No início da década de 80, o rei do Pop Star, recentemente falecido, estava no auge do sucesso, seguindo carreira solo, com o disco Thriller. Era o que mais tocava nas discotecas do mundo inteiro e também nas de Santana, é claro. Naquele tempo ele ainda era preto. Adotava o estilo Black Power, movimento nascido nos guetos americanos do hallen e do Brooklin nova-iorquinos que se expandiu, chegando ao Brasil via Jovem Guarda e o hip hop.
Por aqui nas pistas de dança, poucos se arriscavam a reproduzir os passos do caçula dos The Jackson’s Five. Mas pra Estives, ou Aguinaldo do Hotel Avenida, isso não era problema, não só imitava Michael Jackson na coreografia e trejeitos como também imitava seus gritinhos e nem precisava estar tocando a música. E lá estava Estives, rodeado de “fãs” a se exibir na praça: Cabelo à La Tony Tornado. Penteado este, conseguido com um artefato, no mínimo interessante, um pente artesanal de madeira com apenas três dentes de arame. Calça boca de sino, camisa manga comprida de estampas colorida, sapatos “cavalo de aço”, cinto com fivela larga e extravagante.
E não é que o nêgo, na empolgação de imitar o Pop Star, se esqueceu da hora de voltar pra casa. Ele tinha hora determinada pra chegar: dez horas.
Quando chegou já passava de meia-noite. Bate à porta. Lá vem Seu Leuzinger abrir, morto de sono e cheio de raiva pelo repouso noturno interrompido:
-Onde estava até uma hora dessa?
-Curtindo!
-E desde quando você trabalha com couro pra andar curtindo, nêgo fio duma égua!
Disse isso, tacando-lhe uma tapa no pé do ouvido que o coitado do “nosso” Michael Jackson desembocou de casa adentro cambaleante.
Santana do Ipanema-AL, 23/07/2009
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