Dias atrás, recebi o vídeo exibido em preto e branco, denominado “Um Pedacinho da História de Santana do Ipanema”, gentileza de Dona Terezinha, viúva de Cícero Amorim, grande amigo que nos deixou faz algum tempo.
O vídeo trouxe precárias fotos, com imagens já bastante esmaecidas, colhidas pelas câmeras do filme “A Volta pela Estrada da Violência”, com cenas de Santana do Ipanema, em 1970, e da “Lagoa do Mato”, fazenda situada nos arredores da cidade, onde algumas cenas do filme foram tomadas.
A escolha da paisagem sertaneja escolhida pelo alagoano José Wanderley Lopes, cineasta e produtor do filme, mexeu com os habitantes de Santana do Ipanema, certamente orgulhosos de serem vistos nas telas dos cinemas pelo Brasil afora. Os dias de filmagem deixaram em rebuliço a gente da cidade, porque se tratava de fato inédito na pacata e conservadora sociedade santanense.
Diversas pessoas da cidade participaram do filme como figurantes, sobretudo os cavaleiros com sua especial montaria que desfilaram pelo centro da cidade, para cenas em volta da praça da Matriz. Uma multidão, silenciosa e obediente, postou-se nas calçadas dali para assistir às cenas produzidas em céu aberto, numa tarde que mais parecia festiva.
Alberto Agra, por exemplo, foi convidado pelos diretores do filme para participar, como juiz de Direito, do simulado júri popular que absolveu o acusado de crimes cometidos, segundo o enredo da película. Da mesma forma, padre Alberto Pereira, também convidado, encarregou-se da simulada “encomendação”, no cemitério, dos corpos das “vítimas da violência”, suscitadas no filme em questão.
Sabe-se que Santana do Ipanema é, historicamente, conhecida como cidade hospitaleira. Em 1970, já funcionava ativamente na cidade o clube de Lions, fundado no ano anterior, tendo, então, como presidente José Pereira Monteiro, cidadão gozador e contador de histórias engraçadas, figura querida que hoje já não mais pertence ao mundo dos vivos, infelizmente. Nesses termos, o clube de Lions resolveu homenagear os diretores do filme, convidando-os para um jantar festivo a realizar-se no salão superior do Tênis Clube Santanense.
Imaginava-se que, a par do convite feito, somente os diretores do filme deveriam chegar ao jantar. Calculava-se que chegariam ao clube apenas duas ou três pessoas, para as boas-vindas e as homenagens da cidade hospitaleira.
Aconteceu que, de repente, para surpresa dos dirigentes do Lions, compareceram ao jantar vinte ou mais pessoas que se diziam da produção do filme.
E agora?
Estava, assim, estabelecido verdadeiro transtorno para os organizadores do jantar, especialmente as senhoras do clube, providenciando-se, em cima da hora, mesas e mais cadeiras para o evento, além da quantidade de pratos e talheres.
Em verdade, atropelo, mas realizou-se o jantar.
Serenadas as preocupações, afinal, o presidente do clube de Lions, José Pereira Monteiro, ainda perplexo, não perdeu o bom humor, e comentou, à boca pequena: “Puxa! Só lhes faltaram trazer para o jantar os cavalos do filme!”
Maceió, fevereiro de 2024.
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