O BACURAU EM RONDA PELAS RUAS DE SANTANA

José de Melo Carvalho

O BACURAU EM RONDA PELAS RUAS DE SANTANA

José de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Membro Correspondente da Academia Maceioense de Letras.

Pesquisando sobre a ave bacurau no Google, encontrei o seguinte: “Caprimulgidae é uma família de aves que inclui os animais conhecidos como bacurau ou curiango no Brasil e noitibó na Europa. São aves noturnas, de asas longas e pernas curtas, que normalmente fazem o ninho perto do chão e que se alimentam de insectos como traças e mosquitos. Tudo isso cientificamente comprovado, quanto aos seus hábitos, forma de subsistência e procriação. Os membros deste grupo estão distribuídos por todo o globo.”
João de Seu Alberto me despertou sobre essa pesquisa. Nela necessariamente deverá ser incluída a observação: “O bacurau do bloco somente existe no Brasil.“
Dando prosseguimento à pesquisa, encontrei também: ”Bloco carnavalesco de tradição em Santana do Ipanema, no estado de Alagoas, nordeste do Brasil, pais da América do Sul.”
Indo mais além, encontrei muitos cometários em blogs sobre as façanhas do bloco na tradicional festa momesca em Santana do Ipanema.
Tratavam sempre dos seus integrantes (meninos comportados, educados, e tudo o mais). Outros tratavam das visitas às residencias que sempre os convidavam com antecedência e informavam o site do bloco: “bacurau.org.br e o e-mail “bacurau.bacurau@bacurau.com.br.
Já noutra observação, referiam-se ao hino do bloco “O bacurau tá oco do pau, Zé Ormindo imitando um cachorro doido auuuú, auuuú, auuuú” e muitas coisas importantes para os anais da história e completamente interessantes para as futuras gerações.
Também vi comentários sobre as bodegas de Seu Oséas, de Seu Mirom, de Seu Felisdoro, de Seu Zé Maximiliano e outras importantes. Alguns personagens da história não foram esquecidos, como: Seu Frederico Rocha, Seu Pedro Agra, Seu Dilermano Brandão, Seu Nozinho, Seu Marinheiro, Seu Pipim, Seu Otávio Marchante, Seu Otávio Argolo, Seu Peduca, Seu Marinho Rodrigues, Seu Benedito Nepomuceno e outros mais.
Voltemos ao bloco na ronda pela cidade, em pleno carnaval. Tudo era animação. Blocos fantasiados andavam nas ruas e no centro da cidade, de casa em casa, tomando “todas”, dançando e cantando ao som dos batuques e marchas carnavalescas. Zabumbas, caixas, tamborins, tambores, pandeiros, triângulos, chocalhos, tudo isso sem esquecer as famosas escolas de samba do Monumento e da Camoxinga. Tenente Arlindo e esposa assistiam à passagem dos blocos, sentados num canto da Praça da Bandeira, atualmente Dr. Adelson Miranda.
Chegamos à casa das Marques, solteironas moças da sociedade santanense. Logo à entrada, alguém do “comportado” bloco - sem querer? - soltou um fedorento pum cuja catinga foi levada pelo vento até a cozinha, onde as irmãs Marques gentilmente nos esperavam, fazia horas. No início, foi àquela confusão danada, o constrangimento brotava no semblante delas. Vejam os comentários: “O que foi isso?”, perguntou Dona Marina. Outra irmã logo acrescentou: “Só pode ter sido a fossa que estourou”. “Não é possível”, disse outra, tentando descobrir o motivo do mau cheiro: “Acho que foi a caixa de gordura ou o cano da pia”. Ficaram apavoradas e com razão. Mas, em pouco tempo, o desgraçado ar que nos aterrorizava e tomava conta do ambiente foi dissipando, até desaparecer por completo.
Aí a festa começou com bolos, salgadinhos, licor de jenipapo (sem álcool), refrigerante crusch, cajuína, vitaminas, sucos e vários outros pratos apetitosos. Nisso alguém, sorrateira e perversamente, apagou a vela do oratório.
Pense nos elogios recebidos e na hospitalidade das Marques! O componente Mané Valter, que gostava de dizer “besteira, besteira”, era sobrinho delas. Além do mais, quase todos nós tínhamos recebido de Dona Marina os ensinamentos dos princípios básicos do cristianismo, em aulas de catecismo, daí o credenciamento do bloco para a programada visita.
O hino do bacurau, marchinha de Horácio e outras da época faziam soar os tambores e outros instrumentos. Rindo, alegres, elas festejavam a visita do Bacurau. “Venham sempre”, diziam bondosamente.
Enquanto a festa da visita “comia no centro”, Arquimedes (Lobão), sem “intenção maldosa”, deu um empurrão em Iran Peri no quarto de Dona Marina, quebrando o pau da cama dela, sem que ninguém tivesse visto o ocorrido, ou mesmo ouvido o barulho da madeira, tal a zoada do bloco. Iran foi obrigado a puxar o penico e dele fazer a devida escora, ficando tudo ali em aparente normalidade.
Terminada a visita, que por sinal foi bastante elogiada pelo grupo, seguimos em frente. A tarde estava terminando e a noite já se aproximava.
Apesar da desagradável ocorrência da cama quebrada, nem Mané Valter nem a direção do bloco receberam queixa ou intimação da delegacia de polícia. Bom para o Bloco do Bacurau, porque assegurada estaria sua visita àquela residência na próxima temporada.
“Retorno garantido, vamos para outra casa”, disse Colorau.
Maceió, novembro de 2014.


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