Em Santana, algumas pessoas não gostavam do cantor Luiz Gonzaga. Não sei se isso acontecia em outras cidades do interior. Não gostavam principalmente, quando ouviam a música “a feira de Caruaru”. O motivo? “Tem calça de alvorada que é pra matuto não andar nu”. Nenhum matuto queria ser chamado de tal. Assim, os matutos não consideravam o cantor como ídolo. Acho que hoje em dia não existe mais essa questão matuto e homem da cidade de forma discriminada. Algumas pessoas moram nos sítios e levam vida semelhante aos da cidade. A televisão e o computador mostram todos os acontecimentos mundiais.
Mas estamos falando daquele que, hoje é considerado o rei do baião.
Dia de sábado, feira em Santana, gostava de ouvir o pessoal que morava nos sítios conversarem. Antes, na barbearia, depois no bar. Prestava atenção em suas conversas. Falavam da ida do homem à lua, das músicas tocadas no rádio, da gripe asiática, da política, das vantagens que o Banco do Brasil trazia para o agricultor, da ANCAR, do MOBRAL, das mortes entre famílias por questão de terras, e de tantas outras coisas da época.
Era sábado. Todos esperavam o acontecimento raro. Lembro, talvez, no final dos anos cinqüenta, ou mesmo nos anos sessenta, o prefeito da cidade promoveu um grande evento e a atração era Luiz Gonzaga. Estava uma multidão na Praça da Matriz de Senhora Santana esperando que a falada e esperada atração começasse. A Banda de Música do Sr. Miguel Bulhões prenunciava a festa e o locutor já havia anunciado o sanfoneiro e todos ficaram animados. Luiz Gonzaga canta a primeira música, a segunda e a terceira, e o povo ali, imóvel, não se manifestava, não parecia que estava em um show musical. De repente, o artista gritou: batam palmas bando de matutos!
Os matutos da terra de Senhora Santana e os dos arredores da cidade, desconfiados, bateram palmas obedecendo ao cantor. Mas não ficaram felizes com o cantor, sua apresentação e sua arrogância.
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