Júlia já está grávida novamente - diz a irmã para a mãe que está costurando uma roupa para a menina que Júlia teve sem um pai para ajudar a criar.
- Essa menina não tem jeito, não sei mais o que posso fazer por ela. O pai, coitado, não tem mais onde bote a cara.
- Também, mamãe, no ambiente em que ela vive, não pode dar outra coisa.
- Não sei por que, minha filha, se comporta dessa maneira. Todas vocês trabalham e ela, não.
- Vocês apoiaram quando ela teve Ana, e até criam a menina com todo carinho.
- E o que você quer? Que joguemos pedra em nossa própria filha?
- Não. A senhora sabe que não, mas fica uma situação bastante desagradável. Se ela não se respeita, nós ficamos mortos de vergonha.
- Ela falou para seu pai que uma tal de amiga vai ficar com a criança.
- Não acredito, vem para as minhas costas como sempre. Trabalho como uma doida para criar os filhos de uma inconseqüente. Acho que temos de dar um basta nisso.
Em casa da amiga de Júlia, elas conversam sobre o futuro da criança que vai nascer e, outra vez, sem um pai.
- A coisa lá em casa não está boa. Minha irmã mais velha contou tudo aos meus pais. Não sei o que fazer.
- Eu já lhe falei que arranjo alguém para ficar com a criança. Faça o seguinte: você fica morando aqui comigo.
- Você é uma grande amiga, Leila, não sei como lhe agradecer.
- Vou contar uma coisa que ainda é segredo. Olhe, é segredo!
- Conte logo. Deixe de mistérios. Não vou falar para ninguém.
- Vou morar com o Dr. Gustavo. Faz tempo que está morando aqui sozinho e agora quer ficar comigo.
- Fico muito feliz por você. Mas ele não é casado?
- É. Mas a mulher dele mora na capital. Ele veio para cá como advogado, e diz que vai ficar.
- Então, você está certa. Vá morar com ele, é uma pessoa de bem.
- É. E já pode se preparar para ir comigo.
- Eu? Por que? E ele concorda?
- Sim.Conversamos sobre isso. Você e seu filho vão morar conosco.
Lá na casa da família de Júlia, cresce uma bonita menina. Inteligente, gosta de estudar, obediente, porém muito calada. Já entende que não tem um pai. Revela a uma amiga que acalenta o sonho de um dia conhecer o pai. Enquanto não realiza o seu sonho, é mandada para um colégio interno. Cumpre o seu tempo de internato e volta já formada como professora. Ao voltar, encontra mais irmãos. Agora Júlia tem cinco filhos. Cada um teve um pai que não assumiu a função de pai. No entanto, Dr. Gustavo acolhe em sua casa os filhos e a mãe. Leila é uma verdadeira amiga de Júlia.
Os filhos de Júlia, quando querem encontrar- se, vão para a casa dos avós. Os irmãos de Júlia não a recebem de bom grado, mas a mãe sempre a trata com carinho. Tornou-se uma mulher sofredora porque a filha foge aos padrões ditados pela sociedade. O pai prefere não se encontrar com Júlia, é um bom pai , no entanto, sente vergonha da maneira como ela vive. Ana, agora uma jovem professora, mora com a mãe em casa do Dr. Gustavo. Já ajuda aos irmãos tanto financeiramente como no que concerne ao apoio moral. Fala cada dia na possibilidade de conhecer o pai. Sua chance aumenta, porque, agora, mora na capital e descobriu que o mesmo é um policial e trabalha em Maceió.
Em um dia grandioso para Ana, deu-se o encontro com o pai. Um amigo promoveu o encontro. Acertou tudo entre os dois. Encontram-se pai e filha na praça dos Martírios em Maceió e este momento ficou guardado com muita emoção para a filha que realizou o seu sonho. Sim, realizou o sonho de encontrar o pai, no entanto, o pai não pode ficar com ela, pois é casado e não quer falar para a família que teve uma filha fora do casamento. Encontram-se às escondidas e de vez em quando.
Alguns irmãos de Ana foram adotados por famílias da cidade, uma irmã por uma família de outro estado e quase que não havia contato entre ela e os irmãos. O quinto filho foi adotado por Dr. Gustavo e Leila que estavam vivendo legalmente casados. Este conseguiu estudar, formar-se e mora em Maceió. Os outros não fizeram uma faculdade, mas vivem dignamente com seus trabalhos.
