Seu Palhaço

Luciene Amaral da Silva

“Seu palhaço! você está pensando que aqui é algum circo? por isso que você não vai se dá bem nunca na vida e não vai parar em lugar nenhum. Palhaçada, fique quieto!” . Era 11: 45 da manhã de terça- feira, 30 de março de 2010, quando a professora de uma turma de 4° ano que estava substituindo o professor da turma, estava concluindo as atividades do dia. Sem no mínimo se importar com os funcionários que estavam no corredor a ouvir e se escandalizar com tamanha agressão àquela criança. Professora da rede pública municipal, apenas mostrou o que acontece nas mais variadas escolas da rede pública. Esse é apenas a ponta do iceberg que está submerso embaixo de tanta monstruosidade e humilhação que acontece na sala de aula.

Na sala de aula acontecem coisas que nós nem imaginamos. Todos os dias milhares de crianças em todo o Brasil são vítimas de maus tratos, agressões verbais, humilhações por parte de professores e demais funcionários das escolas. Ninguém os protege, crianças indefesas, ninguém consegue está presente para testemunhar tamanho descaso que acontece com a criança e com o ensino no país. O que se tornou o espaço, sala de aula?

Podemos refletir sobre o que motiva um professor a agir dessa forma? Por que ele “odeia” o que faz e mostra isso todos os dias em sua prática de sala de aula? Sabemos que uma boa parte dos profissionais que estão em sala de aula não queria ser professor. Apenas estão lá para garantir o sustento da família e porque não conseguiram outro trabalho.

Muitas vezes ouvimos de professores que “odeiam a educação” - conheço pedagogos, teóricos da educação, que também não “suportam a educação”- mas estão envolvidos por não “encontrarem outra coisa melhor para fazer.” Nos cursos de formação de professor, a temática humanização está longe de ser trabalhada. A sociedade não precisa de professores técnicos, mas de professores humanos que no mínimo respeitem a condição da infância.

Nos concursos de seleção para professor, além de testar os conhecimentos através de provas objetivas, deveriam também incluir prova de redação, onde pudesse comprovar se o professor tem as habilidades necessárias para construção de um texto com coerência, grafia legível, gramática correta, bem como, avaliação de uma aula planejada que apresentasse situações e problemas do dia a dia para ele resolver; como também um teste psicológico, onde verificasse sua aptidão por criança e pela profissão. Não resolveria tudo, mas a aprovação seria um esforço para que apenas o que estivesse decidido a ser professor podesse entrar. E o mais importante, não tivesse intervenção político-partidária no processo de seleção. A Polícia Federal, dentre outras seleções, utiliza método de seleção bem rigoroso para evitar futuras negligências, se esse modelo também fosse aplicado à educação, talvez a policia não tivesse que prender tanto bandido.

E onde está quem deveria cuidar dessas crianças? Professor, Coordenador Pedagógico, Diretor, Pais, Conselho Tutelar, Secretarias de Educação, Governo, enfim, sociedade civil. Se cada um fizesse a sua parte e não procurasse culpar o outro se eximindo de sua responsabilidade, atribuindo ser do outro a negligência, não precisaria tantas grades e muradas tão altas, tanta vigilância, tanto medo e tanta droga.

O que fazer para mudar? Correr, se esconder, mudar de bairro, cidade, país, se eximir, fingir que não é com você, ir à luta, fazer sua parte, se unir, tentar mudar, enfrentar a realidade, se jogar, se arriscar, não cruzar os braços, fazer diferente, dar uma chance a você mesmo e ao outro de poder neste mundo ser diferente. E aí, o que você escolhe?

Boa Sorte!

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