ONDE ANDARÁ MEU DOUTOR?

Crônicas

Paulo José Moraes da Silva (*)

Soube, há dias, que meu amigo, Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo (à direita da foto), se despediu, aos 88 anos de idade, do exercício nobre da Medicina na sua amada e querida Santana do Ipanema, deixando “órfãos” muitos pacientes que se transformaram numa extensa legião de admiradores, desde o mais idoso ao meu jovem sertanejo.
Fico a pensar quantas famílias oriundas do meio rural, e outros da cidade, acordarão sentindo alguma dorzinha, aquela que vem sem explicação no meio da noite e um nome só vinha à mente devido à sua rotina perene de um homem nativo, sim, de raízes sertanejas que saiu para estudar em outras plagas e voltou para servir à sua terra e seu povo.

Muitos sentirão a grande saudade e, por que não dizer?, a falta daquele médico que atendia com o coração a tudo e a todos, tanto no hospital Dr. Arsênio Moreira como no seu consultório tendo um pouco de pai, de amigo e de anjo!
Meu amigo Clodolfo, testemunhei algumas visitas que fizeste visita domiciliar para aliviar muitas dores, não apenas a do corpo, mas da alma porque só sua presença naquele leito já melhorava a auto estima daquele(a) que tanto necessitava de seus conhecimentos e experiência adquiridas ao longo de sua trajetória clínica; com seu vozeirão já entendiam a sua marcante chegada porque era com essa voz forte que trazia o que muitas vezes o paciente desejava: a calma e a paz.

Imagino eu, quando de sua chegada à Santana do Ipanema, anos atrás, tudo era novo, tudo era início, tudo era simples e com poucas disponibilidades, mas você tinha que exercer todas as especialidades da medicina, pois naquela época não tinha os recursos e máquinas (ultrassom, tomografia, ressonância etc.), aparelhos que a medicina tem hoje, e o que era mais conhecido era a abreugrafia.

A comunidade só sabia ressonar (dormir), e de magnético, só se conhecia um olhar, e cintilar, só se conhecia o das estrelas! Mas, mesmo assim, um bom diagnóstico saía de suas mãos diante mesmo do maior obstáculo, mas sempre tinha uma solução, e quantas amostras grátis foram repassadas para os mais necessitados, quantas histórias foram ouvidas pelo grande sacerdote da medicina, Dr. Clodolfo, no dia a dia de sua trajetória médica.

Eu, particularmente, sinto saudades da nossa curta temporada como odontólogo na querida e amada Santana, e até me considero um sertanejo, porque foi aí que iniciei os primeiros passos na profissão, fazendo de tudo e convivendo diuturnamente com os cidadãos de todas as categorias sociais, e fico agradecido até pelas andanças dirigindo seu carro quando de suas viagens à Mata Grande para resolver seus negócios no Banco do Nordeste, ao tempo que conhecemos várias pessoas que eram seus pacientes e, nesse ínterim, quantos conselhos recebi de um mestre, fazendeiro e médico.
Meu amigo, fico agradecido pelo seu convite às 5 da manhã para sua ida matinal à sua fazenda para a ordenha, e já prevenido, levava uma caneca de chope, já com açúcar e “Toddy”, e tomava o leite recém saído das tetas das suas vacas holandesas, quentinho que não precisava ferver.

E, com isso, víamos o dia amanhecer no alto de sua serra o vislumbre embaixo da cidade com suas ruas e ladeiras, que logo depois eram contemplados com a entrega aos seus fiéis fregueses do leite ora distribuído pelas manas Maria da Luz e Melânia, esta de saudosa memória.

Hoje, vejo o nosso Doutor residindo com sua família num repouso merecido no Bairro do Espinheiro, em Recife, junto a todos os seus filhos e netos e, por que não dizer, perto da razão maior de sua vida, sua querida e amada baiana Zélia.

Com certeza, meu velho amigo, posso incluir nessa relação toda Santana do Ipanema, que sentirá saudades dos seus ouvidos para auscultar, mãos para examinar, do seu olhar compenetrado na sua missão de curar, do seu sorrisão, que aliviava tantas dores, e que dava forças até para suportá-las.

Todos nós rogamos a DEUS que agora cuide do nosso médico, fazendo uma prescrição de “AMOR”, ao tempo em que externamos o nosso muito obrigado ao querido DOUTOR!

(*) Paulo José Moraes da Silva é Professor de Cirurgia da UFAL. Crônica Publicada na Gazeta Web/AL e no Jornal da Sociedade Brasileira de Desbtistas Escritores - Edição de Março 2010

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