DESCONSTRUÍNDO O PRECONCEITO: Um Olhar sobre o Diálogo das Gerações

Pe. José Neto de França

As trocas de opiniões, em tempos passados, eram marcadas por uma simplicidade que hoje parece distante. Um pequeno diálogo exemplifica essa diferença:

“As pessoas de antigamente:
- Eu gosto de maçã.
- Legal, eu gosto de pera.
- Que bom!”

Nessa conversa, a troca de preferências era leve e respeitosa, celebrando a diversidade de gostos e priorizando a amizade.

Em contraste, as interações contemporâneas frequentemente se transformam em arenas de conflito. No mesmo contexto, temos:

“As pessoas de hoje:
- Eu gosto de maçã.
- Algum preconceito contra pera?
- Não! Nenhum! Só prefiro maçã.
- Então você odeia pera! Maldito odiador de pera.
- Eu não odeio pera.
- Odeia sim! Você me dá nojo! Perofóbico!
- Não! Eu não disse isso.”

Aqui, a simples expressão de uma preferência se torna um campo de batalha ideológico, onde a escolha de uma fruta é interpretada como um ataque a outra. Esse diálogo reflete uma mudança cultural significativa, onde a liberdade de expressão, que deveria proporcionar um espaço seguro para a troca de gostos e opiniões, é frequentemente corrompida pela necessidade de justificar preferências. A ideia de que preferir algo implica desprezar o outro se tornou uma armadilha social, exemplificada nesse diálogo pelo rótulo "perofóbico", rótulo análogo aos utilizados nos conflitos entre os diferentes da atualidade.

A questão que surge é: como chegamos a esse ponto? A busca por inclusão e respeito gerou uma cultura de vigilância sobre palavras e ações. A intenção de criar um ambiente acolhedor, onde todas as vozes são ouvidas, pode resultar em uma comunicação tensa, onde opiniões são suspeitas e escolhas mal interpretadas.

Assim, o verdadeiro desafio da sociedade contemporânea não é apenas aceitar as diferenças, mas encontrar um meio-termo onde as preferências pessoais coexistam sem julgamentos. O respeito deve ser a base de nossas interações, permitindo que a diversidade enriqueça nossas vidas, em vez de dividi-las. Em última análise, a capacidade de apreciar tanto a maçã quanto a pera, cada um à sua maneira, é o que nos torna humanos.

Se cada um olhasse para si mesmo, conhecendo suas potencialidades e buscando se motivar, não haveria tempo para viver em conflito com os semelhantes. Em vez disso, veríamos neles uma extensão de nós mesmos.

Enigmas da vida!

Pe. José Neto de França
Sacerdote e Nutricionista Integrativo – CRN/AL nº 43951

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