Sempre que vou a Santana faço questão de realizar visitas intermitentes à chácara do nosso amigo e irmão Quidinho. Às vezes chego de surpresa na calada da manhã em companhia de Menininho (Brito). Passamos em frente ao Bar de Erasmo e logo em seguida as ruínas do velho Fomento Agrícola inerte sobre o antigo calçadão. À medida que prosseguíamos em nossa caminhada íamos descortinando os mistérios escondidos naquele cenário tão cheio de recordações. A casa de Seu Pimpim, a igrejinha, a Escolinha do Bacurau, Seu Francelino e sua família, o velho benzedor o qual certa vez o procurei para rezar contra “espinhela caída”. Ah Rua São Pedro tão cheia de histórias! A balaustrada que existia dividindo a parte alta da parte baixa da rua e que servia de mirante com vista para o Rio Ipanema; a festa de São Pedro em sua simplicidade despertada pelos estampidos dos foguetes anunciando o final da missa. Tudo isso são cenas projetadas na tela dos nossos pensamentos e que comentamos saudosamente durante o nosso trajeto rumo à chácara de Quidinho. Estamos nos aproximando do Povoado Maniçoba, a porta de entrada para Santana no início da nossa civilização Ribeirinha. Algumas pedras surgem no caminho estreito e sinuoso onde somente um carro tem passagem livre. Mais adiante um bar típico da situação incita as nossas papilas gustativas biritais com músicas totalmente brega, é um barato.
Finalmente estamos diante da chácara do amigo. Um portão de madeira de aproximadamente dois metros de largura nos separa da sala de visitas situada no alpendre. Chamamos pelo seu nome --- “Quidiiiinnnho” e logo um preto de meia idade nos recebeu. --- Quidinho está? E sem nos conhecer respondeu afirmativamente. Já estamos no interior da casa. Fruteiras tais como acerola, carambola, imbu cajá, limoeiro e um ou dois coqueiros ainda com os frutos em estado de formação. Brito você não percebeu que o Quidinho plantou aqui na chácara apenas fruteiras tira gosto? E o velho Brito num gesto positivo com a cabeça selou o veredicto. Subimos os degraus da casa, passamos por baixo de uma rede armada na varanda, certamente para confortar bêbado extasiados. Quem já se encontrava no recinto? O velho Mindinho, o Pordinho da Maravilha que nos recepcionou naquele seu jeito simples de agradar. Chamamos outra vez ---- Quidinho, e uma voz lá de dentro respondeu, estou aqui preparando uma carninha com arroz, podem entrar, a cachaça está na mesa e Mindinho também, ou se quiserem posso mandar apanhar uma cervejinha pra gente. E fomos ao seu encontro que nos recebeu com a maior satisfação. Vamos lá para a mesa, a comida já está pronta, ao que respondi, Quidinho deixe a comida pra depois, agora o que nos interessa é a “ marvada”.
O nosso anfitrião logo trouxe os copos, dois latões, algumas acerolas e limões, e foi aí que iniciamos mais uma brincadeira que certamnte ficaria marcada no álbum de nossas recordações. Eis que de repente chega o HB e a recepção não muda de calibre, é sempre a mesma. O Pordinho já havia detonado quatro latões da famigerada Pitu, entramos abaixadinhos. De repente Quidinho pega o violão e assoletra os seus repertórios como nós gostamos. Entramos pela tarde a dentro, entre uma canção e outra um latão morria. HB inverteu o nome dizendo que era BH, foi quando o Brito retrucou num comentário rápido: BH significa “Bellu’s Hotel”. Cabra bom, queria ter um filho desse. O velho Bodega se recolheu a dita rede, enquanto eu, Brito e HB agradecemos pela acolhida e que amanhã estaremos aqui de novo. E aquela risada típica de Quidinho era uma confirmação de que tudo estava certo. São momentos como esse que me faz amar cada vez mais a minha terra e os amigos com quem me relaciono num verdadeiro laço de amizade. Obrigado Quidinho.
Aracaju/SE, 27/01/2011.
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