Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Maceioense de Letras
Mestre Aurélio assim definiu o vocábulo empatia: “Tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa.” Em outras palavras, seria dispensar tratamento a alguém da mesma forma como gostaria de ser tratado.
Empatia deve ser necessariamente praticada em nosso cotidiano, no relacionamento entre as pessoas, no lar, na rua, no trabalho, tornando a vida mais saudável, mais amena, mais alegre e com menos violência. O atendimento nas antessalas de gabinetes, nas salas de recepção de clínicas médicas e hospitais, por exemplo, devem estar a cargo de pessoas devidamente treinadas e com perfil adequado para o difícil exercício dessa importante missão profissional. Não mais se admite, nos dias de hoje, que um mal-humorado esteja aboletado numa dessas salas para atender pessoas angustiadas, sofridas, doentes, estressadas. Afinal, o tratamento cordial, gentil e respeitoso cabe em qualquer lugar.
Faço essas observações para dizer que, transferido de Santana do Ipanema para Maceió, trabalhei durante 15 anos na agência do Banco do Brasil, situada na Rua Senador Mendonça, no centro da capital. Nesse endereço, exerci o cargo comissionado de chefe de supervisores com algumas substituições de cargos administrativos.
No térreo do moderno edifício, havia uma bateria de 22 caixas-executivos que atendia a uma numerosa clientela, normalmente a elite de Maceió. Anos depois, o BB, em nome da modernidade, criou várias agências no mesmo edifício e endereço. O formato de guichês de caixas-executivos existente até meados da década de 1990 acabou sendo extinto.
Nessa grande bateria trabalhavam competentes e educados colegas, sempre brincalhões e, por vezes, farristas. Grupo que parecia uma grande família. Nesse clima de camaradagem, encontrei o colega Alarico, também competente e educado servidor. Como não mais me lembro do verdadeiro nome dele, consideremos que seja simplesmente Alarico, ou outro nome qualquer. Baixo, moreno, magro, rosto fino, narigão e de expressivas orelhas. Costumava usar pequenos óculos de meia lente.
Mas um dia Alarico haveria de cometer uma imperdoável distração nessa mesma e animada bateria de caixas. Distração que mereceu mil pedidos de desculpas de sua parte. Aconteceu num dia de grande movimento na agência, chamado “dia de pico”, onde se formavam longas filas.
No guichê de Alarico, uma senhora idosa solicita-lhe um novo talão de cheques. Atento aos passos da rotina do BB, ele vai à retaguarda e, ao retornar, distraidamente ocupa o guichê do colega ao lado, vago para outro atendimento. Certo de que ocupava o seu devido lugar, levantou a vista, ajustou na ponta do nariz o pequeno óculo e não mais encontrou a idosa à sua frente. Assustou-se: “Oxente! Cadê a danada da velha?”
Ao lado, ouvindo tudo o que dissera Alarico, a idosa respondeu-lhe, humildemente: “Estou aqui, rapaz.” Por certo, deu-lhe uma grande lição.
Pois bem. Em intervalo de aula de curso que há muito tempo se realizou no Recife, o colega Miguel Nobre, espirituoso e irreverente, contou essa mesma história, acrescentando: “O cara era feio, mesmo! Mais parecia um rato-catita de óculos!”
Maceió, agosto de 2014.
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