VIDA BOA

Djalma Carvalho

Acabo de ler Vida Boa, livro de crônicas de autoria de Bartolomeu Barros, cujo lançamento, em noite festiva, ocorreu recentemente em Santana do Ipanema.
Admirável o feito literário desse vitorioso empresário santanense que, aos 84 anos de idade, resolve tirar da gaveta rascunhos de matérias diversas, em forma de crônicas e de pequenas histórias, e publica seu primeiro livro, muito apreciado pelos seus leitores e já elogiado pela crítica especializada.
Agradável surpresa.
Terra de muitos escritores, vez por outra surge um novo livro de autor santanense. Geralmente, escritores relativamente jovens. Mas, há poucos anos, por exemplo, José Pereira Monteiro despontava como poeta depois de mais de 80 anos de idade e lançava quase uma dezena de livros de poesia. Agora, surge Bartolomeu Barros, com 84 anos de idade, lançando Boa Vida, seu primeiro livro. Mais algum tempo, com certeza, estará ele lançando outros mais, para deleite dos santanenses.
Com tamanho interesse – mais que curiosidade –, li o livro de uma assentada, saboreando cada crônica e relembrando os bons tempos de minha mocidade vividos em Santana do Ipanema, onde tudo começou. A leitura me deu a feliz oportunidade para um nostálgico passeio no tempo. Percorri todas as páginas com aquele gostinho de saudade, vendo parte do filme de minha vida passar novamente, bem como parte da vida de outros conterrâneos, homenageados no livro.
Estilo simples, leve, de fácil assimilação.
Sobre escrever, disse Winston Churchill: “Das palavras, as mais simples; das mais simples, a menor.”
Diversos foram os perfis escolhidos pelo autor, muitos dos quais de amigos íntimos e queridos, já falecidos, como Adelson Miranda, Domício Silva, José Conrado, Expedito Sobreira, Milton dos Anjos, Juca Alfaiate, Maneca, José Teodósio, José Chagas, Leuzinger Alves de Melo, entre outros. Atento estive à oportuna referência do autor a gente simples do lugar, também personagens do livro, apesar de alguns deles já não mais pertencerem ao mundo dos vivos. De uma forma ou de outra, todos eles participaram, em certa época, da história da cidade, como filhos da terra comum ou como eventuais moradores de Santana do Ipanema, onde deixaram familiares e onde construíram forte e inabalável amizade.
Bartolomeu Barros, proprietário da Casa O Ferrageiro, é cidadão de bem, bom caráter, educado, honrado, bom empregador, empreendedor, maçom, rotariano e muito querido na cidade. Além disso, é pessoa de agradável conversa e bom contador de histórias, fruto, sobretudo, do convívio com fornecedores de todos os recantos do Brasil e relacionamento com espertos viajantes de muitas aventuras e causos para contar.
Nos anos de 1953 e 1954, trabalhei como balconista, vendendo tecido, na filial das Lojas Nepomuceno, localizada no quarteirão que então existia no centro da cidade de Santana do Ipanema. Com o encerramento das atividades da filial, fiquei desempregado.
Confesso que acredito na máxima, segundo a qual ninguém na vida caminha sozinho. Meus tios José e Manoel Constantino, sempre estiveram ao lado dos sobrinhos e, como tais, muito nos ajudaram. Logo me levaram para trabalhar, também como balconista, na Casa O Ferrageiro, de propriedade de Bartolomeu Barros e Jugurta Nepomuceno Agra, então jovens, criteriosos empregadores e por mim muito estimados até hoje. No meu primeiro dia de trabalho, Bartolomeu ensinou-me, pacientemente, a espanar prateleiras, a varrer a loja e a calçada da rua, trabalho realizado em rodízio semanal com outros empregados. Na calçada da rua, por exemplo, dava para a gente varrer e paquerar as bonitas meninas da Rua do Sebo que por ali passavam.
Aprendi, de verdade, a varrer sem fazer poeira!
Por dois anos, aproximadamente, lá fiquei, onde aprendi a vender ferragens e miudezas, experiência que muito me ajudou profissionalmente. Depois veio o emprego como escriturário do Dnocs. Mais tarde, o concurso do Banco do Brasil. A partir daí minha vida, graças a Deus, tomou outro rumo.
Para finalizar, vejamos o que disse o jornalista Aldo Paes Barreto: “Cidade de interior tem que ter seu bêbado de plantão, seu político de enganação e seu doido de estimação.”
No livro Vida Boa, o autor conta a seguinte história em homenagem ao falecido Tarde Fria, negrinho espirituoso, boa gente, tomador de homéricos porres, sapateiro de profissão e garçom e boêmio nas horas vagas. Dele também contei, em livros, várias histórias engraçadas. Casado muito moço, sua esposa, a pretexto de visitar parentes em São Paulo, por lá ficou, arranjou emprego e um apaixonado gringo. Muitos anos depois, retorna ela a Santana do Ipanema para pedir-lhe divórcio. Tarde Fria concordou, mas exigiu-lhe indenização. “Que indenização?” – perguntou-lhe a mulher. De pronto, respondeu ele: “Acha que vou lhe dar de graça 23 anos de corno?!”
Parabéns, Bartolomeu. Continue escrevendo.

Maceió, fevereiro de 2015.



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