ANFITEATRO VIRA BANHEIRO

José Malta Fontes Neto

Inicio esta crônica dizendo que estou triste por ver que muitos se esforçam para manter vivos os valores morais e culturais, são pessoas simples e que tem uma visão ampliada. No entanto outros detentores de poderes fazem o contrário.

Nos fins dos anos 80 o ex-prefeito de Santana do Ipanema Dr. Isnaldo Bulhões Barros que administrou nosso município no período de 1983 à 1988 fez mudanças estruturais na arquitetura da cidade de forma marcante. A primeira a foi ampliação da conhecida Ponte do Padre que era tão pequena que não passavam dois carros ao mesmo tempo; na inauguração contamos com a presença do cantor Jorge de Altinho. A segunda, a mais marcante, foi o prédio sede da Prefeitura Municipal que de um grande salão se tornou uma moderna estrutura. Na época a segunda sede municipal mais bonita do Estado, perdendo apenas para São Miguel dos Campos. E a terceira mudança foi a fusão das praças Senador Enéas Araújo, Independência e Manoel Rodrigues da Rocha em uma só. Infelizmente a visão futurista do prefeito Isnaldo Bulhões quanto a essas praças não foi bem aplicada pelos santanenses. Na praça Senador Enéas Araújo foi instalada uma fonte luminosa que quase não foi utilizada. Poucos dias ela funcionou, foi motivo até de chacota pelo atual vice-governador do estado de Alagoas, José Tomaz Nono Neto, na época Deputado Federal que denominou a fonte de “bidê”. Na Praça Manoel Rodrigues da Rocha foi construído um anfiteatro denominado por alguns de “Concha Acústica”.

O anfiteatro ou “concha acústica” também foi pouco explorado pelas autoridades no tocante a sua aplicabilidade. Entendemos que na visão do ex-prefeito Isnaldo Bulhões ali seria o local ideal para concertos, apresentações culturais etc, mas isso pouco aconteceu. Quem mais utilizou a concha acústica foi a administração do ex-prefeito Marcos Davi, nos seus primeiros anos 2001-2002, quando a então gestora de cultura Selma Campos realizava mensalmente eventos culturais. Na época estava surgindo o Portal Maltanet e nos arquivos de fotos podemos ver vários momentos, dentre elas apresentações do Grupo Teatral Quatralhões sob a responsabilidade do teatrólogo e professor Silvano Gabriel.

Na gestão da ex-prefeita Renilde Silva Bulhões Barros a concha acústica foi usada no período natalino. As aberturas dos festejos de Natal eram geralmente iniciadas por uma caminhada luminosa e os integrantes dessa caminhada, na sua maioria, com vestes brancas e gorros vermelhos enchiam os degraus que formam a parte da plateia do anfiteatro dando um colorido especial.

Recentemente a professora Ana Rachel Nobre também usou aquele espaço para um momento de leitura com jovens do PROJOVEM Trabalhador.

Além das utilizações poucas, nestas atividades, não observamos a utilização daquele espaço como deveria ser.

Mas o motivo que me fez recordar esses fatos é exatamente uma forma de utilização do nosso anfiteatro que considero infeliz. Apenas “infeliz” o que me deixou triste, como disse no início dessa crônica. Não sei de quem foi a ideia, mas durante o período do Carnaval 2013, o espaço que deveria ser, talvez, mais um local para espelhar a cultura se transformou num sanitário para o público masculino que foi para o Circuito da Folia. Isso mesmo, foram instalados banheiros químicos na concha acústica, próximo das arquibancadas que serviam para o público, como também na entrada do referido espaço.

Posso estar sendo antiquado ou até cafona, mas com tantos espaços em ruas alternativas, por que escolher exatamente a nossa concha acústica, em frente a majestosa Igreja Matriz de Senhora Sant' Ana, nossa Excelsa Padroeira?

Como sabemos nem sempre os usuários desses dispositivos usam corretamente. Grande parte deles fazem suas necessidades fora deles. O que pensar então?

Fica a nossa tristeza registrada e para que possamos rever com carinho o nosso resgate cultural.

Não vivemos do passado, mas se não olharmos para ele e ampliarmos a visão para o presente, jamais teremos um futuro promissor.

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