O casal Dr. Gustavo e Leila vivem bem em uma casa em Maceió. Ao morrer Dr. Gustavo, Leila fica novamente sem uma casa para morar, pois os filhos da primeira mulher brigam pela posse da casa que Leila mora. Para ela, é um grande sofrimento, já está velha e doente.
- Mamãe, o que podemos fazer para ajudar Leila? Ela que sempre nos apoiou.
- Ana, você tem toda razão. O pior é que não podemos fazer nada.
- Eu posso, mamãe. Vou falar com os filhos de Dr. Gustavo, eles terão de entender.
- Acho que não. Do jeito que falaram com Leila, não adianta nem tentar.
- Eu vou falar com eles. Não vamos ficar na rua.
Decidida, vai Ana falar com a família de Dr. Gustavo. Apesar de sua auto confiança, Ana decepciona-se mais uma vez com a família do doutor. Esses não querem acordo.
- Você não tem o direito de entrar em nossa casa e de dizer que a casa que estão morando pertence a vocês.
- Eu não tenho direitos, estou aqui por uma senhora que viveu ao lado do seu pai uma vida e depois de velha e doente, estar sendo despejada da casa onde mora.
- Nós não temos nada com isso. Não entende o sofrimento que minha mãe passou, quando meu pai passou a viver com aquela mulher.
- Aquela mulher chama-se Leila e é uma boa pessoa. Ela não tem culpa da separação de seus pais.
- Você tem que defender sua mãe. A defende por interesse não é? Querem ficar com a casa.
- Leila não é minha mãe, ela ajudou a minha e meus irmãos. O seu pai era um homem muito bom. Por que vocês agora querem tirar um teto de alguém que precisa?.
- Só existe uma solução. Ou aceitam ou desocupem a casa. Fiquem nela e paguem o aluguel.
- Eu pago o aluguel, mas não vai ficar assim como querem. Deve haver justiça.
- Claro que existe justiça. Nós somos a justiça. Esqueceu que meu pai era um advogado, ou melhor, um juiz? Nós temos a mesma profissão.
- Tudo bem, você diz que está com a lei, mas eu vou procurar um advogado para nos defender. Enquanto isso, pago o aluguel da casa.
Ana chega em casa e diz que está tudo bem. Vão ficar com a casa. Não quer preocupar Leila e sua mãe. Procura um advogado e o que consegue é que Leila more na casa enquanto viver. Ana livra-se do aluguel, mas assume a responsabilidade com sua família. Alguns anos depois, morre Júlia. Os filhos já estão adultos e Ana continua morando com Leila para não deixá-la sozinha. Esta vive na casa da família de Dr. Gustavo por decisão da justiça. Não possui nenhuma renda. Ana sente-se na obrigação de ajudá-la. Os outros filhos de Júlia sempre visitam aquela mulher que ajudou sua mãe, a mulher que ajudou Júlia a criar os filhos que não tiveram pai.
Passa o tempo. Leila, já cansada, conversa com Ana. As duas amam-se como se fossem da família. Júlia morre muito cedo, talvez pelos desgastes que a vida lhe proporcionou. Uma mulher que não se acertou na vida, não possuiu o seu próprio lar, sempre viveu da ajuda da família, da amiga Leila e de Dr. Gustavo como também de Ana.
- Ana, você tem que viver sua vida, já fez muito por mim. Está na hora de morar no seu lugar.
- O que é isso? Está me colocando para fora?
- Sabe que não. Eu estou uma velha muito chata, tenho que ficar só.
- A senhora é engraçada, ajuda todo mundo e não quer ser ajudada. Vou ficar aqui com a senhora, estou bem assim.
- Sua mãe sofreu muito, Ana, não merecia.
- Eu sei. Sua família também sofreu por ela.
- Júlia foi uma pessoa diferente, não teve um marido, deve ter amado, mas não encontrou um amor duradouro.
- Como o seu, não é, Leila?
- É. Amamos muito. Mas há um paradoxo entre a minha vida e a de Júlia.
- Os filhos.
- Exatamente. Eu não tive nenhum.
Morre Leila. Logo após o seu sepultamento, aparecem os donos da casa, que não respeitam nem a dor da família, mandam Ana desocupá-la.
