A NOITE É NOSSA.

Crônicas

Professor Marcello Fausto

Hoje a noite é nossa e de mais ninguém !
De um só sôpro apagamos a luz do bairro !
Até os vaga-lumes que tinham convites, embaciaram!
Agora só como testemunha de nossa cópula, a inóspita lua.
Sem a vergonha que tínhamos em demasia,
mandamos embora, para junto do ocaso.
Somente a cumplicidade nos resta!
Nossos corpos já cheiram a ambrósia!
O pólen de nossas entranhas já incensa os quatro cantos de nosso ninho.
Transpiramo-nos, como se fôssemos viajantes do deserto em busca de um tesouro no meio das dunas!
Nossas bocas já secas, poucas palavras proferimos!
O tempo já não nos deixar dialogar,
Temos muito medo que é sol nos veja!
Mesmo que a noite nos guarde, o arrebol conspira com os poucos objetos que se encontram em nosso quarto.
Emparedados numa guerra de suor e saliva,
encaixamo-nos como se fôssemos figuras geométricas de um brinquedo infantil.
A temperatura dos nossos abdomes sobe numa inconstante volúpia.
Acontece o inesperado, o prazer que sentimos é tão grande, que nos faz insanos,
até o ponto de imploramos que nossas almas saiam de nossos corpos para apagar a luz da lua.
Já não queremos mais cúmplices, não queremos mais o não permitido.
Rolamos na cama com nossas bocas coladas, quase morremos sufocados!
transcedentados ,caímos no chão como asteróides que rompem atmosfera e caem na superfície terrestre.
Entre gemidos e sussurros, somente um vocábulo sobressai no meio da luta, num mesmo tom, no mesmo instante e na mesma afinação de um coral de ópera: eu te amo!
Estamos chegando perto do fim!
A noite que era longa já quer ir embora!
Por fim, a nossa guerra acaba ,nossos corpos já estão em paz e felizes de tanto amor !
Entre os mortos e exaustos, estávamos nós, estendidos no chão num quarto quase vazio, já vestidos e recebendo os primeiros raios do dia.

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