Era manhã de segunda-feira. Enquanto me dirigia a casa de uma paroquiana, para pegar o automóvel que tinha deixado na garagem de sua casa, passando por uma das ruas que dá acesso a feira-livre prestei atenção em um adolescente que transportava, numa pequena carroça, as compras adquiridas por uma senhora que por sinal o acompanhava.
A interação entre ele e a dona dos produtos que estavam na carroça foi o que atraiu meu olhar e fustigou meu pensamento. Parecia até mãe e filho!
O semblante de felicidade, sem se envergonhar do tipo de atividade que fazia, crente de estar agindo corretamente, despertando segurança em sua “freguesa” e, consequentemente, essa freguesa nele, foi o gatilho para aquela conversa animada entre os dois. Com certeza, se nenhum imprevisto acontecer, o adolescente ganhou uma cliente e ela um “profissional” de confiança.
Logicamente que eu segui adiante e eles também.
Chegando à garagem, peguei o automóvel e segui viagem, pois era meu dia de folga. Fui à Santana do Ipanema.
Enquanto dirigia, mantendo-me alerta ao trânsito, meu pensamento voltou ao passado distante.
A partir dos oito, talvez nove, dez anos... diante das dificuldades financeiras enfrentadas na época, e sentindo o desejo de ter rendimento próprio, resolvi trabalhar.
Em atividades informais, carrocei, como o adolescente que encontrei nessa manhã; engraxei sapatos; vendi picolés, cocadas, frutas... Fui revendedor da “Hermes” – naquela época os produtos eram de qualidades; infelizmente, hoje nem tanto. Trabalhei em um bar, fui balconista...
Em todas essas labutas eu me sentia orgulhoso e feliz. Trabalhava honestamente; aprendia a ser honesto. As pessoas, clientes, por ocasião desses afazeres informais, respeitavam-me e gostavam de mim, como aquela senhora que interagia com o adolescente que carregava suas compras na carroça.
Nunca alguém apareceu para reprovar o que eu fazia com amor. O que eu conseguia apurar me ajudava a pagar o lanche na escola, ir às matinês (cinema) aos domingos à tarde, adquirir alguma roupa e ainda ajudava em casa.
O trabalho jamais prejudicou meus estudos ou meu lazer. Desde a mais tenra idade aprendi a determinar cada coisa para um tempo devido. Nunca fui reprovado.
Estudo, trabalho e determinação, além de uma educação, de fato, cristã foram a base para o desenvolvimento do meu caráter e de ser o que sou hoje.
Desde que não provoque danos a si ou ao próximo, o quer se faz com liberdade e alegria, não estorva, ajuda!
Seria interessante seguir o dito popular: “Muito ajuda quem não atrapalha!”
Enigmas da vida!!!
[Pe. José Neto de França]
Comentários