RECIFE
“Amar mulheres, várias... Amar cidades, só uma - Recife.” Uma declaração de amor ao Recife em versos do meu querido amigo, poeta maior, Ledo Ivo. Até que concordo sobre as mulheres, entretanto, sobre as cidades, além do Recife colocaria outras de meus muitos amores, Maceió, Nova York, Marechal, Lisboa, Barra, Rio, para ficar em seis e não me acusarem de volúvel citadino.
Nessa segunda-feira fui ao Recife, me sinto em casa passando sobre suas pontes e os seus rios que cantam, e seus jardins leves como sonâmbulos e suas esquinas que desdobram os sonhos de Nassau, como escreveu meu poeta predileto.
Na verdade fui trabalhar. Com o projeto da 1ª Festa Literária de Marechal Deodoro na mão, visitei órgãos parceiros da Festa a ser realizada entre 1° e 5 de setembro. Certeza do sucesso. A quatro - centenária (1611-2011) e linda cidade de Marechal Deodoro, antiga Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul, receberá o que há de melhor na literatura brasileira, na arte nordestina. A Festa será uma celebração à cultura e ao amor por coisas nossas.
FESTIVAL
À noite fui assistir à XIV edição do FESTIVAL CINE-PE - ÁUDIO VISUAL. Depois da cerimônia de abertura no Teatro Guararapes, iniciou a mostra competitiva de curtas e longas metragens. Os curtas-metragens: “Tanto”; “Lá Traz da Serra”; “Bailão”; “O Filme mais Violento do Mundo” e “Recife Frio” fizeram a platéia vibrar em aplausos. Beleza de bons filmes.
Para encerra a noitada, o longa, “hors concurs”, o filme mais esperado por brasileiros de norte ao sul, o filme do pernambucano Guel Arraes, baseado na obra insquececível de Dias Gomes, O Bem Amado.
Teatro lotado, mais de 2.500 pessoas aplaudiram os artistas presentes ao palco: Marcos Nanini, Andréa Beltrão, José Wilker, a bela Maria Flor, Caio Blat, Zezé Polessa, Drica de Moraes. Eu estava acompanhado do ator figurante, fez o papel de motorista de Odorico Paraguaçu, o artista plástico deodorense, Ovídio Gurgel. Antes da apresentação de O Bem Amado fiquei feliz quando a bela produtora Paula Lavigne agradeceu à Prefeitura de Marechal Deodoro, o belo cenário onde foi rodado o filme.
O FILME
Ao acabar a exibição o povo delirou, aplaudiu de pé. É difícil comparar um filme a uma série ou novela feita há mais de 30 anos. A maioria da platéia jovem não pode fazer essa comparação inevitável para quem tem mais de 50 anos. De minha leiga opinião cinéfila, o filme é brilhante, bem elaborado e bem humorado. Nosso Marcos Nanini, maior ator brasileiro da atualidade, está à vontade na roupagem de Odorico Paraguaçu. Lembrei-me do ex-prefeito de Maceió, Sandoval Caju, quando Nanini (Odorico) no palanque inicia o discurso mostrando seu terno de linho: “Vim de branco para ser mais claro”. Fui testemunha dessa tirada de Sandoval nos anos 60. As irmãs Cajazeiras que eram sisudas solteironas na série, tornaram-se sensuais, menos carolas, até gostosas. A participação de José Wilker como Zeca Diabo foi pequena, mas decisiva no desenrolar da trama. O próprio Guel disse que teve intenção de fazer uma comédia, uma sátira à elite brasileira. Não só a direita, tendo como legítimo representante o “coronel” Odorico, também as esquerdas, levaram irônicas, sutis alfinetadas. O filme tem uma visão crítica aos corruptos que geralmente se encontram no poder. Muito interessante a ligação entre Sucupira e o Brasil da época do golpe de 1964.
No mais, a certeza que o Bem Amado, será um sucesso como Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro e tantos outros filmes de Guel. Há que registrar a belíssima e nítida fotografia. Marechal Deodoro (Sucupira), aparece em todas as suas cores, o casario barroco, as igrejas, as ruas bucólicas quatro centenárias. As lagoas estão exuberantemente belas em azul esverdeadas, como também a praia do Francês. Os cenários naturais das externas foram muito bem captados pelas competentes câmaras dirigidas por Guel Arraes, o pernambucano bem amado.
LANÇAMENTO
Após os aplausos, fui com Ovídio conversar, tietar os artistas. A bela produtora Paula Lavigne disse claro em bom tom, faz questão de lançar o filme em Marechal Deodoro antes de ele entrar no circuito nacional de cinemas, dia 23 de julho. Aproveitei para convidar a todos para a Festa Literária de Marechal Deodoro, inclusive passar O Bem Amado na periferia da cidade durante a Festa. Gostaram da idéia e do convite. Quem sabe se quando setembro vier teremos belas estrelas do cinema cintilando em festa de literatura? Serão bem recebidas e bem amadas.
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