MEMÓRIAS DE UM O FOLIÃO

Crônicas

Remi Bastos

“No início eram apenas alguns caretas “macabufas” com seus reios estralejantes, trajando saias ou calças que percorriam as ruas de Santana extravasando os seus carnavais. A meninada achava graça, embora tivesse medo daquelas fantasias rudes, porém, puras em suas originalidades. Algumas máscaras eram confeccionadas com o barro de louça inspiradas em cabeças de leões, de bestas com chifres ou figuras estranhas. Não importava o estilo trabalhado manualmente, o mais importante é que os caretas saíssem às ruas fazendo os seus carnavais e animando a todos. Tempos depois os caretas sumiram com suas máscaras improvisadas no barro, e em seu lugar vieram os disfarces sofisticados, a exemplo das máscaras de papelão ou borrachas, coloridas, representando com mais detalhes monstros, vampiros ou figuras humanas. E, um dos caretas que conseguiu sobreviver a esta mudança brusca e radical dos foliões primitivos em nossa cidade, foi Nozinho Falcão, o grande carnavalesco. Santana ainda vivia os carnavais sem violências, ao som das marchinhas e sambas da época, muitas delas criadas por diversos blocos de ruas, como, O Bloco do Urso (Mas como foi , mas como é, o Urso Preto veio na arca de Noé) e o Bloco do Bacalhau de Seu Carola (Olhe o Bacalhau para nós é um colosso, com azeite ou com vinagre, salgado ou insosso). A tarde se completava com os carros desfilando pelas ruas de Santana, no percurso de ida e volta do Bairro do Monumento ao Bairro Camoxinga num verdadeiro corso com a participação em massa do povo. No entanto, a figura central dos carnavais de Santana era Nozinho Falcão, onde todos os anos saia às ruas durante o tríduo momesco com sua famosa e inseparável máscara com cara de macaco tolo, esbanjando uma ingenuidade pura própria do folião. Era o careta solitário, quase sempre visto em seu traje típico desfilando pelas ruas da cidade em passadas e gestos lentos imitando um macaco, e facilmente reconhecido pela repetitividade de sua fantasia. Certa vez Nozinho Falcão teve sua querida máscara destruída, mesmo assim, não se rendeu a separação, outras improvisações ele criou, como esta da foto, mas, na sua ingenuidade de folião, continuou brincando o seu carnaval sem cobrar a taxa da maldade e da violência. As marchinhas carnavalescas emudeceram, e o seu silêncio fez calar também os reios dos caretas. Nozinho Falcão foi um folião que brincou no ritmo do carinho até o dia em que seu coração parou de bater.

Nota: Pelo respeito, amizade e consideração que sempre tive pela família de Seu Nozinho Falcão, tomo a liberdade de tratá-lo nesta crônica por Nozinho Falcão.

Aracaju/Se, 25/06/2012

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