COISAS DO MEU SERTÃO

Luciene Amaral da Silva

Quando o poeta falou que “não há oh gente oh não, luar como este do sertão” ele já havia sentido o que muitos sertanejos demorarão uma vida inteira para perceber.

O sertão geograficamente falando é a parte de uma região caraterizada pelo clima quente e seco, onde a predominância de chuva é pouca, uma vegetação adaptada ao seu clima, a caatinga e longos períodos de estiagem, mas sua apresentação geográfica desenvolveu em povo uma resistência nata, uma esperança insistente e uma admiração sem igual.

Ao falar do nosso sertão é preciso sentir na alma sua representação, saber que sua existência já se crava como uma tatuagem tanto em nosso corpo, como em nossa alma. A exuberância do sertão não pode ser vista apenas com os olhos, pois só o coração consegue interpretar e entender qual magia se esconde nesse pedacinho de canto do mundo.
O céu estrelado, que não indica apenas ausência de chuva, as casas com varanda, o carro de boi, as feiras, as manifestações culturais, o dialeto, as estradas de terra, as passagens molhadas, o jumento, a criação de galinha no quintal, enfeitam ainda mais a paisagem e se tornam elementos para as poesias.

As coisas do meu sertão me dão orgulho dizer
Que sou sertaneja valente e vivo isso com prazer,
E só sabe o sabor desse chão quem de lá pode viver
Que conhece a formação de um povo cujo coração não se entrega ao sofrer.

Mas me envergonho e me entristeço ao ver a nova geração
Com vergonha de dizer que mora aqui no sertão
Serem vitimas de ignorantes que criticam nesse instante o povo que mora cá
Com preconceitos construídos sobre discursos induzidos
Pela mídia atribuído sem ao menos questionar.

Como a nova geração, alienada pela TV
Querem parecer com a “Malhação”, pois são ‘melhores que você’.
Adotam um estilo de artista, se confundem nesta vida com um mundo virtual
Aderem ao modelo sulista, achando que fica bem na fita e do sertão ficam de mal.

Ter vergonha do seu lugar é uma atitude inferior
É o primeiro passo pra escravizar sem sentir dor
Se tornar do mundo um lixo, sem nem poder se reciclar
Essa moda é uma furada, saia dessa cilada enquanto poder se salvar.

Patativa de Assaré foi quem me inspirou, a versar sobre o sertão berço do meu amor
Com orgulho e alegria de dizer todo dia que esse chão me criou
Pois nessa terra tão querida que me deu essa acolhida daqui não saio não
Já ‘finquei’ minhas raízes, com esse povo que vive não apenas de ilusão.

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