POR DEUS...

Djalma Carvalho

Depois de publicar, há poucos dias, a crônica intitulada Câmara Júnior Internacional, lembrei-me da inusitada ocorrência que se passou em reunião, ordinária ou festiva, desse ativo capítulo de Santana do Ipanema, em data do final da década de 1960, por aí.
Testemunhei o fato, mas, decorrido tanto tempo, não mais me recordo do nome do novato associado protagonista da ocorrência. Constrangedora ocorrência, sem dúvida, para o presidente da sessão e para os membros associados e convidados.
Sem ambições conceituais, meti-me na enrascada de uma consulta a dois dicionaristas, mestres Aurélio e Houaiss, sempre de braços dados com eles nas minhas cogitações literárias, sobre agnosticismo e ateísmo.
Sobre o primeiro, verifiquei que, segundo mestre Aurélio, se trata de “posição metodológica que só admite os conhecimentos adquiridos pela razão”. Necessitam, pois, de comprovação científica.
Ateísmo, no dizer de Houaiss, significa “doutrina ou atitude de espírito que nega categoricamente a existência de Deus”.
Vê-se que há diferença entre credo e crença. O primeiro são preceitos que regem uma pessoa ou partido. Crença, por seu turno, será opinião com fé e convicção. Verdades de fé.
Terminada a consulta a tal respeito, chego à mesma conclusão da sentença socrática: “Só sei é que nada sei.”
Estas digressões vêm a propósito da minha crônica inicialmente citada, publicada, faz pouco tempo, no portal Maltanet. Na Câmara Júnior Internacional não há restrição a qualquer religião professada por seus membros, credo ou crença, mas será obrigatória a leitura à abertura de cada reunião, ordinária ou festiva, da sua Carta de Princípios, que se inicia com as seguintes palavras: “Nós acreditamos que a fé em Deus dá sentido e finalidade à vida...”
No Lions Clube Internacional, clube de serviço ao qual pertenço, sua carta de princípios desdobra-se em Código de Ética e Propósitos de Lions Internacional. Mas, ao início de cada reunião, será obrigatória a leitura do texto chamado Invocação a Deus. No Lions também não há nenhuma restrição à religião professada por seus associados.
Na reunião da Câmara Júnior de Santana do Ipanema, realizada no salão principal da AABB local, referida no início, o fato ocorreu simplesmente porque o procedimento da admissão do novo membro não obedeceu ao ritual previsto no estatuto do capítulo.
Aliás, mal que acontece com muitos clubes de serviço, aqui e alhures. Nada mais que em razão de processo incorreto de iniciação do novo associado, além da ausência de vocação do candidato ao voluntariado.
Voltemos ao assunto inicial da comentada reunião. Passada a palavra, no início da reunião, para a leitura da Carta de Princípios, eis que o novo associado fez uma ligeira pausa ao microfone, dizendo: “Presidente, atribua a outro a leitura desta Carta de Princípios, porque eu não acredito em Deus.”
Afinal, pelas convicções filosóficas do associado, teve ele que pedir afastamento do quadro social da Câmara Júnior de Santana do Ipanema, sem outro problema.

Maceió, abril de 2021.

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