Ana vai morar sozinha em um apartamento, sente uma sensação de liberdade e como se quisesse recomeçar uma vida, volta a estudar e conhece um rapaz. Nasce entre eles um sentimento de afinidade. Um dia, Leonardo a convida para conhecer sua família e, com grande surpresa, o pai de Leonardo é o seu pai. Ana não sabe como agir diante da situação. Pasmada, tenta se controlar e finge não conhecer aquele homem. E sem falar nada sobre o assunto, Ana acaba o namoro. Leonardo quer uma explicação, deixando Ana amargurada.
O pai de Ana a procura e pede que esta não conte a verdade ao filho. Ana entende que terá de renunciar ao amor, além de tudo é seu irmão. Só não entende o sentimento que sente por ele. Será que é mesmo seu irmão? Paira a dúvida. Resolve falar francamente com o pai.
- Papai, o senhor tem certeza que eu sou sua filha?
- Sim, quando tive um relacionamento com sua mãe, ela era muito jovem e não tinha se relacionado com ninguém antes.
- Sim, mas ela nunca me falou de você, será que estamos enganados?
- Não é possível. Sua mãe mesma me procurou e falou que estava grávida, mas, na época, eu já estava casado. E daí não tive mais contato com ela.
- É uma situação muito difícil de resolver. Sempre o imaginei meu pai e, na época, as pessoas que perguntei deram-me essa veracidade. Agora não tenho mais certeza de nada. O pior é que Leonardo nem imagina o que está acontecendo.
- É melhor o deixarmos fora disso!
- O que o senhor quer? Já acabei o namoro. Só que não me conformo. Não pode haver outra situação?
- Qual? Ele não ser meu filho? Está descartada esta hipótese. O que é isso? A minha mulher não faria isso. Tudo bem que morei muito tempo no interior enquanto minha família morava na capital. Mas o que é isso?
- Eu não quis dizer isso, papai, desculpe. De qualquer maneira o namoro está acabado. Só não sei o que fazer, se Leonardo me procurar e exigir uma explicação.
- Não sei o que fazer, não sei como ajudá-la, minha filha.
Leonardo procura Ana e quer esclarecer o motivo do rompimento do namoro. Ana não encontra uma saída a não ser contar a verdade. O rapaz não concorda com a opinião do pai, tentar esconder um fato que para ele é muito sério. Decide conversar com o pai e juntos tentarem decifrar o mistério. Ele e Ana amam-se e não podem permanecer em dúvida.
O pai de Leonardo e também de Ana vive um drama incomum. Depois de muitos anos de casado com a mãe de Leonardo, terá de conversar seriamente com a esposa sobre este delicado problema.
- Norma, tenho um assunto muito sério para lhe falar.
- Do que se trata? Parece preocupado.
- É sobre o tempo que estive trabalhando no interior. Faz bastante tempo não é?
- Sim, bastante. O que você quer saber?
- É um assunto delicado, mas preciso saber, porque disso pode depender o futuro de Leonardo.
- O que tem nosso filho com isso?
- Será que ele é mesmo nosso filho? Não me leve a mal, vou contar-lhe tudo. Ana, a namorada de Leonardo, é minha filha.
-Você quer dizer que eu me relacionei com outra pessoa quando esteve ausente?
- Esta é uma pergunta que estou lhe fazendo.
- Quer dizer que você me trai e agora eu sou a traidora.
- Eu era muito jovem e inexperiente e estava longe de casa e tudo aconteceu, mas foi só isso, nem assumi a paternidade. Só depois de muitos anos, minha filha procurou-me, queria muito conhecer - me.
- Sim, mas o que tenho com isso? Depois desse tempo todo vem falar-me que tem uma filha e ainda sou acusada de traição. Por que isso agora?
- Porque Ana sendo minha filha não poderá ser namorada de Leonardo, desde que ele também seja meu filho é claro.
- É engraçado! Ana é sua filha, não há dúvida, o nosso filho você coloca na condição de bastardo.
- Não estou dizendo isso, estamos conversando para termos certeza das coisas. Mas, pelo jeito, você não quer cooperar. Sei que errei, não há explicação para uma traição, só que agora a verdade poderá ser dita.
- E eu, acaso também não era jovem? E com você em outra cidade, pelo que estou vendo, estamos empatados, não é?
- Então está explicado, Leonardo não é meu filho.
- Qual é o drama?
- Drama nenhum, eles podem namorar, não são irmãos.
