DO CHÃO NATIVO À ALDEIA GLOBAL

Djalma Carvalho

Há pouco concluí a leitura do livro Vestígios da Travessia (Da imprensa à internet – 50 anos de jornalismo), publicado em 2009, de autoria de José Marques de Melo, conterrâneo de Santana do Ipanema. Ao longo de 303 páginas, conta sua vida e sua vitoriosa carreira profissional como jornalista, professor, cientista da comunicação e conferencista. Colega ginasiano e seu admirador de carteirinha, li o livro, saboreando-o, num misto de satisfação e orgulho.
Graduado em Jornalismo (1964) e Direito (1965), respectivamente pelas Universidades Católica e Federal de Pernambuco, e pós-graduado pela Universidade Central do Equador (Quito), o autor ganhou o mundo como peregrino da ciência da comunicação, ensinando, atuando em cátedras, fazendo palestras, participando de conferências e conquistando prêmios, títulos e honrarias, no Brasil e no exterior.
Não bastasse a primeira notícia, chega-me a segunda ainda mais auspiciosa. A Universidade de Oviedo (Astúrias, Espanha) concedeu-lhe, há pouco, o prêmio Ibero-Americano de Teoria da Comunicação 2010. Também três universidades brasileiras acabam de outorgar-lhe o título de Doutor Honoris Causa: Maranhão, Católica de Pernambuco e Positivo de Curitiba. Em 2003, a Ufal concedeu-lhe o mesmo título.
Trata-se, pois, do primeiro acadêmico brasileiro a conquistar o título de Doutor em Jornalismo no país. É docente fundador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, diretor da cátedra Unesco/Umesp de Comunicação Social, professor da Universidade Metodista de São Paulo e fundador e presidente de honra da Sociedade Brasileira de Ciências da Comunicação. Autor de meia centena de livros sobre ciências e teorias da Comunicação, atualmente ele coordena uma comissão especial de professores de jornalismo, organizada pelo Ministério da Educação.
Em seu livro de memórias, ele comenta: “Tenho atuado não apenas na vanguarda noticiosa, como repórter ou comentarista, mas principalmente na sua retaguarda. Como pesquisador dos fenômenos jornalísticos, venho embasando a formação dos futuros agentes da informação de atualidades.”
Dizia o saudoso professor Sílvio de Macedo que a terra natal exerce especial atração sobre seus filhos, fazendo com que eles retornem às origens, hoje ou amanhã, ainda que a passeio nostálgico. Pois bem, tratando do retorno à aldeia nativa, assinala José Marques de Melo: “Não posso deixar de reconhecer que somente na passagem do século tive a chance de voltar às minhas raízes culturais.”
Como seu colega de classe no Ginásio Santana, no período de 1954 a 1957, sempre admirei o talento e a privilegiada inteligência que o levavam a obter nota máxima em todas as matérias durante o curso. Na vida profissional e como intelectual, portanto, não poderia ser diferente. É um vitorioso, admirado, festejado e aplaudido, sobretudo no âmbito do mundo acadêmico.
Afinal, o conto “Seu Né Ladrão” do livro citado lembrou-me o mito que se criou em torno dessa figura singular da cidade de Santana do Ipanema do final da década de 1940. Seu Né penetrava, à noite, nas residências sem ser percebido. Dizia-se que, antes de deixar sutilmente o quarto do casal, por exemplo, ele costumava aplicar uma palmada no bumbum das senhoras que encontrava a dormir desarrumadas...

Maceió, abril de 2010.

Comentários