MEXILHÕES DE BRUXELAS

Djalma Carvalho

Costumo dizer que viajar é um saudável exercício de entretenimento, de recreação, de lazer, tanto para quem entra em período de férias quanto para o aposentado, em especial, que deixou para traz anos de vida dedicados ao trabalho.
Agora, passado o período da pandemia do coronavírus, ou Covid-19, que obrigou a população brasileira de todos os quadrantes a ficar confinada em casa por quase dois anos, volto a pensar em viajar novamente, pelo Brasil ou pelo mundo afora.
Há pouco, ao folhear meu livro Lua, Vento e Ventania (páginas 85/88), reli, com certa saudade, os passos dados no circuito turístico europeu, iniciado em Paris e que terminou em Lisboa, passando por Amsterdã, Haia, Roterdã, Bruxelas, Bruges e Londres, realizado no período de 25/8 a 6/9/2015.
Aos 32 alagoanos do luxuoso ônibus, arregimentados por Tereza Rezende Turismo, juntaram-se mais dez brasileiros de várias partes do Brasil, revelados bons companheiros de viagem.
Antes de prosseguir com a conversa de hoje, a par do título acima, depois de rápida leitura de texto sobre mariscos e outros frutos do mar, descubro que mexilhão e sururu são moluscos bivalves, mitilídeos, sem cabeça e sem rádula (referência a dentes especiais). Em outras palavras: esses moluscos têm duas conchas (ou coberturas) simétricas que se chamam valvas. O mexilhão é um sururu bem maior, de concha de até 8cm. Segundo apreciadores de pratos de moluscos e crustáceos, o mexilhão tem sabor diferente do sururu. De minha parte, como sertanejo, não sou chegado a nenhum desse tipo de culinária.
Retornemos, então, ao assunto inicial sobre viagem.
Depois de passeio pelo centro da capital da Bélgica e da visita, por exemplo, à Gran Place, seu belíssimo cartão-postal, eis que chegamos ao hotel já bastante tarde da noite, onde pernoitamos.
No saguão do hotel, Rosineide, minha esposa, e duas amigas alagoanas lembraram-se de que estavam na capital europeia conhecida por seus restaurantes especializados em servirem mexilhões. Na recepção do hotel, gentil servidor indicou-lhes: “Sigam a pé por esta longa avenida. Ao final, dobrem à esquerda. Ao lado de uma pracinha, há um restaurante que serve mexilhões.” Sem mais conversa, decidiram enfrentar a caminhada, porém contando com minha companhia.
A avenida era realmente longa e deserta, de meter medo em todos nós. Se estivéssemos no Brasil, certamente teríamos sido assaltados. Mas chegamos ao restaurante indicado, sem nenhum problema. Em pouco tempo, lá estavam as três senhoras, à vontade, sendo servidas de mexilhões ainda ferventes levados à mesa em negros caldeirões.
Enquanto se deliciavam com os mexilhões de Bruxelas, copos de cerveja acompanhavam a refeição das turistas alagoanas, atendidas por belas e gentis jovens belgas.
De lado, a uma mesa separada, tomando taça de saboroso vinho, eu avaliava tamanha aventura das companheiras de viagem, àquelas horas da noite, senão madrugada, à procura de mexilhões, para matarem, momentaneamente, impulsivos desejos de gula.
Afinal, verá o leitor que nada mais se trata, nestas linhas de relembranças, senão de recortes de aventuras de viagem do cronista pelo mundo afora.

Maceió, janeiro de 2023.

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