SAUDADES DO PRODUBAN

Crônicas

Júlio César Lopes Furtado

Seguindo uma tendência já verificada em Estados da Federação mais desenvolvidos, Alagoas cria em 1963 o seu Banco. Aquele que viria ser o responsável pelo desenvolvimento agrícola e industrial do Estado: surge o Banco da Produção do Estado de Alagoas, o Produban. Mais tarde adquiriu o seu nome definitivo: Banco do Estado de Alagoas S.A..

Aos 22 anos de idade, prestei concurso para a referida instituição, logrando êxito. Trabalhei durante 04 anos no departamento financeiro (compensação de cheques). Posso dizer que o Banco foi uma grande escola. Apesar de jovem, as responsabilidades eram enormes. Aprendi com os colegas a ser organizado, tanto no trabalho, como na vida privada. O ambiente era o melhor possível. Não tinha do que me queixar.

Estava em Santana no dia 15 de novembro de 1988, era eleição municipal. No dia seguinte recebo uma ligação do amigo José Domingos dos Santos Filho (hoje funcionário da Caixa Econômica Federal) pedindo para que eu voltasse com urgência para Maceió, pois o Banco seria liquidado extrajudicialmente, pelo Banco Central. Num primeiro momento, pensei tratar-se de uma brincadeira, porém, não era.

Voltei para juntar-me aos colegas de trabalho e participar da luta pela reabertura do Banco, fato esse que somente ocorreu em setembro de 1989. Quando da reabertura do Banco, eu já tinha me desligado de seus quadros, haja vista ter sido aprovado no concurso de Auditor Fiscal, no Estado de Sergipe, onde trabalho até os dias de hoje.

Infelizmente, apesar da reabertura acontecida em 1989, no ano de 1997, o Banco fechou suas portas definitivamente.

Sinto que ninguém mais fala em nosso querido Banco. Não vai aqui um saudosismo, entretanto, acho que vale a pena, para quem não vivenciou aqueles momentos, saber a verdadeira história. O porquê do fechamento do Produban.

A intervenção do Banco Central foi provocada, de início, pela alta inadimplência junto ao Banco, por parte de seus maiores devedores (usinas de açúcar e álcool), o que vinha gerando constantes prejuízos contábeis. Entretanto, quando os interventores aqui chegaram, descobriram que o “buraco era mais embaixo”.

Em Alagoas tinha se formado uma verdadeira quadrilha que durante muitos e muitos anos sangrou os cofres da instituição.

O Banco, através de sua diretoria, emprestava dinheiro a usinas, que continham restrições cadastrais, ou seja não podiam contrair empréstimos, (imagine o cidadão comum no SPC ou SERASA) haja vista estarem inadimplentes. Os funcionários do Bacen não só descobriram que esses empréstimos eram autorizados, bem como eram renovados via telefone. Bastava um telefonema do usineiro e o dinheiro “caía” na conta da usina. Tudo com o aval dos governadores à época (todos sem exceção).

Esse tipo de empréstimo também foi dado a políticos e a rede hoteleira da capital. Além das restrições que eram ignoradas pelos diretores, havia casos em que sequer era dada uma garantia ao banco.

Coincidentemente, hoje, a maioria dos ex-diretores do Banco, trabalha com os usineiros, seja na parte privada (como diretores de usinas e coligadas), bem como no serviço público (cargos em comissão em áreas estratégicas).

Por favor não venham dizer que o Banco não deu certo por ser Estatal. O Produban chegou a contabilizar mais de 55% das cadernetas de poupança da Capital, desbancando, inclusive, a gigante Caixa Econômica Federal. O Banese de Sergipe está aí, nas mãos do Estado, e dando lucro todos os anos. O que aconteceu em Alagoas foi um conluio entre políticos e empresários para dilapidar o patrimônio do povo alagoano, que, pra variar, nunca reagiu e aceitou todos os fatos como “normais”.

Os interventores descobriram que a lista dos maiores devedores do Produban coincidia com a lista dos maiores patrocinadores de campanhas políticas em Alagoas.

O que nos deixa mais triste nessa história é a de que ninguém foi punido. Os ex -governadores, os ex-diretores, os empresários e políticos nada sofreram com sua irresponsabilidade. Quem perdeu de verdade foi à sociedade alagoana e as 1400 famílias de ex-funcionários do Banco.

Que fique o registro!


Júlio César L. Furtado é Auditor Fiscal da Secretaria de Estado da Fazenda de Sergipe e ex funcionário do Produban (com muito orgulho).

Contato: juliofurtado44@gmail.com

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