SEXTA-FEIRA, 13

Djalma Carvalho

Diz-se que sexta-feira, 13, é dia aziago, azarento, de mau agouro, dia de azar.
Vejo que neste ano de 2022 haverá apenas uma sexta-feira, 13. Passou-se neste mês de maio. E não foi dia de azar.
No Brasil, o dia 13 de maio, por exemplo, é comemorado como o Dia da Fraternidade Brasileira, não obstante tanta desesperança e apreensão do povo em ano de eleição para deputado, senador, governador e presidente da república.
Na História do Brasil, comemora-se a abolição da escravatura, obra e graça da princesa Isabel ao assinar a chamada Lei Áurea em 13 de maio de 1888.
O mundo católico, afinal, celebra o aniversário da aparição da Virgem Maria às três crianças camponesas na Cova da Iria, Fátima, Portugal, em 13 de maio de 1917.
No meu livro Chuviscos de Prata (Editora QGráfica, Maceió, 2000, páginas 83/84), acabo de reler a crônica “Sexta-feira, 13” agora com alguns tópicos revisados.
Disse, então, em 19/12/1994:
“Azar de Alagoas naquela sexta-feira, 13 de setembro de 1957. Não se tratou de mera superstição, mas de azar mesmo.
Fato sangrento, de repercussão nacional, entraria para a História de Alagoas e, indiretamente, alcançaria nossa sala de aula em Santana do Ipanema, bem distante do palco da tragédia.
Não me lembro do nome de todos os colegas da quarta série, que comigo haviam iniciado o curso ginasial em 1954. Éramos 40, e somente 18 chegaram à reta final. Os demais se perderam na estrada ao longo da caminhada, de gratas recordações.
Há, porém, ocorrências como as do fato sangrento citado que engasgam o cronista, porque tristes e lamentáveis. Mas reminiscências, na saudosa visão contemplativa do passado, encorajam-me a prosseguir esta conversa.
Nossa turma marcou época no Ginásio Santana, segundo generosamente afirmaram diletos professores de então, pela homogeneidade do grupo, pelo bom aproveitamento registrado nos boletins e pelo barulho que fazíamos.
Com algum esforço de memória, porque decorrido tanto tempo, cito alguns nomes, certamente correndo o risco da imperdoável omissão: Deceles Lemos, Irene Silva, Maria de Lourdes Aquino, Salete e Terezinha Bulhões, José Rosival Lemos Brandão, José Conrado de Lima, Auxiliadora Santos, Giusa Farias, João Airton Malta Feitosa, Hugo Rego, Sinésio Prazeres, José Marques de Melo e Tereza Marluce, nomes de colegas bem-sucedidos na vida. Alguns mais, outros menos. Tornaram-se médicos, dentistas, advogados, assistentes sociais, jornalistas, bancários, funcionários públicos, empresários, etc. Entre os de saudosa memória, José Marques de Melo, superdotado, tornou-se professor universitário (Doutor e Ph.D.) e conferencista pelo mundo afora.
A sala de aula tinha vistas para a Praça da Bandeira, hoje Praça Dr. Adelson Isac de Miranda, mal iluminada pela empresa de luz da cidade, e tudo parecia tranquilo e calmo. Naquela noite, bem não começara a primeira aula, o estafeta batia à porta da classe. Trazia telegrama do deputado Siloé Tavares para a filha Teresa Marluce, nossa querida colega de turma. Tratava-se de dramática mensagem de despedida de um pai em desespero. Poderia não sair com vida da sessão da Assembléia Legislativa daquela tarde, mas iria cumprir o dever de deputado, honrando a família e o mandato conferido pelo povo de sua terra.
A classe inteira ficou solidária com Teresa Marluce, colega em pranto, em lágrimas. Não houve mais aula naquela noite, de tumulto e desespero.
Alagoas conhece a história do tiroteio da Assembleia Legislativa: votação do impeachment do governador Muniz Falcão, morte do deputado Humberto Mendes e muitos feridos. Manchetes de sangue e violência estampadas nos principais jornais e revistas do País.
Santanense e homem de coragem, o deputado Siloé Valeriano Tavares ileso escaparia do episódio e entraria para a história com sua bravura. Evitara maior derramamento de sangue e mais vidas tombadas. Em instantes decisivos, numa sala próxima ao plenário, uma metralhadora ficara presa entre seu corpo e o do jovem Walter Mendes, impedindo que o gatilho fosse acionado.”

Maceió, maio de 2022.

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