VIOLA MINHA VIOLA

José Malta Fontes Neto

VIOLA MINHA VIOLA

Semana passada, especificamente no sábado, depois de uma trégua do Carnaval 2012 produzi uma crônica, publiquei duas vezes e na última correção resolvi não mais publicar, pois a cada vez que corrigia mais me entediava, ou talvez me contaminava com o que escrevia, quem sabe por estar fazendo apologia a uma coisa anticultura, mas que está sendo difundida entre todos nós, e quem sabe se demorar muito enfica. Poxa contaminou mesmo!

Hoje agradeço a Deus por um momento especial que acabo de viver e corri para o computador a fim de compartilhar com meus leitores essa dádiva.

Fui a casa de D. Nininha para o meu desejum e como tenho a mania de nesse momentos ver um pouco de TV o fiz, mas certo de que a programação de domingo não iria me agradar. Insisti, o primeiro canal não gostei, no segundo parei um pouco e vi a alegria de Jair Rodrigues, digamos até as molecagens dele interpretando um dos seus clássicos, veja a letra e imaginem o Jair na sua performance:

Prepare o seu coração
Prás coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar...

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar...

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu...

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei...

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente...

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar...

Que mágico ouvir Jair Rodrigues cantar Disparada de Geraldo Vandré. Eu que pensei que esse era minha descontração, porém o moleque que se apresentava no Programa Viola Minha Viola de Inezita Barroso continuou e mandou um clássico do mundo sertanejo:

Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor

Sou igual o sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde o galho onde está
Nesta viola canto e gemo de verdade

Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira chão

Todo cheio de buraco
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada

Principia o barulhão
Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Lá no mato tudo é triste
Veja o jeito de falar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar

O choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo
Como as águas vão pro mar

Tristeza do Jeca de Sérgio Reis me faz voltar ao passado quando ainda pequeno via e ouvia essa música cantada pela dupla Tuta e Tota, formada pelos irmãos José Rodrigues Fontes (meu pai) in memoriam) e Abdon Rodrigues Fontes (meu tio)

Mas o Jair continua com sua irreverência e manda uma outra música espetacular, feita pelo famoso jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento o Rei Pelé. Não consegui a letra completa mas um trechinho diz assim: “Abra a porteira que eu quero entrar, cidade grande me faz chorar...”

E o encerramento da participação do Jair no programa Viola Minha Viola deste domingo foi com chave de ouro. Em parceria com a cantora sertaneja Inezita Barroso e âncora do programa, como os seus 87 anos , interpretaram essa pérola:

Lá num canto, da fazenda abandonado,
Todo sujo, empoeirado, um pilão se pode ver.
É negro como a asa da Graúna,
Da mais dura Baraúna,
Que morreu pra ele então viver.

Na algazarra da cozinha ele ficava,
E tudo mundo aproveitava, pra socar milho e café,
E era nesse tempo de alegria,
Serviçal que noite e dia,
Trabalhava sem cessar com fé.

E agora, neste instante estou lembrando,
O progresso foi chegando,
E o pilão foi esquecido sim.
Coitado, ninguém mais se lembra dele,
E dá pena ver que ele,
Como um trapo chega ao fim.

Velho pilão sou eu, destino igual ao teu,
Tão enjeitado, abandonado sem ninguém.
Velho pilão eu sou, tão solitário estou,
Quando me invade, esta saudade do meu bem.

Será que depois desse momento eu vou parar de andar pelo meu sertão incentivando nossos jovens a conhecer peças literárias como essa? Essa música é Velho Pilão de Inezita Barroso que junto com o Jair Rodrigues declamaram a poesia musical. A cada verso que ouvia, lembrava de um velho pilão que na minha infância, mesmo raquítico pisei milho para o xerém e ajudei a pisar o café torrado na casa da minha avó na cidade de Carneiros. Voltei ao meu passado de forma alegre, com lágrimas no rosto e com a vontade imensa de querer mostrar a juventude de hoje esses valores. Queria poder incluir nesse espaço o áudio ou vídeo da música, mas não é possível ainda.

E para encerrar descrevo a última parte desse momento, a homenagem feita a Inezita Barros pelos seus familiares e Jair Rodrigues com os parabéns e o bolo de aniversário em comemoração dos 87 anos da artista que não larga o microfone e com uma voz rouca continua a cantar. Eu posso até ousar a dizer um rouxinol da TV Brasileira.

Meus parabéns também a Inezita Barroso e o agradecimento por ter feito voltar ao meu passado e viver momentos como esses. Aproveitei e dei uma visitada no site http://www.inezitabarroso.com.br e vi a dinâmica da cantora.

Quem disse que a TV Brasileira não tinha bons programas se enganou. Procure direitinho que acha!

VIVA A CULTURA DO BRASIL.

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