64 ANOS sobreVIVIDOS

Pe. José Neto de França

Um dos grandes erros do homem é criar expectativas achando que tudo permanece como antes: “vou visitar, rever minha terra”; “vou rever amigos”; vou... etç...

Ora, olhando para o percurso que fiz nos meus 64 anos vividos, reforço o que já tinha aprendido desde a mais tenra idade, mesmo sem os conhecimentos acadêmicos e existenciais que “administro” no presente, que nada é meu ou me pertenceu algum dia, como, também, nada é como era... Tudo está em mudança; tudo passa. O devir, o tempo tudo muda, “consome”.

A terra não é mais a mesma, os amigos não são mais os mesmos, eu não sou mais o mesmo! Algo mudou; foi acrescido... Como disse Heráclito, um filósofo pré-socrático: “nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio... pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!”

O que foi ou o que está sendo apreendido pela minha inteligência é a única representação “real” do que foi o passado na linha do tempo do meu existir, mesmo assim, “embotado”, também pelo próprio tempo.

E aqui estou eu! Mais velho (sábio??? Rsss...), quase idoso (rssss...), lapidado segundo o que me deixei lapidar. Jamais competindo com quem quer que fosse, mas comigo mesmo! E, mais, com a consciência tranquila por agir o melhor possível dentro das leis que regem a vida de todo cidadão (humana) e cristão (Deus e da Igreja).

Compreendido, incompreendido; acolhido, rejeitado; amado, odiado... igual a qualquer mortal. Tanto porque, por mais que queiramos, perfeito só Deus!

Não afirmo “ter” 64 anos, pois estes não os tenho mais. Já os desfrutei! Tenho, nesse contexto do “ter” e do “não-ter” e do “ser” e do “não-ser”, o que Deus me permitirá viver ainda nessa vida temporal: 1, 5, 10, 15, 20, 30... anos...

Dessa forma, no contexto do que falta e não do que já passou, mesmo sendo no dia 25 de maio, data que saí do útero de minha mãe, não comemoro o meu aniversário, mas meu “desaniversário”. Uma vez que se deve valorizar o que falta e não o que já passou, todo dia é dia de “desaniversariar”... Pense no “neologismo” aplicado ao existencial! Não vivo no “país das maravilhas”, mas posso fazer, dentro do possível, algo que possa se tornar “maravilha”! Rssss...

Se meu grande e eterno amigo Rodolfo estivesse nesse plano, com esse texto, eu iria deixá-lo, como tantas vezes o deixei, “obnubilado!”

Enigmas da vida!!!

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