A CANÇÃO DO EXÍLIO
Antonio Machado
Os bons livros não morrem, perenizam-se no tempo, perpetuando-se na história e imortalizando seus autores. Essas obras deveriam ser sempre reeditadas para conhecimento do público leitor, haja vista que esses tesouros literários serem edições esgotadas, ou esquecidas nas velhas prateleiras do passado. Que encontra, hoje, numa livraria um livro de Raúl Pompéia, Coelho Neto, Cruz e Souza, Aluizio Azevedo, Guimarães Passos e tantos outros que assinalaram a história literária brasileira, somente através do milagre da internet, às vezes, se conseguem essas raridades, mesmo usados, ou em “sebos”, mas ainda satisfaz a curiosidade dos leitores, tudo, porque as editoras não republicam essas obras.
Desde os tempos escolares e mais tarde na universidade, sempre li poesias esparsas do vate Gonçalves Dias, e somente 174 anos, chegou-me às mãos via internet a obra poema Canção do exílio desse talentoso poeta, nascido Antônio Gonçalves Dias, aos 10 de agosto de 1823, em Caxias, estado do Maranhão, sendo filho do casal João Manoel Gonçalves Dias e Vicência Ferreira e veio a falecer bem jovem aos 10 de setembro de 1864 no naufrágio do navio Ville Boulogne nas águas maranhenses.
Gonçalves Dias é um desses poetas brasileiros mais completos, visto seu conhecimento em todos os gêneros e nuances da poesia, Otávio Paz, (1914-1998) escreveu: “A poesia veio das profundezas do ser. Correspondem as experiências mais profundas do que a prosa”, e esse bardo do passado passeava de mãos dadas nos florais poéticos, visto sua habilidade em fazer poesia, de tanta beleza que parecem ser para os dias de hoje tanto é sua perfeição.
Melhor que ninguém soube Gonçalves Dias, falar de seus amores incontidos e sentimentos que tanto lhe enervavam a alma, enchendo-a de tédio e melancolia, era poeta na expressão da palavra. A imortal Cecília Meireles de (1901-1964), escreveu: “Eu canto porque o instante existe/ e a minha vida está completa/ não sou alegre nem triste/ sou poeta”.
Os estudos na Universidade de Coimbra, Portugal, aperfeiçoaram-lhe a misteriosa técnica de fazer versos, era um poeta sonhador, mormente com as manhãs cor de rosas e as tardes morenas nordestinas muito lhe serviram de inspirações, foi Gonçalves Dias ferido pelo espinho da saudade, que corroia sua alma de jovem poeta levando Perecy Byssheley escrever: “A poesia ergue o véu da beleza oculta no mundo”, na canção do tamoio Gonçalves Dias escreveu esta oitava de rara beleza poética: “Não chores, meu filho,/ não chores que a vida é uma luta renhida/ viver é lutar/ a vida é combate/ que os fracos abatem/ que os fortes, os bravos,/ só pode exaltar”. Porém, caro leitor, ficaria incompleto este despretensioso artigo, sem a imortal Canção do exílio, apenas uma estrofe: “Minha terra tem palmeiras/ onde canta o sabiá/ as aves que aqui gorjeiam/ não gorjeiam como lá”, as estrofes dessa poesia sintetizam a saudade do poeta de sua terra natal, escrita há 174 anos, continua ativa e latente. Mario Quintana, (1906-1994), escreveu: “Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras”.
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