O leitor deve se estar a perguntar: por que esse cronista vem com tanta freqüência enfocando as coisas do sertão? Quando ele o fazia esporadicamente? E eu respondo: ora, meu caro leitor, trata- se de um amor arraigado por este pedaço de chão chamado sertão, tão sofrido, mas é aqui o meu lugar como de tantos outros sertanejos que aqui morejam. Porque, meu amigo, esta terra é esquecida de tudo e de todos, mormente por àqueles que detêm o poder, carecendo, contudo, que, nós não desperdicemos as oportunidades que se nos oferece este semanário Tribuna do Sertão, para mostrarmos as coisas boas que existem no sertão como fauna, a flora, suas potencialidades, sua gente e seus costumes, sua cultura, para que os poderes públicos se voltem também para o sertão, consequentemente, para o sertanejo.
Não sei se respondi a eventual pergunta de meu único leitor.
Daí, pois, hoje, enfocar um pouco da ave sertaneja conhecida de Quero- quero, da família dos Caradrideo, chamada também de Tetéu, gaivota preta, Tero- tero, Terém- terém, e por aí segue tantos nomes atribuídos ao também Tetéu lavandeira, ou Espanta boiada,dado seu canto estrídulo e alarmante. A presença desse ave é freqüente em todo Brasil, sendo sua predileção pelo Nordeste, dada sua temperatura mais alta, onde eles se aclimatam melhor e produzem mais. Não fazem ninhos, põem seus ovos no máximo quatro, e criam os filhotes ao relento. Os quero quero são agressivos, principalmente quando pessoas ou animais se aproximam de seus ninhos. Dormem pouco, são aves que vivem em bando, porém sempre em casais, teem uma preferência muito grande pelos animais, mas não lhes ofedem, catam- lhe piolhos, carrapatos ou outros insetos que sugam os animais. O canto do tetéu, do quero quero é uma onomatopéia, subtonada e cansativa. Os indígenas tinha ogeriza e essas aves, sua cor é sempre branco e preto, com um caminhar rápido e desajeitado, voam com rapidez e sempre cantando, o pesquisador Fernão Cardim, em sua obra monumental, tratado da terra e da gente do Brasil, escreveu esta quadra genial: “ se um grito de fero açoite/ estruge no ar austero,/ não temas, é quero quero; que vem dar- te a boa noite”.
No sertão o quero quero povoa os descarpados, e quando nas noites bravias sertanejas, quando só o silêncio se faz presente, essa monotonia é quebrada pelo grito melancólico e estridente dessa ave bisonha, que se faz escoar nas estradas desertas do sertão. E quando ocorrem as primeiras trovoadas, vê- se nas várzeas essa ave agourenta com seu grito esdrúxulo, espantando a sertanejada. O inimitável Rui Barbosa, em 1914, enriqueceu uma de suas peças oratórias, usando essa ave, atribuindo-lhe os adjetivos assim: o quero- quero esse pássaro curioso, a que a natureza concedeu o penacho da graça, o vôo do corvo e a laringe do galo, e segue por aí, o grande mestre, em sua sátira tão bem montada.
É uma ave que não se adapta ao cativeiro, só ás soltas formando pequenos bandos, com uma compleição aparentemente frágil, porém resistente as grandes secas do sertão, o quero- quero é tão forte quanto o sertanejo, sendo também um símbolo de sua resistência.
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