TRAVESSURAS DE ZÉ MALTA

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.

Pessoa travessa é pessoa astuciosa, engraçada, espirituosa. Tratando-se de criança, então, acrescentar-se-á o qualificativo traquinas.
Disse Simone De Beauvoir, escritora e filósofa francesa: “O que é um adulto? Uma criança de idade.” O mesmo raciocínio teve Nelson Rodrigues: “Adulto não existe. O homem é o menino perene.”
O saudoso José de Albuquerque Malta, o Zé Malta, por exemplo, teria recebido todos esses qualificativos no curso de sua alegre existência, de criança a adulto.
Venho lendo, há algum tempo, e-mails a mim endereçados pelo conterrâneo João Tertuliano, que reside fora de Alagoas. Melhor dizendo: venho tentando ler e interpretar seus cifrados ou enigmáticos textos escritos em estilo exótico, ora com sílabas em caixa-alta e apóstrofos, ora em tamanho normal. Desse modo, seus textos, acompanhados de rico acervo iconográfico, vêm contando, em gotas, a história de Santana do Ipanema, sua terra natal. Reminiscências, certamente encontradas no fundo do baú de seus familiares. Indicou-me, há pouco, o nome de Zé Malta, personagem de várias crônicas que escrevi, sugerindo-me nova empreitada literária.
Nascido em Mata Grande, sertão de Alagoas, Zé Malta, aposentado dos Correios e Telégrafos, adotou a cidade de Santana do Ipanema para nela residir com a família até seus últimos dias de vida. Faleceu em 1991, ao completar 78 anos de idade.
Pessoa bem-humorada e muito querida, Zé Malta não dispensava uma lorota por onde passava, contar uma divertida piada, um causo engraçado e mexer com desmiolados. Homem de bem, respeitador, pai de família exemplar. Seresteiro, apreciava estar acompanhado de um bom violonista para cantar românticas e eternas valsas do cancioneiro universal. Periodicamente, mandava buscar em Pão de Açúcar Adair Simas, pessoa humilde, mas artista virtuoso a executar ao violão belíssimas páginas musicais, incluindo o belo solo do hino nacional brasileiro.
Todo adulto, na verdade, não deixa de ser a criança que nele sempre existiu.
Vez por outra, Zé Malta punha-se a contar suas travessuras de menino danado, levado, praticadas em Mata Grande, a infernizar sua veneranda mãe. A cada malfeito, recebia dela ameaça de surra. Certa feita, sua mãe, dando conta de uma correia de couro cru, ameaçou surrá-lo. Pendurando a correia a um prego da cozinha, ela preferiu delegar o castigo ao marido. Espalmando a mão em direção do filho, prometeu-lhe:
– Aguarde aí, José. Seu pai chega já!
A surra não aconteceu. Aproveitando providencial descuido de sua mãe, Zé Malta fez com que a chibata se juntasse a outras tantas no telhado da casa.

Maceió, setembro de 2017.

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