Não se pense que há flores na profissão de bancário, notadamente de uns anos para cá, talvez décadas. Ao contrário, trabalha-se sob tensão durante todo o expediente, examinando-se papéis, analisando-se assinaturas apostas em documentos de movimentação financeira, fazendo-se cálculos. Mais preocupante ainda se torna o trabalho de contagem de dinheiro no rotineiro receber e pagar, pagar e receber.
Além desse desgastante exercício diário, ainda compete ao bancário dispensar adequado e bom atendimento à clientela, ciente, portanto, das angústias e ansiedades que afligem o homem do nosso tempo. Some-se ainda às atividades de rotina dos que trabalham na chamada linha de frente a obrigação de cumprir metas estabelecidas pela superior administração do banco.
De uns tempos para cá, é verdade, ficou sofisticado o sistema bancário, e mais aprimorados ficaram também os modelos de fraudes e o modo de agir dos bandidos, das quadrilhas, situação agravada com os assaltos às agências, sequestros de gerentes e sobressaltos às suas famílias. Imagino, agora, quantos problemas há com o cartão magnético e com as fraudes praticadas via internet.
Bancário é profissão de risco, perigosa. De risco à integridade física e à saúde. Nenhuma novidade há em encontrar colegas bancários estressados, ansiosos, a procurar o serviço médico para o alívio ou a cura de suas doenças profissionais.
Nessa roda-viva, dramas da vida real também passam pelas mãos do bancário. Em meados da década de oitenta, por aí, seu Sebastião – ou outro nome – esteve, logo no início do expediente, na agência do Banco do Brasil da Rua Senador Mendonça, aqui em Maceió. Homem simples no falar e no vestir, já idoso. Muito preocupado e de extratos na mão, dizia que não lhe pertencia um cheque de valor até expressivo lançado em sua conta corrente.
Estranhou-se, de início, o fato de o talão de cheques do correntista nunca lhe ter saído da mão, salvo para ser cuidadosamente guardado debaixo do colchão de sua cama. Ainda mais: a técnica usada para a retirada da folha do cheque não ter deixado nenhum vestígio do ato criminoso.
Mandou-se apanhar, no arquivo, o cheque original, cuja cópia foi entregue a seu Sebastião, para que ele, de uma forma ou de outra, pudesse também colaborar na solução do caso, a par, então, da assinatura sabidamente falsificada e da caligrafia tipicamente feminina utilizada no preenchimento do documento. Em casos semelhantes, sempre se chegava a um familiar da vítima, normalmente um viciado em drogas, que praticava a fraude em tais circunstâncias.
Cabisbaixo e acanhado, dias depois retorna o correntista à agência, pronto para validar a assinatura do cheque e para pedir que se tornasse sem efeito a reclamação que fizera. Descobrira, afinal, que a filha, coitada, levantara, fraudulentamente, aquela importância para cobrir o desfalque que praticara na firma onde trabalhava.
Maceió, fevereiro de 2009.
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