Fui criada sem saber o nome das coisas que a gente tinha que fazer desde criança, como também as coisas que a gente sentia. Minha mãe sempre dizia que tinha que pensar no outro, lembrar dos irmãos (somos quatro filhos) então na convivência em casa tínhamos que aprender a dividir, a esperar o outro, a pensar no outro, a não comer tudo de uma vez porque faltava alguém, isso se chamava sobrevivência. Vejo na constituição de famílias grandes a necessidade dessa prática, mas nem sempre era assim em todas as grandes famílias.
Hoje, para famílias de um filho apenas, o caminho fica mais longo para aprender a ver a situação do outro sem partir da experiência de irmãos, isso poderá ser ensinado a partir de conceitos mais abstratos até o convivio com outras pessoas. Não que seja regra geral, mas são questões que entram como elementos a acrescenar na análise do conceito de alteridade. Eu tenho apenas uma filha e vivencio essa segunda experiência.
Então, não conhecia palavras como empatia (apenas na pandemia) até o momento tinha ouvido falar de simpatia e antipatia. E alteridade como exercício da empatia também desconhecia, apenas tinha lido, mas depois que vi essa discussão de 2020 para cá, vi que já éramos empáticos e vivíamos a alterdidade com nossos irmãos, com nossos colegas de escola, amigos, amores, e pessoas desconhecidas também, quando não precisávamos dos rótulos da moda como empatia e alteridade, mas sabíamos o que tinha que ser feito.
Em que situações eu tenho dificuldade de por em prática a Alteridade?
Em qualquer situação que ative um gatilho em mim. Umas, consigo ainda ser medianamente empática para justificar meu lado bom, mesmo não sentindo nenhuma compaixão pela pessoa que me faz sentir uma dor que não foi curada, e outras, não sinto empatia pela escolha que ela fez atingindo também algo em mim.
Como exercício da empatia às vezes percebemos que buscamos ser empáticos para aqueles que correspondem as nossas espectativas e que se fazem algo que mexe em nossas fraquezas e limitações internas não conseguimos ser empáticos com eles
Como exercício da escutatória, percebemos a necessidade de maior prática dessa dádiva. Desde muito jovem eu fui porcurada para escutar as pessoas, eu lembro que escutava pessoas bem mais velhas que eu e minha mãe era do mesmo jeito, a pessoa de confiança de toda a família. Fui criada também sendo a pessoa de confiança de toda a família e isso me fez ter uma vida de escuta, principalmente porque evitava ao máximo os julgamentos, sempre pensava: essa pessoa não precisa de mais um carrasco pelo tanto que ela já tem em sua vida.
E hoje, essa situação se agrava ainda mais, o número exagerado de pessoas precisando de escuta e ninguém quer parar para ouvir o outro, todo mundo só quer falar, por isso que a escola de escutatória de Rubem Alves não iria ter matrícula. É uma sede gigante por falar. E daí me vejo questionando quantas pessoas não são silenciadas quando criança, tanto em casa, quanto na escola e na vida adulta (e juvenil) essa “panela de pressão” não aguenta mais e para não explodir (mas está explodindo em quantidade exagerada) as pessoas precisam falar e muito, só que falta gente para escutar.
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