"MUITO AJUDA QUEM NÃO ATRAPALHA"

Pe. José Neto de França

Era manhã de segunda-feira. Enquanto me dirigia a casa de uma paroquiana, para pegar o automóvel que tinha deixado na garagem de sua casa, passando por uma das ruas que dá acesso a feira-livre prestei atenção em um adolescente que transportava, numa pequena carroça, as compras adquiridas por uma senhora que por sinal o acompanhava.

A interação entre ele e a dona dos produtos que estavam na carroça foi o que atraiu meu olhar e fustigou meu pensamento. Parecia até mãe e filho!

O semblante de felicidade, sem se envergonhar do tipo de atividade que fazia, crente de estar agindo corretamente, despertando segurança em sua “freguesa” e, consequentemente, essa freguesa nele, foi o gatilho para aquela conversa animada entre os dois. Com certeza, se nenhum imprevisto acontecer, o adolescente ganhou uma cliente e ela um “profissional” de confiança.

Logicamente que eu segui adiante e eles também.

Chegando à garagem, peguei o automóvel e segui viagem, pois era meu dia de folga. Fui à Santana do Ipanema.

Enquanto dirigia, mantendo-me alerta ao trânsito, meu pensamento voltou ao passado distante.

A partir dos oito, talvez nove, dez anos... diante das dificuldades financeiras enfrentadas na época, e sentindo o desejo de ter rendimento próprio, resolvi trabalhar.

Em atividades informais, carrocei, como o adolescente que encontrei nessa manhã; engraxei sapatos; vendi picolés, cocadas, frutas... Fui revendedor da “Hermes” – naquela época os produtos eram de qualidades; infelizmente, hoje nem tanto. Trabalhei em um bar, fui balconista...

Em todas essas labutas eu me sentia orgulhoso e feliz. Trabalhava honestamente; aprendia a ser honesto. As pessoas, clientes, por ocasião desses afazeres informais, respeitavam-me e gostavam de mim, como aquela senhora que interagia com o adolescente que carregava suas compras na carroça.

Nunca alguém apareceu para reprovar o que eu fazia com amor. O que eu conseguia apurar me ajudava a pagar o lanche na escola, ir às matinês (cinema) aos domingos à tarde, adquirir alguma roupa e ainda ajudava em casa.

O trabalho jamais prejudicou meus estudos ou meu lazer. Desde a mais tenra idade aprendi a determinar cada coisa para um tempo devido. Nunca fui reprovado.

Estudo, trabalho e determinação, além de uma educação, de fato, cristã foram a base para o desenvolvimento do meu caráter e de ser o que sou hoje.

Desde que não provoque danos a si ou ao próximo, o quer se faz com liberdade e alegria, não estorva, ajuda!

Seria interessante seguir o dito popular: “Muito ajuda quem não atrapalha!”

Enigmas da vida!!!

[Pe. José Neto de França]

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