedor de pipocas nem ouvir o grito do pãozeiro e do cavaquinho chinês nas tardes silenciosas do meu bairro; não escutar o repicar dos sinos da matriz assinalando a hora da Ave Maria e o choro das águas do meu rio deslizando sobre as rochas ao entardecer. Somente quando eu não conseguir mais lembrar de mim e esquecer que a vida não termina com a morte, que o dia seguinte sempre virá em cada amanhecer e com ele os vôos dos colibris osculando as rosas da mocidade. Então, em meu derradeiro momento com o coração vedado pela dor e o sofrimento, tendo as lágrimas como meu último refrigério direi, “quando eu não sentir mais saudade”.

Aracaju, 02/08/2012.

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