Silêncio no Barulho

Sibele Arroxellas

SILÊNCIO NO BARULHO

Mais uma madrugada em claro, e eu de plantão, só ouvindo o barulho de respiradores, aparelhos que auxiliam os pacientes que ora não conseguem respirar de forma espontânea, ao lado de meus colegas da enfermagem, atentos, vigilantes, todos em prol de proporcionar a essas pessoas uma situação digna e confortável. Nesse “silêncio “dos pacientes em uma UTI, podemos ouvir suas súplicas de ajuda, de confiança, de que está nas mãos de quem nunca anteriormente conheciam, pessoas estranhas, mas que fizeram um juramento de praticar a arte do cuidar, cuidar de pessoas independente de sua religião, raça, cor ou opção sexual. Diante nós, encontram-se pessoas e ponto e assim que deve ser.
E aquele barulho dos respiradores persistem madrugada afora, anoitece, amanhece e lá estamos nós, continuamente ao ouvir esse barulho dos respiradores, inúmeras vezes ao chegarmos em casa e irmos descansarmos, continuamos a ouvir esse barulho, que nos remete a vigilância.
Por vezes, chegamos ao trabalho achando que temos o maior problema do mundo, cansados, de mal humor e ao nos depararmos com esses pacientes, numa luta constante pela vida, daí chegamos à conclusão de que reclamos à toa, de que nossos problemas e angustias são mínimas, pois valorizamos muitas coisas e situações que na realidade nem possui a importância que damos , pois lá estão eles em uma incansável luta pela vida, daí diante disso nos revigoramos, levantamos a cabeça e agradecemos a Deus pelo dom da vida , respiramos fundo e nos envolvemos com essas situações , nos doando e nos alimentando da arte de viver.
Trabalhar com gente nos faz ser mais gente, trabalhar com a dor do próximo diminui a nossa, visto que somos escolhidos por Deus a proporcionar dias dignos a essas pessoas. Ouvir o barulho continuo dos aparelhos nos remete a vida, a conquistas, a continuidade.
Infelizmente, por vezes, os aparelhos silenciam e ai começa uma grande correria e nos damos conta de como somos limitados e isso nos entristece bastante, nos limita e mostra que nada está em nossa mãos e sim na de Deus, tornando-nos apenas instrumentos na arte do cuidar...O silêncio dos aparelhos não é nada confortante, preferimos o barulho constante em nossos ouvidos , confirmando assim que ainda há esperança.

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