NORDESTE, MEU NORDESTE

José Malta Fontes Neto

Passados os momentos imediatos pós eleição, quando o povo brasileiro, democraticamente foi às urnas e elegeu a presidente que continuará a dirigir os caminhos do país, considerado pelos espíritas de coração do mundo “Pátria do Evangelho”.

Ao longo da campanha ouvi e vi o povo desempenhando bem o seu papel de opinar, discutir, apresentar justificativas para seguir um caminho ou outro da política partidária. Como não sou adepto desse setor, nada disse, mas evidentemente, tenho minhas convicções que deixei para apresentá-las diante das urnas eletrônicas.

Pois bem, passados esses dias, senti no meu coração o desejo de escrever essas poucas linhas, apenas para destacar alguns pontos que não posso deixar passar em brancas nuvens.

Senti como uma facada em meu peito, ver alguns dos irmãos nordestinos afirmarem em redes sociais que a vitória da eleição foi da fome, que nosso torrão ficará na miséria, pois foram os miseráveis que elegeram a presidente. Eu posso até concordar que foi realmente a fome, e acredito que só quem passou fome sabe o que é. Será que esses que dizem isso, já passaram fome?

Lembro-me bem nos anos 70, eu com 7 anos de idade, na cidade de Carneiros na nossa mesa não faltou alimento, mas vi muitos dos meus conterrâneos comerem “berduega”, planta essa de gosto que substituía a carne. No prato, caldo de feijão-de-corda, velho pra danar. Hoje essa planta é decorativa, pois a fome foi erradicada do nosso país, conforme afirma a Organização das Nações Unidas. Digo decorativa, pois passando pela VI Coordenadoria Regional de Ensino de Santana do Ipanema pude ver no jardim daquela instituição essa plantinha que ajudou a conter a fome de muitos irmãos sertanejos e esse filme voltou à minha memória.

Falo de ausência de conforto em lembrar, que muitas vezes, na casa dos meus saudosos avós, comíamos apenas feijão-de-corda com farinha no formato de bolo, feito na mão e a mistura era apenas caldo de feijão com um pouco de cebola vermelha e uma pitada de pimenta. Oh! Que caldinho gostoso.

Hoje as mesas, se não fartas, mas tem o mínimo para comer e dar aos seus filhos.

Mas tem outra fome ainda mais perniciosa: A do saber! Queridos leitores, ao concluir o ensino médio em nossa querida Santana do Ipanema, meus pais não tinham a menor condição de bancar meus estudos, pois as universidades somente existiam na capital, e mesmo assim eram raras. Será que estou mentindo? Quem tinha posses mandavam os filhos para Maceió ou Recife. O pobre se contentava apenas com o ensino técnico para depois arranjar um emprego e continuar sua vida.

Hoje, meu orgulho é enorme em ver meus filhos, Cheops Araújo Malta, mestrando na Universidade Federal de Alagoas – UFAL com duas graduações e uma pós-graduação e Isis Regina de Araújo Malta, graduanda de jornalismo, estudando o 5º período, também na Universidade Federal de Alagoas.
Em Santana do Ipanema temos a nossa UNEAL que está desassistida pelo atual governo estadual, mas seus servidores são guerreiros. No campo federal temos polo da UFAL, Campus do IFAL e UAB com diversos cursos à distância. Ainda na educação temos as diversas instituições particulares na modalidade à distância.

Será que isso não é desenvolvimento do nosso Nordeste? Será que foram somente os famintos que deram um crédito para a continuidade desse projeto?

Discordâncias, acredito que sejam salutares e próprias de uma democracia, mas atribuir a miséria a votação, talvez não seja apropriado.

Agora posso dizer que é necessário saciar outra fome, a do conhecimento do desenvolvimento e isso cabe a nós cidadãos, digamos com um pouquinho mais de sabedoria. Por que não orientar nossos irmãos sobre o que é desenvolvimento? Preparar o terreno que é fértil, informando dos benefícios recebidos? Temos que cobrar dos nossos representantes novos avanços.

Por que não incentivar a fiscalização da aplicação dos recursos públicos nos setores certos?

Por fim, desejo parabenizar o povo nordestino por reconhecer que avançamos um pouco mais e que necessitamos de mais sabedoria nos próximos processos eleitorais.

Antes de finalizar, convém reconhecer que quem elegeu Dilma Rousseff foi o Brasil e não apenas o Nordeste.

Confiram os números de votos dados a Dilma:

Sudeste...............19.867.894 votos
Sul................... 6.759.908 votos
Centro-Oeste.......... 3.254.304 votos
Norte................. 4.393.301 votos
TOTAL................ 34.275.407 votos
Nordeste......,,,,... 20.176.579 votos

Finalizo essa crônica deixando na íntegra a poesia NORDESTE INDEPENDENTE de autoria de Bráulio Tavares e Ivanildo Vila Nova. Eu conhecia apenas os versos da música imortalizada por Elba Ramalho, mas a poesia completa é espetacular. Vejam:

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Se o Nordeste tivesse outras fronteiras
Talvez fosse tratado com capricho
Sem servir de depósito pra lixo
Das usinas atômicas Brasileiras
As enchentes das músicas estrangeiras
Talvez fossem pra outro continente
Se vivesse uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

A partilha ainda sendo homologada
E o Nordeste guiando seus destinos
Mais de cinco milhões de nordestinos
Voltarão para a terra idolatrada
Trocarão a Garoa e a geada
Pela roça, a enxada e o sol quente
Ninguém vai mais explorar nossa gente
Com até hoje tem acontecido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Dividir o Brasil sem haver lutas
E deixar o Nordeste com os seus vícios
Mas sem ele pagar com sacrifício
Grandes obras reais que nem desfruta
Não precisa ter sangue na disputa
Bastaria a separação somente
Pois se fosse escolher o mais valente
Eu já sei qual dos dois era vencido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Talvez tenha muita gente que protege
Minha ideia me chamando de imbecil
Um país com o nome de Brasil
E o outro chamado de Nordeste
O Brasil não padeceria a peste
Desta seca que vem constantemente
E o Nordeste sem esse seu parente
Ia ser muito melhor compreendido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Paraíba era o centro artesanal
Piauí o setor da criação
Em Sergipe Cultura e tradição
Maranhão a reserva florestal
Na Bahia o distrito industrial
Alagoas agrícola e florescente
Rio Grande o poder militarmente
Ceará para o turismo era escolhido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Nossas rádios iam ser nordestizadas
Tocaria Xote, forró, baião
As Tvs só fariam transmissões
De cantorias, cirandas a vaquejada
As crianças seriam batizadas
Só com nomes bem simples como a gente
Não se usava esses nomes diferentes
Que não dar pra botar nem apelido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Em Recife, o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola, o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

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