Os jovens ficam sabendo de toda verdade, os pais estão pensando em separação, pois no passado houve traição de ambas as partes. Apesar do amor que une Ana e Leonardo, entendem que não haverá mais clima para que os pais de Leonardo continuem juntos.
- Será que tenho de construir meu futuro sobre a desgraça dos seus pais?
- Não diga isso, meu amor, não temos culpa dos seus erros. Ou melhor, porque chamar de erro o amor entre o meu pai e sua mãe?
- Muito bonito da sua parte, Leonardo, ter aceitado tudo numa boa. Continua tratando seus pais como se nada tivesse acontecido. Não quer saber quem é o seu pai?
- Não. Meu pai é o que me criou e me deu todo amor. O que precisamos agora é cuidar do nosso casamento.
- Você está certo, perdemos muito tempo com explicações.
- Explicações, que para nós trouxeram felicidades e para eles, separação. É uma pena para eles.
- É, mas vamos sempre estar dando apoio a um e ao outro.
- Sim. No entanto, os dois erraram, por que não se perdoam?
- Quem sabe com o tempo os dois reconciliam-se se é que existe amor. Eles pareciam viver bem.
- Aparentemente sim, mas se houve traição de ambas as partes, não havia respeito.
- Pode ter sido a distância que os separou.
- Ele passou bastante tempo no interior, teve até uma filha.
- Ela também teve um filho. O certo é que não assumiram a responsabilidade da nova vida, preferiram continuar juntos. Não podemos julgar o relacionamento deles, se, se amavam ou mantinham a aparência
- É, nenhum dos dois contou sua verdade.
- Leonardo, você está na situação que eu estive quando criança. Não quer conhecer seu pai? O outro?
- Não sei, tenho medo, será que mamãe quer falar sobre isso?
- Tente, Leonardo. Será melhor do que ficar na dúvida.
Leonardo tenta uma conversa esclarecedora com a mãe.
- Não quero falar sobre isso Leonardo. Para que desenterrar o passado?
- Não é o passado, é o presente, sou eu que quero saber quem é o meu pai.
- Ele está morto.
- Seja sincera, mamãe.
- O que posso dizer-lhe é que não traí seu pai, isto é, não me senti traidora. Eu soube que ele estava gostando de outra mulher no interior onde estava trabalhando, comecei a sair com um colega de trabalho e aconteceu, ficamos apaixonados, só que ele não queria magoar a família, preferiu renegar o filho, eu, também, ao seu pai; omiti o que aconteceu, havia os seus irmãos pequenos, não poderiam ficar sem pai.
- Repetiu o mesmo erro dele, ambos abriram mão do que queriam, não sei se podemos chamar isso de covardia ou simplesmente comodismo, medo de recomeçar uma nova vida. Mas isso não importa agora, quem sou eu para me tornar juiz de vocês dois. Só desejo saber do meu pai.
- Fingiu que nada aconteceu entre nós, por isso nada contei a você.
- Ele está vivo, não é?
- Faça de conta que não existe, viva sua vida e esqueça tudo.
Leonardo resolveu investigar o passado de sua mãe. Tem certeza que no seu antigo local de trabalho, alguém poderá saber tudo que aconteceu. Ela mesma falou que gostou de um colega. Ana observa que o noivo está triste, calado, interroga-o, quer ajudá-lo.
- Enquanto não descobrir a verdade sobre meu pai, não terei paz.
- Você não sabe? Sua mãe não lhe contou?
- Sim, mas não falou quem é o meu pai.
-Tudo bem, tem todo direito de procurar saber, mas não deixe de viver por isso. Parece que não somos mais noivos, não vivemos mais, nem planos mais fazemos.
- Está sendo injusta, Ana, você não gostaria de estar no meu lugar.
- Até parece que não vivi situação idêntica. Só estou pedindo que não fique tão tenso e que continue a viver normalmente.
- Aconselha-me a esquecer tudo e fingir que está tudo bem?
- Sabe que não é isso, mas chegar ao ponto de agir com indiferença comigo como se o nosso amor não importasse.
- Estou cheio, Ana, você sabe que tudo começou com o erro de sua mãe.
- Não acredito o que estou ouvindo, minha mãe não está mais entre nós, deixe-a em paz, já basta o que sofreu em vida.
- E a minha não sofreu?
- Não é essa a questão. Temos que resolver nossos problemas sem culpar os outros.
- Mas se existe um culpado, a verdade terá de ser dita.
