Depois de um dia difícil de trabalho lidando com mil coisas, mil problemas, mil responsabilidades que só mesmo alguém de/com tanta inteligência e capacidade poderia dar conta a noite cai como uma promessa de alívio. Então, o primeiro pensamento é de dever cumprido... mas as atividades de amanhã já devem ser pensadas para que haja algum tempo para uma eventual escapada buscando descontração. Mas descontração é um luxo distante... alguém tem que trabalhar para manter a família, afinal este é o papel do homem. E, ultimamente tem sido um papel muito difícil de ser cumprido. São contas e mais contas, mas a família precisa; a esposa precisa; os filhos precisam; os irmãos de sangue e os fraternos precisam. Enfim...
Um pensamento até certo ponto melancólico teima em povoar a mente e faz com que lágrimas brotem dos olhos: Até parece coisa de adolescente no meio de uma crise de identidade. Sozinho de madrugada chorando!!! Ridículo! Lembrando os amigos que se foram para outro plano; lembrando os momentos de outrora na cidade natal; lembrando os relacionamentos que duraram tanto tempo e que se acabaram pela incompatibilidade dos anos; lembrando da risada suave do netinho... nesse momento uma angústia comprime o peito, então é preciso levantar e andar um pouco pela sala para tentar fazer o ar entrar para os pulmões – mesmo sem admitir para ninguém, os anos pesam!!! A sala parece menor do que realmente é, e está quente, mas, talvez sentado consiga espairecer, quando de súbito aparece uma sensação de tremor nas pernas, ai a cadeira parece realmente ser o melhor local para descansar.
O silêncio àquela hora da madrugada era quase sepulcral. Pela janela do primeiro andar onde estava e costumava trabalhar madrugadas a fio não se ouvia ou via uma viva alma, nem mesmo os gatos – donos da noite – faziam barulho! Parecia que mais ninguém existia naquela noite em especial – é um tanto estranho pensar estas coisas! Uma dor larga e profunda invade o corpo e se aloja por trás das costelas, a cabeça doe e uma incerteza se faz notar...
Depois de algum tempo a respiração torna-se mais calma e as pernas obedecem aos movimentos. Depois do susto e sentado diante do computador o que resta é dar uma olhada nos sites e ver as notícias. Talvez haja algum e-mail que possa trazer um pouco de distração.
Enquanto acessa a grande rede uma infinidade de expectativas se amontoa, e estas fazem mais uma vez pensar sobre a importância do contato, da fala sendo ouvida com atenção por outras pessoas.
Sobre os ombros pesam 5, 6 ou 7 décadas de lutas, vitórias e algumas derrotas momentâneas, mas sempre ficou - mesmo na derrota – o sabor da luta e da certeza de jamais desistir do doce sonho de viver plenamente, pois como disse o poeta: “O que é mais sagrado na vida é viver livremente, intensamente, sem medo... O que é mais sagrado na vida é viver plenamente, honestamente, viver...”
Se a esposa ouvisse essa fala ficaria surpresa!!! Se os filhos ouvissem... os amigos iriam fazer piada durante muito tempo... rsrsrs!!!
E essa dor que não vai embora... que dor é essa?!?! Que medo é esse que teima em cercar a razão?!? Perdido no silêncio dos pensamentos apenas uma certeza se objetiva: o que falta na vida? Tudo que poderia ser conquistado foi conquistado, os filhos estão criados, O netinho está bem e crescendo, a empresa é sólida, então...
O dia já está amanhecendo e agora a dor torna-se compreensível e de repente uma certeza incompreensível aparece, a certeza de que o que sente na realidade não é dor, é medo, isso mesmo, medo! Mas qual seria o motivo? O motivo também é simples: Tem medo de não poder viver mais... tem medo de ser esquecido pelos filhos e amigos... tem medo de perder a razão... tem medo de esquecer, esquecer os amigos... mas principalmente, medo de não poder mais ser capaz de ser útil!
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VIVER É MUITO MAIS QUE SIMPLESMENTE ABRIR OS OLHOS AO AMANHECER PARA RESOLVER PROBLEMAS... É ANTES DE TUDO SENTIR!!!
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