O PINTO DA MADRUGADA

Djalma Carvalho

Historicamente, o carnaval teria origem na Antiguidade como festa dos deuses. Na Grécia, teria surgido no ano 600 a.C. Na Roma Antiga, o carnaval decorrera das saturnais, festas de orgia, de libertinagem, com pessoas mascaradas, brincando, comendo e bebendo. No Cristianismo, durante o carnaval, como festa pagã, os fiéis deixavam de alimentar-se de carne. Daí, o latim “carne vale” (“adeus à carne”), origem do vocábulo carnaval.
No Brasil, o carnaval iniciou-se no período colonial, de origem portuguesa. No século XX, surgiram no Recife e Olinda o frevo e o maracatu. A partir daí o carnaval tornou-se festa popular, tradição cultural brasileira. Na Bahia, o trio elétrico arrasta multidões (“atrás dele só não vai quem já morreu.”); no Rio de Janeiro, as escolas de samba fazem o espetáculo maior no monumental sambódromo, festa considerada de repercussão internacional; em Pernambuco, ninguém resiste ao trepidante frevo e às triunfais e saudosas marchas que tomam conta de ruas e avenidas de Olinda e Recife.
O carnaval, afinal, é festa do povo – do pobre e do rico. No embalo efervescente da folia, todos esquecem problemas, amor perdido, frustrações e a luta do trabalho diário. Carnaval é magia, é alegria total. São três dias de festa, de bebidas, de divertimento, tudo terminando na quarta-feira de cinzas. Somem-se, aí, à folga do tríduo de Momo os dias das prévias carnavalescas, porque tudo é carnaval, ninguém é de ferro.
Sobre esse período festivo que antecede a Quaresma, disse o saudoso D. Helder Câmara, o santo bispo de Olinda e Recife, em crônica de 02/02/1975, em Um Olhar sobre a Cidade: “Carnaval é alegria popular. Diria mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Brinque meu povo querido!”
O Galo da Madruga, bloco carnavalesco que sai aos sábados de carnaval no centro do Recife, foi criado em 1978. No carnaval passado o bloco arrastou quase três milhões de pessoas. Foi considerado, em 1995, o maior bloco carnavalesco do mundo, segundo o livro dos recordes.
Inspirado nesse gigantesco bloco carnavalesco, também em Maceió foi criado em 1999 O Pinto da Madrugada, bloco que arrastou na prévia de fevereiro passado cerca de 500 mil foliões na praia da Pajuçara. Bloco criado por carnavalescos amigos, entre os quais, Marcial Lima, Eduardo e Hermann Braga. Neste ano, então, o bloco comemorou o 20º aniversário de fundação, homenageando em carro alegórico – repleto de identificáveis brincantes – seus fundadores e personalidades do passado, amantes e divulgadores do carnaval alagoano.
Tanta gente na avenida litorânea dava a impressão de que a metade da população de Maceió se transportara para a orla da Pajuçara, para pular, brincar, beber, divertir-se. A animação dos foliões logo cedo tomou conta de toda a extensão da Avenida Antônio Gouveia. Uma beleza! Também, lá estiveram o governador do estado, o secretário de segurança e outras autoridades. Atraídos pelo frevo, foram eles à avenida prestigiar o alegre evento carnavalesco. Equipes da polícia militar e do corpo de bombeiros fizeram a segurança dos foliões e de suas famílias.
Várias orquestras com seus afinados instrumentos de metal, de sopro e percussão puxaram os inúmeros blocos, executando conhecidos frevos e marchas do presente e do passado. Foliões de todas as idades e de todos os segmentos sociais alagoanos caíram no frevo, misturando-se, em dados momentos, à conhecida “pipoca” de retaguarda de blocos. Na contagiante alegria do carnaval, ninguém é de ninguém, como diz conhecida canção.
Pena que a enorme quantidade de carros de bebidas, contratados por proprietários de blocos, tenham-se infiltrado por entre os foliões, quase que os atropelando. O empurra-empurra infernal congestionou de forma deplorável a longa passarela do frevo, mais parecendo um “salve-se quem puder”.
Não obstante, Maceió viveu uma manhã de muita festa, entusiasmo e alegria. A grande quantidade de cerveja consumida serviu, consideravelmente, de combustível animador da prévia carnavalesca de 2019. Tudo propiciado pelo escaldante calor que fazia na bela e ensolarada praia durante a tropical manhã alagoana. Até a pródiga natureza contribuiu, afinal, para o sucesso da festa do povo, que é o nosso carnaval.
Que o Pinto da Madrugada continue a relembrar e a resgatar o tradicional carnaval alagoano, de boas e gratas recordações!

Maceió, maio de 2019.

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