BACURAU E O ENCERRAMENTO NA TERÇA-FEIRA
José de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Membro Correspondente da Academia Maceioense de Letras.
Vejam só o que aconteceu. Não conseguimos, não obstante tanto esforço feito, cumprir a meta do bloco. Visitar todas as residências programadas para o dia não havia como realizar tamanha meta. Reunirmo-nos, colocamos todos os problemas na mesa. Ouve exposição do croqui e do mapa, analisando-se ruas e bairros. Alguém sugeriu que não demorássemos muito tempo nas casas. Outro olhou com mais atenção e disse que havia componentes do bloco bebendo em excesso, o que a princípio não foi aceito. “Vamos beber”, dizia Paulo Dom. Dinho de Rôla, achando legal o aparte, opinou: “É isso mesmo, nós só temos hoje, vamos aproveitar, cambada.”
Apesar dos cuidados, procuramos direcionar o bloco o mais rápido possível, andando como os cabras de Lampião: passos longos e sem demora. “Amarrem as alpercatas que os macacos vêm aí”, foi a ordem geral.
Passamos nas casas de Zezito Tenório (pense no estrago), Hamilton de Marinheiro e Seu Alberto. Foi nessa última residência que o bloco se comportou muito bem. Ninguém bebeu, nem reclamou. Somente salgadinhos. Dona Rosa suspirava satisfeita.
Tocamos para frente. Dorival de Nézio, Ciço Doido e Zuza Fogueteiro estavam sentados nuns tamboretes redondos perto da casa de Seu Vicente Soldado, pai de Caosilva. Alguém chamou Dorival pelo apelido, disfarçadamente: “Boca de chulé” Ele respondeu de imediato: “É o rabo da mãe!”
Não houve briga, saímos de fininho para casa de Zelito do BB. Nita, a esposa dele e Carmélia, irmã de Tonho Jacaré, juntamente com as vizinhas Yolanda, Socorro e outras irmãs estavam nos aguardando. Foi aquele batuque. Raposo encheu um copo de uísque e lambeu de uma só vez. Mané Valter tomou dois copos de batidas. Eu preparei minha doze de rum e tomei de uma só vez. Capela estava bem sentado num canto, fumando que nem uma caipora. Tomava cerveja à vontade. Demoramos pouco porque tínhamos que visitar outras casas.
O Bloco dos Irmãos Metralha estava saindo da casa de Zé Pinto Araújo. Zé Carlos, Vivi Alcântara, Mileno, Zé Biratan, Zé Gentil e outros estavam fantasiados e bastante animados. Vardo Doido (Cuiuiú) acompanhava-os.
Everaldo de Seu Oscar, Bibi de Jacira e algumas garotas passavam no jipe de Buzica bastante alegres, cantando: “Boi deu, boi deu, boi dá”.
Zé Antônio Piaba Seca, Zé Maria (Balia) e outros garotos desciam para o cercado de Seu Zé Elias para dar uns tiros, nas proximidades da casa de Sebastião Amaral.
Voltamos para a casa de Seu Sabino, pai do padre Alberto, na Rua do Sebo. Lembramos por pouco.
Foi aquela alegria por parte das irmãs dele, nossas amigas. Bebidas, comidas, radiola tocando alto, Zaga rindo que nem um danado e o padre brincando com os componentes. Pense na gritaria. Aí foi a vez de João de Seu Alberto trabalhar.
Ele escondido no balaústre que ficava em frente à casa de Zerubano, gritou duas vezes: “Zérurbano, Zérurbano!”
Ele de repente saiu e olhou para um lado e outro sem encontrar ninguém. Não sabia que o safado que o chamava estava na varanda alta, pois ficava em frente da sua casa. Voltou para o interior da residencia.
Novamente a mesma chamada. Dessa vez Zérurbano espirrou enfurecido, portando um bacamarte (clavinote) enferrujado e, de voz rouca, disparou alto: “Quem é o cachorro que tanto me chama?”.
Não apareceu ninguém. E quem iria aparecer? Pela estratégia, João ganhou nota máxima da direção.
Após a visita, sem nenhum barulho, nem um pio e em fila indiana, saímos bem quietinhos pelo portão dos fundos da casa que dava acesso à Rua Nova.
Urtigão continuava de trabuco na mão, mais “afrontado” que nem um cavalo cansado, como dizia Zé Malta. Ele achou que tinha sido algum moleque do bloco. Estava lá para pedir satisfação.
Devido o iminente perigo e por precaução, imediatamente recolhemos o bloco.
À noite, estávamos nos salões do Tênis Clube Santanense.
Maceió, outubro de 2014
Comentários