O ÔNIBUS DE MADEIRA

José Malta Fontes Neto

A Seção Literatura do Portal Maltanet tem inspirado muita gente a apresentar seus dotes literário, como também servir de espaço para publicação daqueles que tem a veia poética aflorada como é o caso dos santanenses Remi Bastos, Djalma Carvalho, João Francisco das Chagas Neto dentre outros.

Acabo de ler nesta terça-feira, 16 de setembro, data em que comemoramos a emancipação política de Alagoas uma reflexão enviada para a seção pelo muralista José Avelar Alécio cujo título é O QUE FIZEMOS E ESTAMOS FAZENDO DE NÓS? A reflexão do Avelar recheada de questionamentos sobre as brincadeiras saudáveis que vivemos em nossas infâncias e que hoje estão praticamente extintas, me fez lembrar o meu Ônibus de Madeira.

Nasci em Santana do Ipanema, mas passei toda a infância na cidade de Carneiros onde minha mãe era Diretora do Grupo Escolar Dr. Emilio de Maia. Só voltamos para Santana do Ipanema em 1978 quando conclui o ensino fundamental e teria que estudar o médio e naquela pequena cidade não tinha condições. Meus pais bem que tentaram que cursasse o ensino médio no Colégio Cenecista Santo Antonio de Pádua em Olho d Água das Flores, como todos os jovens daquela época faziam, mas isso só foi possível um ano. Naquela época eu era raquítico e as viagens noturnas fizeram com que contraísse uma pneumonia, motivo pelo qual minha avó Rita de Andrade Belo Malta intercedesse junto ao então político Adeildo Nepomuceno Marques que com sua influência conseguiu a transferência de minha mãe para o GEOBA – Grupo Escolar Ormindo Barros.

Mas voltemos à infância em Carneiros. Naquela cidade apesar de ter minha residência na Rua Adão Vieira passava a maior parte do tempo na casa do meu avô paterno e foi nessa casa que aprendi a gostar de um objeto de grande estimação. Era um cepo que visualizei como um ônibus. Não tinha portas, janelas, pneus, nada apenas uma pequena curvatura numa das extremidades o que para mim ficou parecido com um coletivo.

Todos os dias quando chegava da escola tinha que providenciar a construção da estrada pela qual o ônibus iria trafegar toda a tarde, pois logo cedo minha avó varria o quintal e apagava a estrada feita no dia anterior. Pontes eram construídas com muito carinho, até ladeiras e curvas fechadas eram improvisadas.

Feitas as estradas começava aquilo que para os dias de hoje seria uma maluquice. Um pedaço de madeira sem muita forma, sem rodas deslizando pela estrada de terra e assim passava toda a tarde. Quando o sol descia no horizonte e o quintal começava a ficar escuro guardava cuidadosamente meu brinquedo para no outro dia voltar a transportar meus passageiros virtuais.

Hoje observamos que os brinquedos estão cada vez mais sofisticados, vídeo-games, computadores, carros com controle remoto e as crianças na maioria das vezes brincam por poucos dias. Depois os esquecem, pois a essência divina na maioria não está presente e sim o fruto do consumismo desenfreado.

O meu ônibus eu conquistei e com ele fiz um laço de amizade muito grande. Aquele pedaço de madeira, aparentemente sem vida para mim tinha um valor incalculável, pois todas as tardes estávamos juntos, desfrutando o prazer de grandes viagens no universo dos sonhos e da imaginação, com passageiros invisíveis, mas presentes oriundos da consciência infinita do qual todos nós fazemos parte.

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