VALDEMAR VAI AO RIO

Fábio Campos

Valdemar era um primo de minha mãe. Viveu toda sua vida no interior do município de Olho D’água das Flores, num Povoado chamado Pedrão. Dificilmente ia à cidade. E quando ia, era única e exclusivamente pra visitar, seus parentes mais próximo. No caso, minha saudosa, avó materna, Dona Amância, era sua tia. E alguns primos, como Dorival Bezerra, contador e funcionário do fisco aposentado, e ex-prefeito daquela cidade. Esse é, nosso tio, irmão de minha mãe, Dineusa Bezerra.
Valdemar, aos quarenta e poucos anos, lá pelos idos de 1975. Ganhou de Enéias, Seu irmão que ainda hoje mora no Rio de Janeiro, passagens de ida e volta ao Rio, pra ir visitá-lo. Fez as malas, e embarcou rumo ao destino. Uma vez lá. Muitos abraços. Muitas saudades. E perguntas como estavam todos por aqui. Uma das filhas de Enéias, uma menina na época com uns doze anos, que nascera lá no Rio, ficou muito admirada, com o modo de falar do matuto. E não parava de fazer-lhe perguntas. Unicamente, pra ver-lhe falar, porque achava interessante o sotaque arrastado do seu tio alagoano.
Naqueles meios, a menina lembrou-se que a professora, falara na aula de português, que no nordeste brasileiro, o sertanejo, trocava a pronúncia de algumas palavras. “Por exemplo - dizia a professora – abóbora, lá eles chamam de jerimum”. A menina quis tirar a prova:

-Valdemar, como é que vocês chamam abóbora?
-Minha fia, nóis chama é abróba mermo!

A noite foram todos, numa pracinha do bairro da cidade maravilhosa, onde estava acontecendo uma quermesse. Um cidadão, soltava fogos de artifício ali. Valdemar se aproxima do homem. Muito admirado. E por incrível que pareça, nunca tinha visto, alguém soltar foguetes, pelo menos daquele tipo e com aquela capacidade de artifício. E querendo matar sua curiosidade pergunta:

-Seu Zé! Cuma é o nome desses bichinhos que o inhô, tá sortando aí?
O Carioca pego de surpresa. Apenas respondeu mais admirado ainda.
-Ah! Eu ignoro!!!

Ao retornar a sua terra natal, Valdemar muito eufórico, contava pros parentes alagoanos, tantas novidades que viu. Entre estas dizia:

- Eu vi um cabra, soltando uns bichinhos que subia! Subia!
-E como era o nome disso aí Valdemar?
-Diz ele que era uns ignoro. Pense que ignorinho pra subir!

*Fabio Campos *É professor em Santana do Ipanema – AL.
Contato: fabiosoacam@yahoo.com

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