Elias era também conhecido nas ruas de Santana do Ipanema como “Macaco Simão” e ”Rato de Igreja”, apelidos dos quais não gostava de maneira nenhuma. Aborrecia-se, resmungava, a ponto de jogar pedras nos meninos que mexiam com ele.
Na vida “profissional” exercia a atividade de péssimo lavador de carros onde os encontrasse estacionados. Paralelamente, nas horas vagas – que eram muitas – e depois de um dia de bastante ”trabalho”, tomava pinga, a exemplo de outros miseráveis pinguços. Chegava até a adormecer nas calçadas, Ao acordar, saía aos trancos e barrancos em direção à casa de sua mãe, no bairro da Camoxinga.
Parecia-me que Elias era procedente de Poço das Trincheiras. Dizia-se também que era irmão ou parente de “Tonho Baixinho do Poço”, conhecido na cidade como sujeito corajoso e valente, assassinado há muitos anos.
Por conta de defeito físico no braço direito, Elias ficou com a mão direita pouco envergada, quase colada à barriga. O defeito físico, talvez congênito, estendia-se ao longo da perna direita, obrigando-o a andar meio trôpego. Como dificilmente se barbeava e cortava o cabelo, a pouca distância dele se tinha a impressão de um símio, de que trata a história da origem dos animais. Não sei se de autoria de Zé Ormindo ou de Paulo Ney o apelido “Macaco Simão”. Confesso que também não sei até hoje de onde saiu o “Simão” do ”Macaco Simão”.
Segundo informações de pessoas idosas da cidade, o apelido “Rato de Igreja” teria tido origem na frequência de “Mão-de-Onça” às missas dominicais da igreja matriz da cidade, costumeiramente lotada de fiéis, pela manhã e à noite. De um lado, talvez porque Elias “tomava conta” dos automóveis estacionados em frente à igreja; de outro, porque após as missas, ele ajudava o padre Luís Cirilo a fechar portas e janelas da igreja e também das urnas depositarias de cédulas e moedas.
Certa vez, eu, João Neto de Dirce e Arquimedes (Lobão) fomos obrigados a aplicar nele o devido corretivo, depois de murros por ele dados em Aderval e Ademir, meus irmãos menores. Elias gostava de dar tapas em meninos, desacompanhados, que encontrasse na rua. Depois disso, “Mão-de-Onça” procurava passar bem distante dos meus irmãos de menor idade.
– “Mão-de-Onça”! – gritava a meninada, mas com certa distância dele, livrando-se de uma possível pedrada. Como resposta, e sem poder revidar, Elias não deixava por menos. Recolhia os dedos da mão esquerda, e apontava o dedo “maior de todos” em direção da molecada. Xingando e resmungando, retomava o caminho de casa.
De novo – “Mão-de-Onça”!!! – Ele não olhava mais.
Maceió, 21 de janeiro de 2021.
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