Vivemos em um mundo de violência e medo, onde não há mais espaço para a cooperação. Um mundo violento e desprovido da capacidade de possibilitar o outro a uma condição de vida mais humana, mais digna – mesmo que este ato de possibilitar seja uma obrigação moral, mesmo assim isso raramente acontece – até parece que tornou-se desumana a capacidade para o relacionamento entre os seres humanos, e isso tem feito com que mais e mais pessoas sejam postas à margem da sociedade. O agravante é que o grande número de excluídos é oriundo da classe subalterna – os trabalhadores, os pobres, analfabetos, dentre outros. E uma parcela desta “massa” quando se vê desamparada pelo Estado, sem oportunidades, sem perspectivas de uma vida melhor e sem acesso aos serviços que lhes são “garantidos” por lei pela Constituição Federal encontra na violência e na transgressão um meio de libertação e efetivação tão reais quando suas próprias vidas (miseráveis). Os grilhões responsáveis pela sociabilidade/civilidade são arrebentados. (claro que existem os casos daqueles que são psicologicamente incapazes, mas o objeto de estudo aqui alude aos que não são oportunizados econômica e culturalmente). Assim, pode-se afirmar com certa veemência que dentre os problemas que afligem a sociedade contemporânea os mais comuns são sem sombra de dúvidas a miséria e, por conseguinte a violência. Sendo que esta última se apresenta como uma consequência direta da primeira. Então não se pode combater a violência simplesmente com suposições e conjecturas acerca dos registros do indivíduo, é preciso que se estabeleça uma ponte entre o individuo e sua condição social, econômica e cultural.
Fala-se hoje em mais de quarenta milhões (40, 000, 000) não de desempregados, mas sim de não empregáveis, e, os motivos convergem para um só: a falta de preparo para a atuação no mercado de trabalho. Sendo que esta é prenhe da formação a que o individuo teve ou não acesso. E no que diz respeito a isso, a instituição que se vislumbra responsável por esta “formação” e com isso a construção da cidadania é a escola. Segundo Bauer & Bassi* “A educação que se oferece nas escolas capacita de fato os indivíduos para atuar crítica e construtivamente?”
A cada dia são revistos e discutidos nos meios de fomento a importância que a escola tem na construção de uma sociedade mais atuante e crítica, onde seus partícipes verdadeiramente vivenciam uma participação mais incisiva na sociedade, como também de que forma o professor tem contribuído para possibilitar ao seu aluno uma educação para a emancipação humana. Mas o fato é que a educação (mais especificamente em nosso município) não pode mais ser compreendida simplesmente como um meio de projeção individual, onde cada um faz da forma como lhe convier. Por educação compreenda-se toda ação desenvolvida para a efetivação de outrem enquanto pessoa capaz de mudar sua realidade e a realidade de sua comunidade, levando em conta seus aspectos físicos, cognitivos, culturais e sociais.
E se a escola não contribui de maneira profícua para o desenvolvimento dos indivíduos postos a revelia, se não tolda a todos de forma igualitária com o invólucro do conhecimento, se não possibilita a mudarem suas realidades, então para que serve a escola???
Pode-se entender, portanto, que é fulcral para que haja um bom desenvolvimento na área de educação o vislumbre das variadas realidades desta mesma educação conhecendo o profissional, o aluno, a disciplina, a escola enquanto instituição social e os demais atores do ato educativo. Ao realizar uma avaliação institucional no intuito de compreender as discrepâncias existentes no ensino na cidade tendo noção da visão do professor com relação a educação, aluno, conhecimento, comunidade, conhecimento de mundo do aluno as ações de aprimoramento real na área do saber podem ser pensadas e executadas com mais resultados. Se a sociedade (do conhecimento) não se organizar em prol dos direitos dos inúmeros miseráveis... esta não pode reclamar se estes miseráveis “enfeiam” suas belas ruas;
Se esta mesma sociedade do conhecimento (com os seus “letrados”)não se compadecer dos da periferia... esta não pode se queixar se a cidade está favelada;
Se o comerciante (que passou pela escola)que pode mais ajudar menos... este não poderá querer que não haja pedinte à porta de seu comercio;
Se um político (que passou pela escola)se eximir da “responsabilidade social de lutar e FAZER pelo pobre dizendo que este não é seu papel... deve tirar o paletó e exercer a função de boiadeiro, pois lhe enganaram quando disseram que gente é como bicho;
Se o poder público (com seus(as) doutores(as) e meritíssimos(a) que também já foram alunos(as) )não cumprir com o que determina a Lei (CONSTITUIÇÃO FEDERAL) sobre os pobres e as crianças... para que serve então?!?!
Se as escolas não perceberem que seu papel vai além do A, B, C e 1, 2, 3... deveriam mudar de nome e função ou ser fechadas...
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* BAUER, Patrícia N., BASSI, Tana. “Ética e Responsabilidade Social no Ensino Fundamental”. Qual o Papel da Escola na Formação de Valores Humanos? Revista IntegrAção. São Paulo: CETS, FGV – EAESP, n. 63, jun. 2006.
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