- Leonardo, precisamos dar um tempo, vá resolver sua vida, qualquer coisa sabe onde encontrar-me.
Ana deixa Leonardo angustiado. E este cumpre com o propósito de encontrar o pai. No local onde a mãe trabalhou, alguém lhe dar o endereço do seu pai. Pai? Recebe-o com frieza. Procura disfarçar e marca outro local para com ele conversar. Aquele ambiente familiar não poderia ser maculado com a presença de um filho indesejado.
- Bom, rapaz, você pegou-me de surpresa, sua revelação deixa-me atônito, não me lembro de ter um filho fora do casamento. Por que me procurou?
- Investiguei o passado de minha mãe e descobri que você é o meu pai, não que eu queira nada, só apenas conhecê-lo, até por curiosidade.
- Já lhe falei, não tenho nenhum filho fora do meu casamento.
- Já vi que é muito covarde. Não é mesmo meu pai, desculpe o incômodo, boa noite.
- Espere um pouco, você disse que é filho de Norma, realmente nós nos amamos muito, mas éramos casados e não podíamos assumir nenhuma responsabilidade fora do nosso casamento, por isso combinamos esquecer tudo, fazer de conta que nada havia acontecido entre nós.
- Não foi o que ela me falou, mas não se preocupe comigo, sou adulto, independente, queria apenas conhecê-lo, repito.
- Leonardo, você é uma pessoa de bem, está se vendo, infelizmente não posso chamá-lo meu filho.
- Não se preocupe senhor, boa noite. Não o importunarei mais.
Leonardo procura Ana e tenta com ela reconciliar-se. Ana encontra-se magoada e dentro de si não há nenhuma vontade de voltar a confiar no rapaz.
- Perdoe-me, Ana, eu reconheço que agi mal com você, estava querendo apoiar-me e não a respeitei.
- Eu compreendi sua situação, mas, mostrou-me que cada vez que tiver um problema, vai acontecer a mesma coisa. O pior de uma relação é sempre colocar culpa no outro, nada mais arruína uma relação.
- Vamos nos dar uma chance, quem sabe, tenhamos amadurecido.
- Por enquanto não me acho em condições de recomeçar nada, acho que ambos fomos machucados pela vida, devemos então ficar ausentes um do outro por um tempo, quem sabe um dia... Foi bom enquanto não houve problemas.
Ana e Leonardo estão separados. Infelizmente é isso que acontece quando o amor é desacatado.
Reacende o amor
Ou acaba
Ao ser desacatado.
Talvez enfraqueça.
Quem sabe envelheça.
Perdendo o viço,
A ternura, o vigor.
Com certeza é isso
Que traz dissabor.
Faltou respeito
Faltou carinho
É uma pena
Terminar assim
O que começou
E para seu fim
Não se enraizou.
Em um congresso de advogados, dois deles apresentam trabalhos com o mesmo tema, mas com opiniões antagônicas.Em um congresso é muito comum se discutir sem chegar a um consenso. Até ai tudo bem, mas os dois advogados parecia que se odiavam por algum motivo. Os expositores dos trabalhos, Leonardo e Cláudio, nem se conheciam. No fim da tarde, alguns colegas resolveram sair e convidaram os dois novos colegas para com eles divertirem-se um pouco. Leonardo e Cláudio conversaram e ficaram amigos. Cláudio convida Leonardo para jantar em sua casa.
- Já que ficamos amigos, convido para dar uma passada lá em casa, logo mais, à noite, não é propriamente minha casa é da minha irmã, eu sou apenas seu hóspede. Na verdade, moro no interior.
- E sua irmã não está esperando mais um para jantar, como reagirá com um convidado do irmão?
- Disse certo, um convidado do irmão ela receberá com prazer, ela é um amor, você vai ver.
- Será que posso levar minha namorada?
- Sim, claro! Fique à vontade. Espero-os.
Leonardo, ao chegar em casa do amigo, tem uma grande surpresa, quem recebe ele e sua namorada é Ana. Fica embaraçado e esquece de apresentar a namorada. Ana controla-se e os convida a entrar.
- Vejo que você é o amigo de Cláudio e essa é sua namorada?
- Sim, Ana, eu não sabia...
- Catarina, eu e Ana fomos noivos há algum tempo.
- Prazer, Ana, desculpe.
- Deixem de tolice, fiquem à vontade. Nosso noivado não deu certo, Leonardo tem todo direito de refazer sua vida.
