VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?

Cicero de Souza Sobrinho (Prof. Juca)

Depois de um dia difícil de trabalho lidando com mil coisas, mil problemas, mil responsabilidades que só mesmo alguém de/com tanta inteligência e capacidade poderia dar conta a noite cai como uma promessa de alívio. Então, o primeiro pensamento é de dever cumprido... mas as atividades de amanhã já devem ser pensadas para que haja algum tempo para uma eventual escapada buscando descontração. Mas descontração é um luxo distante... alguém tem que trabalhar para manter a família, afinal este é o papel do homem. E, ultimamente tem sido um papel muito difícil de ser cumprido. São contas e mais contas, mas a família precisa; a esposa precisa; os filhos precisam; os irmãos de sangue e os fraternos precisam. Enfim...
Um pensamento até certo ponto melancólico teima em povoar a mente e faz com que lágrimas brotem dos olhos: Até parece coisa de adolescente no meio de uma crise de identidade. Sozinho de madrugada chorando!!! Ridículo! Lembrando os amigos que se foram para outro plano; lembrando os momentos de outrora na cidade natal; lembrando os relacionamentos que duraram tanto tempo e que se acabaram pela incompatibilidade dos anos; lembrando da risada suave do netinho... nesse momento uma angústia comprime o peito, então é preciso levantar e andar um pouco pela sala para tentar fazer o ar entrar para os pulmões – mesmo sem admitir para ninguém, os anos pesam!!! A sala parece menor do que realmente é, e está quente, mas, talvez sentado consiga espairecer, quando de súbito aparece uma sensação de tremor nas pernas, ai a cadeira parece realmente ser o melhor local para descansar.
O silêncio àquela hora da madrugada era quase sepulcral. Pela janela do primeiro andar onde estava e costumava trabalhar madrugadas a fio não se ouvia ou via uma viva alma, nem mesmo os gatos – donos da noite – faziam barulho! Parecia que mais ninguém existia naquela noite em especial – é um tanto estranho pensar estas coisas! Uma dor larga e profunda invade o corpo e se aloja por trás das costelas, a cabeça doe e uma incerteza se faz notar...
Depois de algum tempo a respiração torna-se mais calma e as pernas obedecem aos movimentos. Depois do susto e sentado diante do computador o que resta é dar uma olhada nos sites e ver as notícias. Talvez haja algum e-mail que possa trazer um pouco de distração.
Enquanto acessa a grande rede uma infinidade de expectativas se amontoa, e estas fazem mais uma vez pensar sobre a importância do contato, da fala sendo ouvida com atenção por outras pessoas.
Sobre os ombros pesam 5, 6 ou 7 décadas de lutas, vitórias e algumas derrotas momentâneas, mas sempre ficou - mesmo na derrota – o sabor da luta e da certeza de jamais desistir do doce sonho de viver plenamente, pois como disse o poeta: “O que é mais sagrado na vida é viver livremente, intensamente, sem medo... O que é mais sagrado na vida é viver plenamente, honestamente, viver...”
Se a esposa ouvisse essa fala ficaria surpresa!!! Se os filhos ouvissem... os amigos iriam fazer piada durante muito tempo... rsrsrs!!!
E essa dor que não vai embora... que dor é essa?!?! Que medo é esse que teima em cercar a razão?!? Perdido no silêncio dos pensamentos apenas uma certeza se objetiva: o que falta na vida? Tudo que poderia ser conquistado foi conquistado, os filhos estão criados, O netinho está bem e crescendo, a empresa é sólida, então...
O dia já está amanhecendo e agora a dor torna-se compreensível e de repente uma certeza incompreensível aparece, a certeza de que o que sente na realidade não é dor, é medo, isso mesmo, medo! Mas qual seria o motivo? O motivo também é simples: Tem medo de não poder viver mais... tem medo de ser esquecido pelos filhos e amigos... tem medo de perder a razão... tem medo de esquecer, esquecer os amigos... mas principalmente, medo de não poder mais ser capaz de ser útil!
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VIVER É MUITO MAIS QUE SIMPLESMENTE ABRIR OS OLHOS AO AMANHECER PARA RESOLVER PROBLEMAS... É ANTES DE TUDO SENTIR!!!

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