Eu vivia feliz, com Harmonia, afinal, dividia o apartamento com a Felicidade e a Tranquilidade, era um apartamento simples, mais aconchegante. Mais o Bairro ficou comprometido depois que a Segurança vendeu seu apartamento para a Inveja. Não quis me preocupar muito com isso, afinal, eu sou o amor, sempre fui muito amigo da Esperança. Então, tratei de levar minha vida normalmente, continuei a atender aos pedidos do Cupido e a ficar perto dos meus amigos. Mas muitos sentimentos não gostaram da minha imparcialidade, uns como a Dúvida e a Incerteza resolveram mudar-se, pois não queriam ser vizinhos da tristeza, quanto mais da Inveja, mas eu acreditava que existia uma inveja boa, então passei a ignorá-los.
Certo dia, a Felicidade me contou que tinha visto a Inveja com a Raiva e a Tristeza, e isso havia a deixado preocupada, eu e a Tranquilidade dissemos a ela, para parar de ouvir tanto a Dúvida, e de pensar bobagem. Logo após, tomei um banho e fui dormir, sem pensar nos problemas, pensando bem, nem tinha um, o Amor não é preconceituoso, então, não podia julgar a Inveja sem ao menos conhecê-la.
De manhã, quando acordei, não vi a Felicidade em seu quarto, nem mesmo a Tranquilidade, pensei "Elas devem ter saído, para comprar algo". Continuei a fazer o que sempre fiz, até encontrar um bilhete do Cupido, que dizia para eu o encontrar num determinado endereço, para mais uma missão. Apesar de reclamar muito, e perceber que os casais precisam de um Cupido novo e menos preguiçoso, eu fui ao endereço. Nem café tomei, o Amor também não é preguiçoso.
Ao chegar lá, vi um galpão, a porta estava aberta, e parecia não ter ninguém, insisti em entrar, apesar de saber que o cenário era muito diferente para eu trabalhar. Mais eu gostava do diferente. Fui entrando e não resisti a gritar "olá", para escutar o eco que o lugar fazia. Aos fundos tinha uma porta entre aberta e avistei lá, a Felicidade, mais não tão feliz como costume, ela estava amarrada e com uma fita em sua boca, quando me viu tentou falar, ou me mandar alguma mensagem, mais não teve sucesso. Apavorei-me quando vi ao lado dela a Tranquilidade toda ensanguentada e desmaiada. Gritei por socorro, mais a raiva sempre adiantada, me deu um chute e fechou a porta, era claro que ninguém ia escutar meu grito, naquele galpão abandonado. Eu estava no chão, quando ouvi a tristeza gargalhar, nunca a tinha visto tão feliz. Ela deixou isso claro ao declarar:
- Meu caro Amor, você sempre atrapalhou a minha vida, as pessoas sempre me abandonaram quando encontrou você. Chegou a hora de me vingar, você vai pagar por tudo que me fez.
- Não pode fazer isso - implorei - Tudo que fiz foi para o bem das pessoas.
Ao dizer essas palavras a Inveja, entrou em cena e com um riso sarcástico, me espancou, declarando que eu me fazia de bonzinho, mais era mal, era falso. Meus gritos de socorro, aos poucos foram perdendo a força, a dor foi me vencendo. A Raiva e a Inveja, não se cansavam de me bater, perdi totalmente minhas forças quando a Tristeza com uma barra de ferro atingiu meu estômago. Não consegui me defender, não conseguia falar, só conseguia pensar no porque de tudo isso. Não sabia o que tinha feito de errado, nunca pensei na minha morte, nem menos em como narrá-la.
Minha hora já estava prestes a chegar, mais ainda estava consciente, ao ponto de ver a Mágoa dar o golpe final. Ela vestia preto, como todos os outros sentimentos que se reuniram para me matar. Ela tinha uma aparência horrível, era como um defunto que acabara de sair do túmulo. Ela tinha uma expressão forte, tinha algo que não era fácil esquecer. Como uma droga, ela quis que eu morresse aos poucos. Eu sabia que eu podia deixar mágoas nas pessoas, mais jamais pensei que fosse assim. Ela me apavorou, e senti toda a culpa de que eles tanto falavam, vai ver, eu merecia morrer, vai ver, eu realmente sou horrível, até mais que eles. Percebi que o Amor de hoje, podia causar a Tristeza, a Inveja, a Raiva e a Mágoa. Essa última era irreparável. Então ela com uma arma, me acertou em cheio, meu sinal sumiu no ar, andou para longe e jamais encontrou ouvidos.
Comentários