- Boa noite, pessoal, já se conheceram? – Prazer Catarina.
- Oi, Cláudio, alguém aqui já se conhece.
- Quem se conhece?
- Cláudio, Leonardo foi o meu noivo.
- Isso é o que se chama coincidência!
- Bom, gente, o jantar está pronto, ajuda-me arrumar a mesa, Catarina?
- Claro!
Todos tentaram agir com naturalidade, no entanto, os olhares significativos que trocaram Ana e Leonardo, não deixaram de ser percebidos por Cláudio e Catarina.
- Cláudio, se eu fosse ciumenta, ia agora, provocar uma briga, já viu como os dois se olham?
- Deve ser impressão sua, faz tempo que eles terminaram tudo.
- Faz pouco tempo que conheci Leonardo, não estamos bem certo ainda dosnossos sentimentos.
- Catarina também faz direito, Cláudio, ela falou-lhe?
- Pois é, Leonardo, só Ana não quis ser advogada.
- Eu e Ana estudamos juntos no pré - vestibular, mas só queria se professora, é mesmo vocação!
- Não sei se hoje ainda pensaria da mesma maneira.
-Toda profissão tem seus espinhos, temos que fazer o que nos der mais prazer.
- Pois é, Cláudio, que juntemos o útil ao agradável - diz Catarina ao novo amigo Cláudio.
- Já vi que ficamos amigos, mas precisamos ir embora, amanhã é dia de trabalho.
- Tem toda razão, Catarina. Vamos. Boa noite, Cláudio, nos encontraremos no congresso que ainda não terminou.
- Ana, foi muito bom revê-la, obrigado pelo jantar.
- Boa noite, acho que nos veremos, Cláudio, foi um prazer conhecê-la, Ana – fala a namorada de Leonardo, talvez com segundas intenções.
Após alguns dias, Leonardo faz uma surpresa à Ana. Logo após o encontro que tivera em sua casa, percebeu que ainda gostava de Ana como namorada. Terminou tudo com Catarina e resolveu conversar com a antiga namorada.
- Ana, naquela noite percebi que você é a mulher da minha vida, pensei muito, conversei com Catarina e estou aqui. O que você acha de ficarmos juntos novamente? Quem sabe, eu esteja mais maduro.
- Eu acho que fui precipitada, quis exigir maturidade tanto em mim como em você. Também namorei outra pessoa mas não consegui lhe esquecer.
- Então, podemos tentar, não é?
- Já que estamos juntos, posso falar-lhe uma coisa.
- O que? Não vai me pedir mais um tempo, vai?
- Não. É sobre Cláudio. Ele está gostando de Catarina. Ela está livre, não é?
- Já lhe falei, terminamos.
- Vou ligar para Cláudio, ele vai gostar de saber. Vamos ajudá-lo, ele trouxe você de volta.
- As coincidências são preparadas pelo destino, só pode ser.
- Leonardo, como estão seus pais?
- Estão bem. Minha mãe sofreu uma espécie de depressão e como estava sozinha, meus irmãos cada um vivendo sua vida, ele voltou para casa e se perdoaram.
- É, eles um dia se amaram. Na vida acontecem muitos acertos e desacertos, as pessoas percorrem diversos caminhos, às vezes se perdem, tomam outros rumos, mas podem um dia buscar o amor lá no fundo da alma se um dia ele germinou.
O amor que se busca
Entre encantos e desencantos
O amor se propõe e se doa
Busco ardentemente no seu íntimo
Toda verdade que se esquiva e voa
Entre erros e acertos
A incerteza caminha
Nem palavras nem propostas
O amor assim não aninha
Então o que é o amor
Será um eterno desafio?
Só se houver cumplicidade
Navegaremos em um só rio
Ou se busca e se encontra
Ou nada se constrói
Para o nosso amor dar certo
Temos de bailar na mesma dança.
Os destinos de Ana e Leonardo cruzaram-se porque suas histórias foram idênticas? Como saber? Hamlet diz que “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia” Portanto, se são mistérios não procuremos entendê-los. Na vida não importa querer saber a razão de tudo, isso escapa à nossa sabedoria. Então para que perder tempo com vãs filosofias como fala Hamlet, vivamos o amor, o amor autêntico, aquele que ri a alma, canta o coração e chora lágrimas de alegria.
Conto Publçicado em 13/08/06
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