MORMAÇO, CALOR E CHUVA (*)

Djalma Carvalho


Minhas senhoras,
Meus senhores.

“O livro é uma extensão da memória e da imaginação. O livro é a grande memória dos séculos. Se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem.”
Palavras de Jorge Luís Borges, escritor argentino.

Pela décima vez, experimento a emoção do lançamento de um livro de minha autoria.
Observo que, em cada evento, há uma nova emoção, uma emoção diferente, um encantamento especial. A emoção que experimenta o autor, em uma noite de festa como esta, assemelha-se à emoção que se tem com o nascimento de um filho.
A emoção, agora, é a de um homem de cabelos grisalhos, mais experiente, mais vivido, e cada vez mais impregnado de um punhado de sonhos.
Um homem cada vez mais encantado com as belezas da natureza; com o despontar das manhãs; com o vespertino crepúsculo; com o murmúrio do mar e o incessante vai e vem das marés; com o céu lindamente estrelado; homem, afinal, fascinado com o espetáculo da lua cheia nascendo no horizonte.
Minha caminhada como cronista provinciano começou nos idos de 1959, fazendo literatura “ante o espetáculo da vida, os seres, as coisas”, como assegura Afrânio Peixoto, e ante as belezas da natureza.
Uma longa caminhada.
Somente em 22 de abril de 1977, em memorável noite de autógrafos, seria lançado o meu primeiro livro – Festas de Santana.
Escolhera, para aquela noite festiva, o Tênis Clube Santanense. Seu histórico salão de baile, feericamente iluminado, estava repleto de convidados, de amigos, de familiares. Modéstia à parte, uma bela e inusitada noite cultural, senão a primeira, nesse particular, realizada na história literária de Santana do Ipanema. Lá estava Divaldo Suruagy, então governador de Alagoas, que prefaciou o livro e fez a sua apresentação.
Trago, mais uma vez, para Santana do Ipanema o lançamento de um livro, de um novo livro. Com esta escolha, estou, com certeza, prestigiando, mais uma vez, minha cidade natal, sua gente, seus intelectuais, meus conterrâneos, amigos e familiares. O livro foi praticamente aqui imaginado, sendo daqui o seu registro de nascimento. O cenário inspirador é o da terra nativa. Quase todos os personagens do livro são daqui também. Gente que palmilhou o mesmo chão que palmilhei e que me ajudou, afinal, a contar retalhos da história de Santana do Ipanema.

Ouvi, atentamente, as amáveis e generosas palavras do Dr. Geraldo Dantas, o apresentador do livro. Palavras que me encantaram e que por certo também encantaram este auditório.
Escritor, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Maceioense de Letras, rotariano, Dr. Geraldo Dantas esteve em Santana do Ipanema na década de 1980, exercendo a honrosa função de promotor de justiça, hoje aposentado.
Aqui fez muitos amigos e não mais esqueceu a hospitalidade do povo desta terra. Na verdade, Dr. Geraldo, há um dito popular que o santanense, orgulhosamente, costuma proclamar, que diz: “Quem nasceu nesta cidade ou aqui residiu por algum tempo – e tomou água salobra do Ipanema – jamais esquecerá esta terra e sua gente!”
Sertanejo, filho de tradicional família de Água Branca, Dr. Geraldo é um homem vitorioso em sua profissão, em sua vida social e literária. Cidadão honrado, cordial com os amigos e feliz com sua linda família. Casado com Dona Catarina de Sena, aqui presente.
Lendo, em primeira mão, um exemplar do livro Mormaço, Calor e Chuva, ele observou, atentamente, a paisagem sertaneja, inspiradora das histórias que no livro foram contadas. Não esqueceu o perfil de cada personagem, os recortes do cotidiano, os tipos populares desta terra e os relatos das viagens que empreendi pelo mundo afora. Em linguagem culta e bem articulada, tudo disse com clareza cristalina. Texto fluente, depurado e culto, de reconhecida beleza literária.
Não tenho, praticamente, mais nada a dizer sobre o meu livro, porque o apresentador já o fez.
Somos confrades e amigos. Pertencemos à mesma Academia Letras, onde ele é muito querido e admirado.
Certa feita, li a fábula “A Janela Inacabada”, de “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”, do livro Mil e Uma Noites, obra considerada best-seller da literatura universal. Nela, há a seguinte frase do sultão, dirigida a Aladim. Faço uso dela, agora, para me referir ao Dr. Geraldo Dantas: “Quanto mais o conheço, mais me surpreende. E quanto mais me surpreende, mais o admiro.”
De coração, obrigado, Dr. Geraldo.

