Depois de muito tempo e já lendo por diversas vezes o Pequeno Príncipe hoje reflito sobre o encontro do principezinho com a raposa e volto ao passado apenas para lembrar essa passagem tão interessante.
Vou relatar o meu encontro com um coelho que comprei para meu filho Akhenaton, que por dias insistiu que desejava ter um animal de estimação. Atendi a solicitação e logo chegou o bichinho muito bonito de cor cinza e olhos profundos orelhas sempre apontando para o céu como todo coelho. Chegou esperto e sua esperteza às vezes até se transformava em estripulia. Nada ficava quieto no quintal ele remexia tudo, cavava, comia ervas, e até as partes inferiores das plantas ele não deixava em paz o que levou seu dono a ter que prendê-lo.
O local destinado era um antigo criadouro de cágados com quatro metros quadrados e com paredes de quarenta centímetros de altura, coberto de telhas para a chuva não inundar tudo. Não sei por quanto tempo o ele ficou ali. Só sei que seu dono esqueceu o coitado, vez por outra comida e água era colocada por alguém da casa. Também não sei a regularidade disso. Não estava preocupado com ele.
Certo dia me deu vontade de caminhar um pouco pelo quintal, de pés descalços, pois estava necessitando de energia telúrica. Caminhei por alguns momentos e depois sentei numa pedra para receber um pouco dos raios do sol. Nesse instante avistei o coelho que havia fugido do seu cárcere e estava transformado, feio e com apenas uma orelha em pé. Fiquei muito triste, foi como se fosse a mim aquele dano. Não parecia um coelho, algo estava errado. Por alguns instantes pensei no abandono que foi imposto para o animal e procurei fazer um contato com ele. Ora pode isso? Claro que pode. Busquei algo para ele, mas não encontrei. Olhei ao meu redor e vi um lindo pé de acerola com frutas bem vermelhas. Imaginei que o Manoel ,nome dado a ele nesse instante, iria gostar. Colhi algumas e ofereci , mas assustado foi embora e se escondeu por entre as outras plantas que tinha no quintal. Como imaginei, ele estava com medo de mim, deixei as frutas no chão e me afastei um pouco. Manoel timidamente veio com muito cuidado e comeu todas. E voltou a se esconder.
No dia seguinte resolvi novamente ir ao quintal, pois acreditei que com meu carinho Manoel iria melhorar e quem sabe ficar bonito novamente. Mas ele continuava arisco. Caminhei um pouco depois colhi novas acerolas e deixei no local e o mesmo aconteceu. Na vez passada me escondi olhei por uma fresta, onde ele não pudesse me ver, dessa feita fiquei a distância, mas exposto. Manoel veio timidamente voltou, olhou para mim ficou de longe e a fome era bastante que foi chegando comeu rapidamente tudo e se escondeu mais uma vez. Esse ritual se repetiu por alguns dias, mas a cada dia percebi que encurtava a distância e o Manoel não se incomodava tanto até que um dia ele veio e comeu em minha mão. Era o que queria, pois acreditava que num contato físico conseguiria ajustar sua orelha que continuava para baixo.
Passaram-se os dias e sempre no inicio da manhã quando o sol já estava alto no horizonte encontrava o Manoel e até mudei o cardápio também oferecendo cenouras que ele bruscamente ia comendo em minha mão em movimentos rápidos e fortes, devido a seus dentes afiados. E um fato novo com o passar dos dias Manoel comia e ficava junto de mim apreciando o sol e eu aproveitava para massagear sua orelha que já dava sinais de vigor, pois mexia um pouco. Sorri a agradeci ao pai quando vi esse movimento, pois foi do contato diário que um belo dia o Manoel saiu da sua toca com as duas orelhas de volta lindas e apontando para o céu.
Passamos bons dias juntos eu até conversava com ele, contava minhas mágoas e ele compreendia pois fazia movimentos lindos, mas a mecanicidade da vida fez com que eu um dia não fosse mais ao encontro do Manoel, outro dia, mais um dia e não me lembro como aconteceu, depois de ter recuperado meu amigo me esqueci dele. E para minha surpresa certa manhã ele não apareceu e me avisaram que o Manoel havia comido algo e morreu. Hoje quando escrevo essa crônica ou conto meus olhos se enchem de lágrimas, pois vejo que talvez tenha sido meu abandono com o querido Manoel que fez com que ele buscasse qualquer coisa para comer, se alimentando do que não devia. Ou talvez ainda mais sério. Será que o Manoel morreu de desgosto? Bem a resposta só ele poderia dar.
Então somos responsáveis pelo que cativamos. Esse escrito parece uma história infantil e é, pois escrevo com a criança de minha alma que gostaria tanto que o Manoel estivesse aqui. Quantas coisas conquistamos e depois perdemos o encanto. Por que será? Faltou amor? Existiu amor? Vamos refletir?
Aproveitemos a reflexão para levantarmos a cabeça e agarrar com unhas e dentes as novas conquistas, pois elas serão eternas, deste que cuidemos com carinho. SOMOS RESPONSÁVEIS PELO QUE CATIVAMOS.
Um abraço a todos.
Santana do Ipanema – AL, 05 de setembro de 2008
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