O CASAMENTO DO FILHO DE DONA AMÂNCIA

Poesias

Fábio Campos

Conheci uma garota
Numa noite de Natal
O nome dela é Nilda
E o meu é Dorival

Lembro ainda do vestido
Com o decote canoa
Vermelho de pregas e rodado
Quando vi fiquei a toa

Feito por Dona Zezé
Muito bem acinturado
Parecia uma princesa
Vinda d’um reino encantado

Eu com meu terno branquinho
De um brim sanforizado
Pois eu era alfaiate
Nele tinha caprichado

Ela é pernambucana
Da cidade de Brejão
Quando a vi fiquei doidinho
Pulsou forte o coração

Isso já faz muito tempo
O ano foi cinqüenta e oito
Eu ainda era um garoto
Porém já um tanto afoito

Quando foi apresentado
A essa linda donzela
Eu disse com meus botões
Tenho que ficar com ela

Tive algumas namoradas
Mas, logo fui esquecendo
Porque eu notei que ela
Também estava querendo

Nunca mais tive sossego
Pois eu só pensava nela
E toda vez que eu passava
Ela estava na janela

Começaram os recadinhos
E encontros arrumados
Quando pensamos que não
Estávamos já entrosados

Seu Jaime um pai valente
Quis logo me amedrontar
Eu fui logo dizendo pra ela
Minha intenção é casar

Levei ela a um circo
E lá eu lhe dei um cheiro
A danada de nervoso
Quase caiu do poleiro

Me disse, toma cuidado
Meu pai não é brincadeira
Pois você diga pra ele
Que não vou fazer besteira

Já fui tomando chegada
Demonstrando o que queria
Quando ganhei confiança
Aí foi só alegria

Tinha doce de mamão
Que Dona Zezé fazia
Eu não gostava do doce
Mas comia de bacia

O amor foi aumentando
Pelos ossos se entranhando
Eu disse: Tem jeito não...
Vou terminar é casando

Aí veio o grande dia
De ter que pedir a mão
Tremi tanto na cadeira
Que ficou riscando o chão

Então eu disse: Seu Jaime,
Já sabe o que estou querendo?
Ele disse: Mais ou menos,
Eu já estou entendendo...

Seu Jaime disse: Ô Zezé
Nossa filha vá chamar,
Eu quero que ela mesma
Venha cá pra confirmar...

Então aparece a noiva
Com a face amarelada
Mais foi logo confirmando:
Eu já estou preparada!

E tu, Zezé vai dizendo
O que acha do rapaz?
Hôme, termina logo,
Que pra mim ta bom demais.

Começou a grande luta
Pra gente se arrumar
Com dinheiro bem pouquinho
Era difícil comprar.

Eu comprava umas coisinhas
E corria pra mostrar
Ela bordava uns paninhos
E vinha comemorar.

Minha mãe disse: Meu fio
Eu não sei como é que é
Pois tu não tem condições
De sustentar a mulé.

O meu pai disse: Amância
Deixa o menino casar,
Porque depois de casado
Ele tem que se virar.

E por falar em meu pai,
O Senhor Tomaz Doroteu,
Só reconheci seu valor
Depois que ele morreu.

No primeiro de Janeiro
Do ano sessenta e um
Foi o nosso casamento
Não foi um dia comum.

Celebrou-se o casamento
Na paróquia de Sant’Anna
E foi com o Padre Cirilo
Eita padinho bacana!

Não houve muita festança
Mas tinha muita alegria
Pois que chegasse esse dia
Era tudo que eu queria.

Agora vamos falar sério
Porque a coisa mudou
Passamos a viver a dois
Entre discórdia e amor.

Os filhos vieram logo
Pra nossa satisfação
Cada vez que vinha um
Era aquela emoção.

Chegaram Silvana e Sandra
Silvaneide e Juninho
Completando a galera
Vem Lucinha e Adilsinho.

Deu trabalho mais valeu
Cuidar dessa criançada
Porém vou dar só um toque
Do monte de palhaçada.

Alguns foram passear
Com uns cavalos alheios
Quando foi no outro dia
Tive que pagar os arreios.

Um dia faltou farinha
Mandamos elas buscar
E nós na mesa esperando
E elas? Bebendo no bar!

Já falamos das crianças
Que já são independentes
Mas nos corações dos pais
Continuam inocentes.

Nilda disse Dorival
Rapaz tu fica esperto!
Porque estes danadinhos
Nos deram foi muitos netos.

Netos a quem agora
Nós queremos abraçar
Que o bom Deus os proteja
Sempre em qualquer lugar.

Temos uma bisneta Miss
É Nicoli de quem falo
A outra não conhecemos
Porque nasceu em São Paulo.

Vamos saudar nossos genros
E nossas noras também
Adoramos vocês todos
Por serem gente do bem!

Abraços em nossas irmãs
Também em nossos sobrinhos
Pois temos por todos eles
Um grande amor e carinho.

Desejamos as pessoas
Que sempre conosco estão
Muita paz, muita saúde
E beijos no coração.

Agora vou retornar
Aquele assunto antigo
Vou falar da minha deusa
Que está sempre comigo.

Há mais de cinqüenta anos
Que estamos convivendo
Parece até brincadeira
Estamos sempre aprendendo.

Mas não é moleza não,
Andamos meio arrastados
Mas com todos os problemas
Ela sempre do meu lado.

Tento fazer tudo certinho
Mas ela sempre reclama
Porém dou os meus descontos
Porque sei que ela me ama.

Fizemos nossa fortuna
Não conseguimos juntar
Vieram os engraçadinhos
E começaram a levar.

Uns ficaram em Olho d’Água
Outros foram pra Carpina
Pra Maceió e São Paulo
Mas, são todos gente fina.

De quando em vez nos juntamos
Pra jogar conversa fora
Porém logo em seguida
De novo, lá vão embora.

Eu e Nilda aqui estamos
As Bodas comemorando
Dos nossos cinqüenta anos
E também nos recasando.

Vou dizer pra todo mundo
E quem estiver escutando:
NILDA EU TE AMO MUITO,
E VOU MORRER TE AMANDO!

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