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SER FFELIZ

Reflexões

Colaboração: Fernando Soares Campos - Assaz Atroz

Lou Micaldas

Muita gente me pergunta se sou sempre assim, feliz.

“Você está sempre sorrindo..."

Eu pergunto: é possível alguém dizer que é sempre feliz?

A felicidade é um estado transitório. Ninguém pode ser feliz o tempo todo. Tenho tido a sorte de ter mais momentos de alegria. É claro que numa festa, em reuniões com amigos, vivemos momentos de alegria, tendo muitas razões pra sorrir e pra gargalhar.

Minha família é muito bem-humorada e costumamos rir muito quando estamos juntas. Mas já tivemos e ainda temos momentos de preocupação e de tristeza. Faz parte das circunstâncias da vida. Trabalho com satisfação junto a minha equipe, também formada por jovens responsáveis e alegres, que exercem seus ofícios com prazer.

Então, posso dizer que não me falta nada, não tenho do que me queixar. Mas é possível ser feliz por viver assim, privilegiada, sem me incomodar com o resto do mundo? Só se eu fosse uma pessoa alienada.

Não estou feliz com a incompetência, com a negligência do poder público em relação às falcatruas, que tanto prejuízo causam aos necessitados de atendimento nos hospitais e postos médicos, nas escolas, nos transportes, na segurança.

E me causa um desgosto muito grande ver que o cidadão tem que recorrer à justiça pra conseguir um remédio, uma internação e, finalmente, buscar indenização pela morte de um ente querido.

É inconcebível que fiquemos todos inertes enquanto as trapaças são diariamente destaques nos jornais e nas telas das TVs.

A evasão dos médicos se justifica pelo alto sacrifício a que se submetem: ganham pouquíssimo, trabalham sem segurança, sem equipamentos, sem remédios e sem leitos em enfermarias e CTIs. A falta de vaga e de instrumentos de trabalho, que criam o caos nos hospitais, se não são, deveriam ser considerados crimes!

A meu ver, um médico safo, que soube se desembaraçar de uma situação de falta de tempo e de papel, escreveu no braço da paciente o endereço e o número do ônibus que ela deveria tomar pra conseguir internação em outro hospital. O crime dele foi não ter escrito um memorando com assinatura, data e carimbo? Ou crime se evidencia pela falta de vaga? Ao invés de ser reconhecido pela sua agilidade, sem burocracia, foi execrado e está sendo julgado na Justiça.

Vem cá, quantas vezes, escrevemos na palma da mão o telefone de alguém por falta de papel? Alguém se sentiu constrangido, humilhado por sair de um restaurante, boate, teatro, etc., com o telefone e o nome de alguém escrito na palma da mão?

Simplesmente não dá pra aceitar este absurdo de crucificar este profissional que merecia receber um voto de louvor por sua capacidade de resolver, da melhor forma que lhe parecia viável e rápida, o encaminhamento, sem memorando, de uma paciente para um lugar onde tivesse a chance de sobreviver. Talvez se ela não tivesse perdido tanto tempo na fila, hoje seu bebê estaria vivo, graças ao desembaraço do médico.

Outro fato me fez muito mal. Senti raiva, desgosto, ao ver a médica ser presa, acusada de não ter atendido à ordem judicial para internar um paciente em CTI. Perdi o sono. Que juízo faz um juiz sentadinho em sua confortável poltrona, em seu confortável gabinete, pra mandar prender uma médica em pleno exercício da profissão, submetendo a servidora ao vexame de sair presa do plantão de um hospital? Melhor seria dizer que ela foi presa porque não conseguiu fazer o milagre de construir um leito no CTI. Cadê aquela turma que grita pelos direitos do cidadão? Quem deveria estar preso, não seria o governador, o prefeito, o secretário ou o ministro da saúde, o presidente da república?

Trabalhar em hospital particular cercado de todos os aparelhos de última geração já causa estresse, imagina trabalhar num hospital público, fazendo verdadeiros sacrifícios pra salvar vidas, cercado de doentes deitados no chão, nas macas dos corredores, correndo riscos!

O sistema de saúde em todas as esferas governamentais é um caso de polícia e de prisão. Enquanto as autoridades brasileiras, como senadores, se tratam nos States, com verbas do cofre da viúva, pra cobrir as despesas até de acompanhante, o povo morre na fila, os médicos se estressam e são mal reconhecidos pelo seu trabalho penoso e ainda mal pago.

A corda arrebentou, mais uma vez, em cima do mais fraco, do menos importante na hierarquia administrativa. Rasga-se a Constituição pra fazer demagogia com os pobres.

Lou Micaldas é professora, formada pelo Instituto de Educação, e jornalista, criada e formada no Jornal do Brasil; administra o site Velhos Amigos e colaborou com a nossa Agência Assaz Atroz enviando-nos esta excelente crônica.

A equipe PressAA e os leitores agradecem, Lou.

Fonte:
http://assazatroz.blogspot.com/
http://santanadoipanema.blogspot.com/
http://pressaa.blogspot.com/

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