“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Provérbios 28.13).
O objeto do arrependimento é o pecado. Por isso, é chamado de “arrependimento de obras mortas” (Hb 6.1), que o pecado produz. Dessas obras o sangue de Cristo purifica a consciência de um pecador arrependido, trazendo-lhe paz e perdão (Hb 9.1).
(1) Primeiramente, tem de haver arrependimento não somente de pecados grosseiros, mas também de pecados menores. Há diferenças entre os pecados. Uns são maiores, outros, menores (Jo 19.11). Mas ambos exigem arrependimento. Pecados contra ambas as tábuas da Lei, pecados imediatamente contra Deus e pecados contra os homens (alguns pecados contra os homens são mais perversos e graves do que outros), bem como aqueles pecados contra Deus, tais como adorar demônios e ídolos de ouro e prata, etc., assassinatos, feitiçaria, fornicação e roubos... e não somente esses, mas também pecados menores — tem de haver arrependimento de todos eles, bem como de pensamentos pecaminosos, pois os pensamentos insensatos são pecado (Pv 24.9)...
O homem ímpio tem de se arrepender e abandonar seus pensamentos, e o homem perverso, deixar os seus caminhos e converter-se ao Senhor. Deve haver arrependimento não somente de pensamentos impuros, orgulhosos, maliciosos, invejosos e vingativos, mas também de pensamentos de obter a justificação diante de Deus mediante a justiça própria, que pode estar implícito no texto ao qual nos referimos (Is 55.7).
(2) Em segundo, tem de haver arrependimento de pecados públicos e particulares. Alguns pecados são cometidos de maneira notória, à luz do dia, e são conhecidos por todos. Outros pecados são mais secretos. Um pecador verdadeiramente despertado... se arrepende deles, de coração, e até de pecados conhecidos somente por ele mesmo e por Deus. Isso é uma prova da genuinidade de seu arrependimento.
(3) Em terceiro, tem de haver arrependimento de pecados de omissão e de comissão. Quando alguém omite os deveres espirituais que devem ser cumpridos ou comete pecados que deveriam ser evitados; ou omite as questões mais importantes do cristianismo e atenta somente às menos importantes, quando deveria ter feito aquelas e não ter omitido estas; e, visto que Deus perdoa ambas (Is 43.22-25) — ele precisa arrepender-se de ambos os tipos de pecado. Um senso da graça perdoadora engajará o pecador despertado na prática do arrependimento.
(4) Em quarto, tem de haver arrependimento de pecados cometidos nas mais solenes, sérias, espirituais e santas realizações do povo de Deus. Não há um homem justo que faça o bem e não peque no bem que faz. Há não somente imperfeição, mas também impureza na melhor retidão que os santos produzem de si mesmos e, por isso, é chamada de “trapo da imundícia” (Is 64.6).
(5) Em quinto, tem de haver arrependimento dos pecados diários da vida. Nenhum homem vive sem cometer pecados. O pecado é cometido diariamente pelo melhor dos homens. Em muitas ou mesmo em todas as coisas, todos ofendemos a Deus. Assim como temos necessidade diária de orar e somos instruídos a rogar a Deus o perdão dos pecados, assim também temos de nos arrepender dos pecados todos os dias... O arrependimento deve ser exercitado continuamente pelos crentes, visto que eles pecam a todo momento contra Deus, em pensamentos, palavras e atos.
(6) Em sexto, devemos nos arrepender não somente de pecados e transgressões em pensamentos, palavras e obras, mas também do pecado original e natural. Quando Davi caiu em pecados graves e foi trazido ao senso arrependimento sincero pelos pecados, fez confissão dos pecados no salmo penitencial que escreveu na ocasião e foi levado a perceber e lamentar a corrupção original de sua natureza. Dessa corrupção flui todas as ações pecaminosas — “Eu nasci na iniquidade” (Sl 51.5)... Ora, quando um pecador despertado confessa, lamenta e chora a corrupção original de sua natureza e o pecado que habita nele, esse é um caso evidente de que seu arrependimento é genuíno e sincero...
continua...
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