Retornando ao início desta conversa, diria que, não obstante estranho possa parecer, o título do livro segue a mesma linha temática dos livros anteriores: o foco voltado para o cruciante problema do sertão nordestino – a seca e a falta d’água.
A sabedoria popular sertaneja sobre o tempo está montada no tripé mormaço, calor e chuva, fenômenos meteorológicos que sempre resultam em aguaceiro, temporal ou tempestade.
Em tempo de verão pesado e de muito calor, nutre-se a esperança de surgir, de uma hora para outra, uma boa trovoada, com relâmpagos, trovão e tudo, capaz de empanzinar açudes e levar enchentes a rios e riachos, para alegria do nosso povo e para saciar a sede dos bichos de estimação.
Aprender a conviver com o fenômeno da seca é preciso. Sabe-se que, de tempos em tempos, ela está de volta, e passa a castigar o semiárido nordestino.
Nosso planeta está cada vez mais quente. As fontes naturais estão secando, riachos e rios estão morrendo. O rio Ipanema é um lamentável e triste exemplo desse desastre. O homem tem sido o principal causador desse desastre da natureza, causador do desastre ambiental.
Reportemo-nos, como triste exemplo, ao desastre de Mariana, nas Minas Gerais, a maior tragédia ambiental brasileira, que – esperamos – não faça morrer boa parte do manancial do rio Doce no estado do Espírito Santo.
O título do livro, nesta abordagem do seu começo de conversa, será a forma de expressão do rouco grito de alerta contra a extinção das matas ciliares e contra o desmatamento desordenado, até criminoso, de nossas florestas, de nossas reservas naturais.
Certa feita, alguém me disse que os títulos dos meus livros são “títulos molhados”. Na verdade, boa parte deles refere-se, como acabei de dizer, à água, à chuva, a chuvisco, à trovoada, etc.
Lembrei-me, a propósito, do poema do conterrâneo Benga, intitulado “Pingo D’água”, recentemente publicado no portal Maltanet. Em determinado verso, disse Benga que “o pingo pinga” e pinga chuva também. Anuncia chuva, chuva tão aguardada pelo nosso sertanejo! Diria eu, complementando o poema, que o pingo também pode pingar perfume. Porque gotícula de orvalho de flores em noites sertanejas é pingo d’água perfumado...
Presentes no livro estão pessoas da admiração e da estima do autor, ora com seus nomes citados, ora como personagens de algumas crônicas. No mais, o leitor encontrará figuras pitorescas, engraçadas, com suas histórias e causos.
A par das paisagens que me deslumbraram, da cultura e da história de cada lugar que visitei em viagens de turismo pelo o mundo afora, em companhia de Rosineide, não deixei de passar para o livro as impressões que delas foram recolhidas.
Sobre livro de crônicas, disse Prado Kelly: “Um livro de crônicas tem sobre os demais a vantagem de explicar-se como espelho do tempo.”
Aí está o livro Mormaço, Calor e Chuva. Que façam dele boa leitura!

Segundo Eclesiastes, há tempo para tudo. Diria que há tempo para amar e tempo para agradecer. Agora me resta o agradecer.
Primeiramente, agradeço a Deus por me ter permitido estar aqui com os senhores nesta noite festiva.
Mais uma vez, obrigado, Dr. Geraldo Dantas.
Meu especial agradecimento ao confrade José Fontes Malta Neto, jovem empreendedor e presidente da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes, pelo belo prefácio do livro e pelo apoio que me dispensou para a realização deste evento.
Convém lembrar que esta Academia de Letras vem cumprindo, com zelo, a finalidade para a qual foi criada: promover gestões para o desenvolvimento da cultura, da educação, da ciência e das artes em Santana do Ipanema.
Em assembleia ordinária há pouco realizada, soube-se da mudança da Biblioteca Pública Municipal Breno Accioly para novo endereço (a 6ª mudança que ocorre desde a sua fundação). O fato dá-nos a ideia de andar a biblioteca, coitada, de déu em déu, por Ceca e Meca!
A propósito, a Academia Santanense de Letras está estudando a possibilidade de encaminhar, via prefeitura municipal, pleito ao Ministério da Cultura, no sentido de obter recursos para a construção ou aquisição de prédio próprio, para que nossa biblioteca possa guardar, definitivamente, todo o seu acervo cultural.
A biblioteca é a casa do saber, da literatura, como o museu é a casa da história da cidade, da memória, da história dos seus antepassados. Ambas devem ser cuidadosamente zeladas e preservadas a todo custo, seja pelo poder público, seja pela comunidade santanense.
Meus agradecimentos ao presidente da Câmara de Vereadores de Santana do Ipanema, por disponibilizar este espaço para a realização deste evento cultural.
Muito obrigado à jovem e simpática professora Lúcia de Fátima, que se encarregou, voluntariamente, da venda dos meus livros.
Muito obrigado ao meu irmão Gileno pela gentileza de ter exercido, com acerto e brilho, a função de mestre de cerimônias. Também meus agradecimentos ao sobrinho Sidney. Ele, como Gileno, Laura e Malta, também se encarregou de distribuir convites para esta solenidade.
Muito obrigado, também, ao músico Dênis Marques, artista de valor desta cidade, e ao seu parceiro musical, que abrilhantaram esta festa.
Meu afetuoso abraço de agradecimento à querida Rosineide Lins, à filha Laura Maria, ao genro Dr. José Édson e ao seu sobrinho Gustavo Lins; aos meus irmãos, cunhadas, sobrinhos e amigos, que também se deslocaram de suas cidades para prestigiar esta noite de autógrafos.
Finalmente, meus agradecimentos sinceros a todos os que aqui vieram e emprestaram, de uma forma ou de outra, sua parcela de colaboração para o bom êxito deste evento.

Obrigado. Tenho dito.

(*) – Discurso pronunciado em 02/12/2015, em Santana do Ipanema, por ocasião do lançamento do livro Mormaço, Calor e Chuva.

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